Por Renata Barcellos (BarcellArtes)
No ano de Bicentenário de Gonçalves Dias, eu e Campos Filho (meu esposo) fomos a Caxias. Para nossa surpresa, soubemos da existência do Memorial da Balaiada. Em um fim de tarde, fomos conhecê-lo. Lindo espaço, bom acervo e a diretora muito entusiasta e atenciosa. Fez uma bela visita guiada conosco. Cabe relembrarmos que, neste contexto histórico, a madrasta do poeta escreve-lhe uma carta solicitando o seu retorno ao Brasil.
Segundo a historiadora Elizabeth Sousa Abrantes (professora Associada do Departamento de História, da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA), a Balaiada foi a maior revolta social ocorrida no Maranhão, envolveu milhares de sertanejos em uma extensão territorial que se estendeu da banda Oriental até a região de Pastos-Bons, no centro-sul da província. As causas imediatas da eclosão da revolta foram as medidas arbitrárias do governo cabano, as quais visavam enfraquecer os opositores e manter o controle das camadas populares, por meio da Lei dos Prefeitos e do recrutamento forçado, mas, suas raízes mais profundas estão relacionadas a exclusão social, o preconceito racial e a estrutura latifundiária excludente. O estopim da revolta foi a invasão de uma cadeia na Vila da Manga (atual município de Nina Rodrigues), em 13 de dezembro de 1838, para libertar vaqueiros que haviam sido presos de maneira arbitrária. Em seguida a este ato, o vaqueiro Raimundo Gomes Vieira apresentou um manifesto com reivindicações políticas, o que transformou sua ação em uma luta social, a qual foram se unindo centenas de sertanejos, com destaque para mais dois grandes líderes populares,Manoel Francisco Ferreira dos Anjos, o Balaio, e o negro Cosme, que liderou cerca de 3 mil escravos.
Após dois anos de luta, a revolta foi derrota pelas forças do governo, que enviou para o Maranhão o coronel Luís Alves de Lima, futuro Duque de Caxias. Desde então, a revolta tem sido tratada pela versão oficial como uma luta criminosa, motivada pela pilhagem, e tem havido uma tentativa de apagamento de sua memória. Por outro lado, na memória popular, especialmente nas regiões onde ocorreu o conflito, sobrevive até hoje
uma memória positiva da luta dos sertanejos, denominada de “guerra dos Bem-te-vis”.
No ensino de história, a Balaiada tem sido apresentada com regularidade nos livros didáticos, mas de maneira superficial. Os primeiros manuais didáticos criticaram a revolta, reprovando as ações dos balaios e suas motivações para a entrada no conflito, com seus líderes sedo tratados como desordeiros. Nas versões revisionistas, a Balaiada vem sendo reabilitada, mas ainda continua ocupando um pequeno espaço nos livros didáticos. Nos vestibulares para acesso ao ensino superior no Maranhão, a Balaiada foi
sempre um tema recorrente, embora atualmente só conste no vestibular da Universidade Estadual do Maranhão, em razão do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que retirou os conteúdos da história local de suas provas nacionais. Estudar a revolta da Balaiada, que foi uma verdadeira guerra civil ocorrida no contexto de construção da ordem imperial brasileira, é fundamental para entender as lutas do povo maranhense por cidadania e justiça social.
A partir dessa breve contextualização deste fato histórico, a seguir, uma breve entrevista com a diretora do Memorial da Balaiada, Mercilene Barbosa Torres (professora Especialista em História do Brasil e em Teoria da História-CESC-UEMA, especializando em Avaliação e Currículo-Campus UEMA, funcionária público municipal efetiva, diretora do Memorial da Balaiada em Caxias-MA, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias-IHGC, membro da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão-ASLEAMA e membro do Rotary Club de Caxias).
1-Como e quando assumiu a direção do Memorial? Desde quando este espaço existe?
Mercilene Barbosa Torres: O Memorial da Balaiada foi inaugurado em 26 de junho de 2004. Pensado por professores e construído ao lado do antigo quartel, abrigou as tropas legalistas do Norte, conhecido, hoje, como Ruínas do Quartel da Balaiada. Assumi a direção do Memorial da Balaiada, em abril de 2012.
2-Hoje, infelizmente, muitos fatos históricos não são mais abordados nas escolas. A Balaiada é estudada ainda hoje?
Mercilene Barbosa Torres: A Balaiada é estudada em nossas escolas. O Maranhão foi marcado pela Guerra da Balaiada, necessário se faz conhecer a história desses heróis balaios, que por muitos e muitos anos ficaram à margem da história. O Memorial da Balaiada em Caxias recebe alunos 3 pesquisadores de todo o Brasil. Visitas do estrangeiro ocorrem sempre. O objetivo maior é manter viva a história do nosso povo. Preservar, resguardar e divulgar a Guerra da Balaiada. O acervo de mais de 350 peças, retrata a história desses heróis e da cidade de Caxias.
3- Qual mensagem deixaria para nossa juventude acerca da conscientização para os diversos fatos históricos?
Mercilene Barbosa Torres: A juventude precisa conhecer as histórias ocorridas no nosso país, e procurar visitar museus, ter acesso a arquivos, e buscar ler, estudar as referências bibliográficas, para assim ficar a par dos fatos históricos. A história (muitas vezes) foi e é contada pelo olhar daqueles que não deixam aparecer a verdade ocorrida. A Balaiada (por muito tempo) apresentou um herói: o Duque de Caxias, e onde estavam o Balaio, o Cara Preta, o Negro Cosme, O Lívio Lopes Castelo Branco, O Mulungueta, O Gitirana...? Os verdadeiros heróis. Endereço do Memorial da Balaiada: Av. General Sampaio, 297-339 - Cangalheiro, Caxias – MA -Vale a pena conferir.