ARTE EM GRANDE ESTILO
Editoria de Arte e Cultura da Plataforma Nacional do Facetubes c/Mhario Lincoln
Neste dia 3 de abril, a Galeria Trapiche, em São Luís (MA), será palco do lançamento do livro 'História de Amor em Versos e Pétalas'.
A obra, de profunda carga emocional, vem recebendo elogios de expoentes da cena literária. O poeta Mhario Lincoln, presidente da Academia Poética Brasileira, destaca a sinceridade introspectiva nos versos de Francisca Santos, apontando trechos marcantes em que a autora reflete sobre a passagem do tempo e os ciclos da existência humana.
Lincoln traça paralelos entre a poesia de Francisca e princípios da filosofia estóica – que enxerga “a vida e a morte como partes de ciclos naturais” a serem aceitos sem temor – além de evocar pensadores do século XX voltados à interiorização do ser. Ele observa, por exemplo, que a jornada interior proposta em alguns poemas guarda afinidade com a máxima junguiana de que “quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”, enfatizando o convite à auto-reflexão presente no livro.
Abaixo, diz o jornalista e poeta Mhario LIncoln:
"(...) É um trabalho, quase catarse, onde a autora consegue deslimitar seus anseios, amores, espectativas, sonhos, esperanças e dar significado eficiente à vida humana. Li o livro inteiro. Mas algumas colocações me deixaram muito inquieto, querendo analisar mais à fundo o que realmente Francisca dos Santos quis dizer com o que escreveu. Sim. Porque ninguém escreve por acaso. Pelo menos as grandes poetas sentem lá no âmago um tisunami de sensações para, ao depois, colocarem no papel esses sentimentos. Fiquei tenso, em algumas partes desse livro. Mas para desvendar alguns mistérios neles embutidos, como por exemplo:
"Quem diria que uma foto traria uma vida de volta!!!
Foi num inverno que veio à tona, um sionho que surgia no outono...
Depois de tantas primaveras!!!! (...)".
É incrível como ela, de forma simples, mas simbioticamente de forma profunda, consegue conectar tempo, espaço e ritmo a uma passagem de tempo, dando imensa significância ao todo; 'mirabile dictu'. Em outra página ela escreve:
Começo, meio e fim é bem assim...
É uma formação de completude, não tem abaixo nem acima.
Quem começa sempre termina (...)".
Um ciclo de vida? O que filósofos estóicos falam sobre isso? O que falam sobre esse ciclo de vida: começo meio e fim? Em que influencia na vida humana? Mais na frente, algo inusitado:
"Entrar para dentro de si é a arte de ver a si, assim como é..."
AS ILUSTRAÇÕES E O CONTEXTO: Com relação às ilustrações, apesar da tentiva de acompanhar o raciocínio da poética, elas extrapolam. Quem observar direitinho a interdependência entre a criação do 'drawing', vai notar que há rumores gráficos que ajudam e intercalam ao significado poético de Francisca dos Santos. Isso me causou muita liberdade para falar sobre. Por exemplo: no poema "Calar ou Falar", a poeta diz: "O silêncio fala mais do que palavras". Quase óbvia, não fosse o diálogo interior, quase uma marca digital, na interpretação direta. Porque logo na página seguinte, um desenho de Edymar (intercalado entre as páginas 35 (do verso) e de outro poema "Círculo", dá ideia de continuidade; isto é, interrelacionamento não causual. Ou seja, o mesmo cículo do "começo, meio e fim..", sucede o 'sliêncio'. Quem prestar bem atenção vai ver a sequência lógica do desenho (até então despretencioso). Do lado esquerdo, circulos sobrepostas (quase um coração) unindo duas pessoas. Mas, do lado direito, o infinito. O Universo infinito, onde o silêncio pode significar hipoteticamente, muito do que os poemas (ambos) dizem. Incrível essa percepção, pois a mim me remeteu ao 'I Ching', da filosofia chinesa, que criou o conceito de 'Yin' e 'Yang', que representa o positivo e o negativo. Isto é, as duas produções líricas se completam ao desenho porque o positivo não vive sem o negativo e vice e versa. Essas percepções fazem dessa obra, algo muito interessante. Por isso, vale, sim, aplausos às pessoas envolvidas. (...)".
Assim, 'História de Amor em Versos e Pétalas' evoca um caráter polissêmico e multidimensional, em que cada poema abraça uma pluralidade de sentidos que se complementam. Essa riqueza de significados ganha ainda mais força através do diálogo com as imagens: texto e ilustração se fundem para ampliar a experiência estética do leitor. Um exemplo desse entrelaçamento é o poema “Calar ou Falar”, acompanhado de uma sequência visual criada por Edynar Santos que remete à dualidade do Yin-Yang. Nas páginas, silêncio e palavra, escuridão e luz contrastam e ao mesmo tempo se equilibram, como na filosofia oriental em que os opostos fluem um no outro e cada força carrega a semente da outra – referência direta ao I Ching chinês, evocando a ideia de que momentos de recolhimento e de expressão fazem parte de um mesmo ciclo harmonioso da vida.
Portanto, com todos esses ingredientes, 'História de Amor em Versos e Pétalas' desponta não apenas como um livro, mas como uma experiência cultural completa – um diálogo entre palavra e imagem, razão e emoção, intimismo e compartilhamento. A profundidade poética de Francisca Ferreira dos Santos, realçada pelas ilustrações de Edynar Santos, convida o leitor a sentir e a pensar junto com a autora. Essa iniciativa maranhense exemplifica como a literatura pode florescer quando cultivada em solo fértil de colaborações artísticas e reflexões universais.
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Referências:
Lincoln, Mhario. “Resenha de História de Amor em Versos e Pétalas”. Academia Poética Brasileira, 2024.
Marco Aurélio. Meditações. Traduções contemporâneas.
Jung, Carl Gustav. Memórias, Sonhos, Reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2006.
Legge, James. I Ching: O Livro das Mutações. Penguin Classics, 2011.
Littke, Ammie-Marie. “Ways to Promote Poetry in the Digital Age”. Poetry Foundation, 2023.
Cultura.MA.gov.br. “Galeria Trapiche abre exposição com ilustrações de livro da poeta Francisca Santos”, 2025.