*Editoria de Arte e Cultura da Plataforma Nacional do Facetubes.
O rádio maranhense perdeu um de seus mais preciosos ícones. Faleceu em 27 de março de 2025, em São Luís (MA), aos 93 anos, José de Ribamar Elvas Ribeiro conhecido como Parafuso, um dos mais importantes nomes da história da radiodifusão no estado.
Reconhecido por sua atuação como sonoplasta nas rádios Timbira e Ribamar, Parafuso também foi um dos fundadores da Rádio Difusora AM. Seu domínio técnico era lendário: "Só ele sabia manusear aquela máquina de gravar acetato, a quente", recorda um dos colegas, referindo-se ao processo artesanal de gravação de jingles publicitários em discos de alumínio com revestimento de acetato.
A HISTÓRIA
No Brasil dos anos 1950, em meio ao apogeu do rádio como meio de comunicação e entretenimento, uma figura singela e obstinada começava uma jornada que marcaria para sempre os bastidores e microfones do “dial” nacional. Elvas Ribeiro, conhecido por todos como “Parafuso”, entrou no rádio pela porta da faxina — e saiu consagrado como um dos pilares invisíveis que sustentaram a estrutura do rádio popular.
Nascido e criado em meio às ondas sonoras da era pré-televisiva, Parafuso conheceu os estúdios não como artista ou locutor, mas como zelador de corredores, vassouras e cafés. Ainda assim, desde o início, sua atenção se voltava para os botões das mesas de sonoplastia e para os sons que moldavam a rotina da emissora. Ele não desgrudada os olhos dos profissionais que manipulavam a mágica do rádio. “Eu entrei como faxineiro, mas sempre de olho na técnica”, relembra.
O APELIDO
Na sala de aula, antes de tudo isso, um gesto brincalhão lhe deu o apelido que se tornaria sinônimo de talento. Ao sapatear em cima da mesa do professor, recebeu a sentença: “Hoje você parece um parafuso!”, dado pelo professor Luiz Rego, dono do “Colégio de São Luiz”, onde ele estudava. Pronto! O nome colou e o definiu, a partir dali. De espírito inquieto e olhos atentos, foi treinando sozinho, observando, até que o acaso e a competência o colocaram no comando da mesa de som. Em pouco tempo, já era sonoplasta.
O PROFISSIONAL
Parafuso viveu a fase de ouro da Rádio Timbira, onde seu talento como operador e programador musical floresceu. Reorganizou a discoteca, aplicou curadoria cuidadosa e plural: de samba a rumba, de MPB a internacionais — sempre com o ouvido voltado à audiência. “Fazia para agradar gregos e troianos”, diz ele com orgulho.
Mas seu olhar também é crítico. Para ele, a decadência de rádios históricas foi provocada pela infiltração política. “Rádio é para servir ao povo, não a partidos. Quando virou palanque, perdeu o rumo.” (O editor desta Plataforma, jornalista Mhario Lincoln, tem um texto sobre isso).
A Rádio Timbira, onde reinou até 1960, acabou fechando suas portas, não por falta de talento ou audiência, mas por abandono institucional. O resultado desse trabalho incrível resultou na criação de 35 prefixos musicais compostos, para abertura e fechamento de programas nas emissoras que trabalhou. “Na minha época, ter voz era essencial. Hoje, qualquer um fala ao microfone. Mas rádio, rádio de verdade, exige alma”, sentencia.
Elvas nunca abandonou o ofício: seja como operador, programador, sonoplasta ou compositor de vinhetas. Sua presença é discreta, mas sua marca permanece audível em qualquer rádio que ainda se comprometa com qualidade e paixão.
Portanto, na era dos algoritmos e podcasts, o legado de Parafuso soa como uma nota grave e firme: profissionalismo, curiosidade e amor pelo som continuam sendo insubstituíveis.
VÍDEO-BÔNUS
(Mhario Lincoln e José Salim, em entrevista inédita com José Elvas Ribeiro, o Parafuso, o sonoplasta que moldou o som do rádio maranhense).
Por: Mhario Lincoln
Na memória do rádio e da televisão maranhenses, poucos nomes ressoam com a força e a precisão sonora de Elvas Ribeiro, mais conhecido como Parafuso. Ícone da sonoplastia nordestina, Parafuso foi o responsável por dar forma e identidade aos prefixos que marcaram gerações de ouvintes e telespectadores. Há alguns anos, eu e meu amigo José Salim, outro ícone do jornalismo, fomo à casa dele e lá fizemos uma longa entrevista para a TV do Facetubes. Abaixo, fica a saudade inesquecível dele e de seus filhos que nos receberam de forma grata.
A entrevista foi ao ar em 16 de dezembro de 2013. (Algumas informações pode ser readaptadas).