*Mhario Lincoln
Acabando de ler um livro interessante. “Histórias de Ciúme Patológico/Identificação e Tratamento", de Geraldo José Ballone. Interessante porque mostra muitas vertentes desse ciúme excessivo, em todas - eu estou afirmando (todas) - as atividades que envolvam uma ou mais pessoas, parceiros amorosos ou colegas de trabalho ou amigos ou colegas ou integrantes de um grupo ou, ainda, um ciúme de objetos, valores etc.
É incrível como em (todas) as atividades humanas o ciúme excessivo é explícito. As pessoas passam por isso, sentem isso, julgam isso, reclamam disso e, infelizmente, não buscam uma maneira correta de se autoblindarem contra a esse mal.
Ainda não terminei de ler o livro. Mas até onde li, tirei as seguintes conclusões, com base nesse parágrafo que destaquei:
"Qualquer que seja a origem do ciúme excessivo, ele é fundamentamentalmente egoísta. O que mascara o aspecto possessivo e egóico do ciúme excessivo é pensar que ele existe em nome do amor ou de alguma preocupação com o bem-estar da outra pessoa. Aquilo que a pessoa ciumenta alega ser melhor para seu par, de fato é melhor para si mesmo. Na realidade, as atitudes da pessoa ciumenta se baseiam em sua própria conveniência, em seu conforto emocional e visam, ao contrário do falso discurso, proteger a própria pessoa ciumenta de futuras preocupações, independentemente do bem-estar do outro". Geraldo José Ballone.
Até aqui posso tentar dizer que o ciúme excessivo, é insegurança e egoísmo. E isso fica disfarçado quando a resposta é que esse ciúme é somente, "preocupação pelo bem-estar do parceiro". Não, não é”. No fundo, quem sente esse tipo de ciúmes já teve experiências passadas dolorosas, e isso levou a pessoa a desenvolver baixa autoestima e medo de ser abandonada. Então, à princípio, o que Ballone diz é: "(...) reconhecer que o ciúme é mais sobre as próprias inseguranças do que sobre o comportamento do parceiro é o primeiro passo para melhorar essa dor".
Também li sobre a possibilidade de o ciúme (olha a doideira aí), ser "fundamental para a busca do autoconhecimento e cuidado pessoal". Aí entra um assunto interessante: terapias! São várias. Eu, por exemplo, já fiz. Confesso: tinha ciúmes de algumas coisas não relacionadas a minha convivência pessoal, mas com determinados momentos e determinadas ações que eu tomava dentro dos locais de trabalho.
Tive ciúmes de colegas - por apresentarem uma dinâmica maior que a minha. Todavia, alguém sugeriu terapia e eu fiz. Optei por fazer, naquela época, algo próximo à psicanálise aplicada, abordagem que se baseia em aplicar o método psicanalítico fora do contexto clínico tradicional.
Aí vem um pouco de Freud para ilustrar isso. Um amigo poeta me sugeriu a 'psicanálise aplicada', porque Freud, mesmo nunca tendo conceituado esse termo de forma explícita, utilizava esse método para analisar outras áreas da produção humana além da clínica. Por exemplo, Freud aplicava o método psicanalítico para entender obras de arte, a cultura, a sociedade e o funcionamento psíquico do ser humano.
Contudo, hoje em dia, tem outro método mais moderno, que eu também fiz e achei sensacional, porque diminuiu de forma significativa algumas complicações pessoais e intransferíveis e me deu coragem suficiente de ‘pedir desculpas’, quando estou errado ou entender a forma como o outro se comporta diante de uma atitude minha que não agrade a outrem. Esse tipo de terapia se chama "Constelação" .
À grosso modo, a terapia de Constelação Familiar, criada por Bert Hellinger, se baseia em princípios fundamentais que ajudam a compreender e resolver conflitos familiares e interiores. Por isso, aproveito para mostrar os seis dos principais fundamentos dessa terapia que ganhou o mundo e é uma das mais requeridas hoje em dia.
São eles. Campo Familiar: existe um campo familiar que registra todo o conhecimento e ações praticados no seio da família. Esse campo influencia nossas vidas de maneira profunda. Fluxo: o campo familiar é regido por um fluxo, que é conduzido por nós. Nossas escolhas e comportamentos afetam esse fluxo. Influência: nossa árvore genealógica é composta por teias emaranhadas, unidas por padrões de comportamento. Esses padrões afetam nossa vida atual. Pertencimento: sentir-se parte da família e honrar nossos antepassados é essencial para o equilíbrio sistêmico. Equilíbrio: a Constelação busca restabelecer o equilíbrio entre dar e receber, amor e lealdade; e Ordem: a ordem na família é crucial. Respeitar a hierarquia e os papéis de cada membro contribui para a harmonia.
Assim, qualquer tipo de terapia que venha a ajudar a melhorar o comportamento "do ciúme excessivo e de atitudes egoístas" pode derrubar com um mito dos mais combatidos. O tal de - "eu sou assim e quem quiser que me queira assim". Tal pensamento além de ser uma esdrúxula prova de egoísmo doentio, de não dar oportunidade a outra pessoa adaptar-se ou tentar se aproximar mais (confidencialmente ou mais intimamente), é algo que hoje é a pauta dos grandes eventos terapêuticos.
(Até essa parte, me empolguei tanto com o livro de Ballone que pesquisei ainda mais sobre terapias, com pertinência a frase "eu sou assim...". Logo convidei para a mesma mesa, Frank M. Dattilio, uma das principais autoridades mundiais em terapia cognitivo-comportamental, cujo livro aplaudido pela crítica especializada chama-se “Manual de Terapia Cognitivo-Comportamental para Casais e Famílias", onde explora maneiras eficazes de identificar e modificar pensamentos automáticos, reestruturar esquemas disfuncionais e melhorar a comunicação e a resolução de problemas.
É essa "terapia cognitivo-comportamental", que ajuda a identificar e questionar pensamentos irracionais, promovendo uma autoestima mais saudável.
Portanto, de volta a origem, o livro de Ballone (até onde li), estou praticamente convencido que posso ainda mais melhorar meus relacionamentos com um detalhe muito especial: "criar um espaço seguro onde ambos os parceiros possam expressar seus sentimentos e necessidades de maneira aberta e honesta".
Por outro lado, não estou aqui afirmando que não deva fluir o ciúme. Claro e evidente que ele existe e é um fato! Todavia, este texto que ora escrevo, diz respeito único e exclusivamente ao "ciúme excessivo" ou "ciúme doentio". Destarte, eu mesmo me questiono: pode se viver e conviver com o ciúme de maneira saudável? Saudável????
Sendo saudável, é importante reconhecer que pequenas doses de ciúme são naturais e podem até demonstrar interesse pelo parceiro é importante? A resposta pode estar no "Equilíbrio Emocional". Aí é novo texto, porque acabo de comprar um outro livro que provavelmente lerei neste final de semana: “A Voz na sua Cabeça” de Ethan Kross. No livro, o autor explora como controlar nossos ciúmes, advindos de pensamentos internos e usá-los a nosso favor, além, de oferecer estratégias práticas para lidar com ‘a voz interior’, que muitas vezes nos causa ansiedade e preocupação.
Um grande abraço, obrigado por ler até aqui!
Mhario Lincoln
Presidente da Academia Poética Brasileira.
Mín. 17° Máx. 24°