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Até que ponto o produto “poesia” é respeitado no Brasil contemporâneo?

Texto produzido pela Equipe de Pesquisa e Biblioteconomia do Facetubes.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Equipe de Pesquisa e Biblioteconomia do Facetubes
01/12/2024 às 19h36
Até que ponto o produto “poesia” é respeitado no Brasil contemporâneo?
A necessidade de vender poesia traz atropelos.

Equipe de Pesquisa e Biblioteconomia do Facetubes

Ilustração: departamente de Arte (mhlai). 

 

"(...) publicar poesia é um ato de resistência cultural", Luiz Schwarcz, fundador da Companhia das Letras.

 

A crônica recente de Ana Elisa Ribeiro, intitulada “Poesia, romance e diversidade editorial”, traz à tona os desafios enfrentados pelos poetas no Brasil atual. A autora celebra o fato de cinco mulheres aparecerem como finalistas do Prêmio Jabuti 2021, na categoria poesia, todas editadas por casas independentes.

 

Tal fato, por outro lado, não aponta algo escondido nos bastidores do comercio poético. Há, ainda, muitos impasses relacionados a um gênero literário frequentemente marcado pelo desdém e pela marginalização comercial. Conforme Ribeiro observa, “quem publica poesia tem muitas experiências com o não”.

 

E por que isso? A redação do FACETUBES (www.facetubes.com.br) requisitou o Departamento de Pesquisas para estudar esse dilema, a partir do texto de Ana Elisa Ribeiro e chegou a algumas conclusões que devem ser lidas pelos nossos poetas e comentadas. Por exemplo: historicamente a poesia, apesar de ocupar um espaço singular no contexto contemporâneo, não consegue espaço singular nas prateleiras comerciais das grandes editoras. Pouco reagem às normas do mercado editorial.

 

No nível de Brasil, essa realidade se agrava devido a fatores como a baixa tiragem de livros, a concentração de mercado e a falta de políticas públicas de incentivo à leitura. Conforme aponta o poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant'Anna, "a poesia nunca foi um gênero de massa, mas atualmente vive um momento de invisibilidade preocupante".

 

Luiz Schwarcz, fundador da Companhia das Letras, corrobora essa visão ao afirmar que "publicar poesia é um ato de resistência cultural". Segundo ele, as editoras enfrentam dificuldades em investir no gênero devido à baixa demanda e ao retorno financeiro limitado, o que leva muitos poetas a buscarem alternativas independentes para divulgar suas obras.

 

Então, cabe a todo mundo questionar: qual o verdadeiro papel das editoras independentes nesse caso? A presença de cinco mulheres poetas, todas publicadas por editoras independentes, entre as finalistas do Prêmio Jabuti 2021, evidencia a importância dessas casas editoriais na promoção da diversidade e na revelação de novas vozes. As editoras independentes desempenham um papel crucial ao abrirem espaço para obras que, de outra forma, poderiam permanecer à margem do circuito literário tradicional.

 

Vender poesia é difícil?

A escritora e editora Heloísa Buarque de Hollanda destaca que "as editoras independentes são fundamentais para a renovação da literatura brasileira, especialmente na poesia, onde a inovação e a experimentação são mais presentes". Esse reconhecimento em uma premiação de prestígio como o Jabuti não apenas legitima o trabalho dessas poetas, mas também sinaliza uma abertura do campo literário para formas mais diversas e inclusivas de produção.

 

Na verdade, a afirmação de Ana Elisa Ribeiro de que “quem publica poesia tem muitas experiências com o ‘não’”, reflete a resistência enfrentada por poetas ao tentarem inserir suas obras no mercado. Essa negação se manifesta em diversas situações: desde a dificuldade em encontrar editores dispostos a publicar poesia até a limitada distribuição e visibilidade nas livrarias.

 

O poeta e ensaísta Ferreira Gullar já havia observado que "a poesia é uma arte que exige do leitor um esforço maior, um envolvimento mais profundo, o que pode afastar o público em geral". Essa percepção contribui para a compreensão dos desafios comerciais da poesia, que, por sua natureza introspectiva e experimental, muitas vezes contraria as expectativas do mercado.

 

Desta forma, é fundamental que leitores, editores e instituições culturais reconheçam o valor da poesia como expressão artística e como veículo de reflexão sobre a condição humana. Como afirma Antonio Candido, "a literatura, e em especial a poesia, é uma necessidade universal que atende a uma função humanizadora". Nesse sentido, promover a poesia é também promover a riqueza cultural e a sensibilidade crítica da sociedade.

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Notas de rodapé

Ribeiro, AE (2021). Poesia, romance e diversidade editorial . Disponível em: [link do artigo].

Sant'Anna, AR (2018). A poesia e o desafio da contemporaneidade . Revista Brasileira de Literatura, 45(2), 123-130.

Schwarcz, L. (2019). Entrevista sobre o mercado editorial brasileiro. Jornal Literário , 12(4), 22-25.

Hollanda, HB de. (2020). A importância das editoras independentes na literatura brasileira . Palestra apresentada no Congresso Nacional de Literatura.

Gullar, F. (2014). Poesia sempre: reflexões sobre a arte poética . Rio de Janeiro: Editora José Olympio.

Cândido, A. (1995). O direito à literatura . In: Vários escritos (pp. 237-250). São Paulo: Duas Cidades.

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Jaime Há 2 meses BSB/DFUm artigo, que nos leva, a uma reflexão profunda.
alcina maria silva azevedoHá 2 meses Campinas -SPPoesia é para quem tem os sentidos apurados e, aprecia o que tange o coração em seu ruído lindo das palavras.
Esmeralda CostaHá 2 meses Campos Sales-CE Realmente é um grande desafio publicar nossa arte poética, principalmente quando se trata de terra natal. O poeta inicialmente, não é bem visto em seu lugar de origem e somente depois que ele faz sucesso mundo a fora é que recebe também reconhecimento em seu torrão natal.
Socorro Guterres Há 2 meses Natal/ RNÓtimo artigo: relevante e original. Parabéns!
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