*Departamento de Biblioteconomia da Plataforma Nacional do Facetubes, com Mhario Lincoln
Segundo a editoria de Biblioteconomia e Pesquisa da Plataforma Nacional do Facetubes, com supervisão do jornalista Mhario Lincoln, e baseando-se em análises de livreiros brasileiros, autores consagrados e consultores literários internacionais como Jane Friedman, muitos escritores fracassam no mercado editorial "por não tratarem o processo de publicação como um verdadeiro negócio".
A primeira grande armadilha está na crença de que "basta finalizar o texto e esperar que ele se venda sozinho, sem qualquer plano de divulgação ou estratégia bem estruturada", diz Jane Friedman. Quem lida diariamente com lançamentos, como as grandes livrarias, aponta outra causa: a falta de revisão profissional não apenas prejudica a qualidade do livro, mas também mancha a reputação do autor desde o primeiro instante. Outro problema recorrente é a produção de capas pouco atraentes (e feita por familiares ou amigos, sem nenhuma profissionalidade), capazes de afastar leitores antes mesmo de conhecerem a proposta do enredo.
No Brasil, essas dificuldades muitas vezes se agravam por falta de conhecimento das dinâmicas regionais: "a má distribuição deixa certas localidades completamente de fora, enquanto o autor, às vezes, ignora pautas locais que poderiam despertar o interesse de novos leitores". Editores nacionais, como Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, reforçam que muitos autores "não conseguem definir claramente o gênero de sua obra, o que gera desconfiança e impede a formação de uma base de leitores fiéis".
Em mercados maiores, como o norte-americano, a identificação exata do nicho e o investimento em marketing literário fazem toda a diferença, apontam publicações como a Publishers Weekly. Por isso quando o leitor chega nas livrarias brasileiras, há centenas de títulos 'importados', resultante desse trabalho incessante de autores e livreiros em cima das obras. O que adianta ter os livros em estoque, aqui no Brasil ou em livrarias regionais, se não há um trabalho de marketing intenso? Hoje, só o nome não vende mais. Alguns deles passaram por muitas dificuldades.
Paulo Coelho, por exemplo, quase viu “O Alquimista” desaparecer depois de vender apenas 900 exemplares em um ano, situação que ele atribuiu a falhas na promoção e ao desinteresse inicial das editoras em bancar um autor sem networking consolidado. Hoje, o sucesso global do livro é usado como prova de que estratégias de mercado e parcerias apropriadas podem reverter um começo problemático.
Nas pesquisas, se encontrou um dos erros mais graves que os autores cometem: ignorar os anseios do público. Livros que não dialogam com as tendências e debates "em voga" acabam condenados ao fracasso. E, nesse ponto, o contexto brasileiro reforça a urgência de conhecer não apenas o macrocenário, mas também as particularidades de cada região, adaptando a temática e a abordagem para conversar melhor com potenciais leitores.
Por outro lado, erram aqueles autores que pensam ser o lançamento de um livro, um ponto final. Pelo contrário, o lançamento é (obrigatoriamente), o início de um trabalho que inclui networking, participação em eventos literários, presença ativa nas redes sociais e cultivo de parcerias estratégicas com blogueiros ou influenciadores. Sem esses cuidados, o título se perde na multidão e não consegue encontrar seu público-alvo, caindo no esquecimento.
Há, porém, maneiras de evitar as armadilhas mais comuns. Revisores e designers profissionais estão entre as recomendações iniciais, seguidos por um planejamento sólido de pré e pós-lançamento, com campanhas de divulgação que contemplem desde anúncios segmentados até interações frequentes nas redes sociais.
Ler obras de orientação, como “The Business of Being a Writer”, de Jane Friedman, (ela é excelente nesse nicho e todo autor precisa aprender isso para compreender práticas eficazes de autopromoção e a valorizar o relacionamento contínuo com a audiência. Esse conjunto de estratégias, apoiado pela construção de mailing lists, reforça a importância de manter o público cativo e bem-informado, seja por meio de newsletters, participação em feiras literárias ou feiras regionais. Na avaliação de livreiros, editores e do próprio Paulo Coelho, a pressa em publicar, "sem antes testar a receptividade, refinar o texto e mapear o público-alvo, transforma o que poderia ser uma obra de destaque em um projeto fadado a desaparecer na multidão de lançamentos mensais", confirma PC.
Em síntese, a soma desses erros — falta de planejamento, revisão descuidada, capa fraca (por favor evitem convidar uma amiga, um parente, alguém não profissional), pouco esforço de marketing e incapacidade de dialogar com o público e as tendências — "condena muitos livros a jamais alcançarem uma boa performance", diz a especialista Jane Friedman.
A realidade negativa aqui no Brasil ainda é potencializada pelas dificuldades de distribuição e de segmentação de mercado, que exigem do autor não apenas criatividade na escrita, mas também visão de empreendedor. Ao tratar o livro como um produto com um ciclo de vida que demanda cuidados constantes, o escritor aumenta consideravelmente suas chances de êxito. Isto é, não adiante uma grande livraria cheia de centenas de livro, se eles vão permanecer em cima das prateleiras, como produtos esquecidos, sem nenhum estímulo para a venda (promoções, marketing, networking, palestras, amostragens diárias, oficinas de discussões sobre o livro/tema etc).
Bom repensar o tema dos livros, a maneira como autor vislumbra o trabalho (como produto, mesmo), as livrarias regionais (investirem em mostrar o produto) e os temas a serem desenvolvidos nos livros, antes que percam o bonde da história.