Dia 20 de junho, no auditório da SALF (Soberana Assembleia Federal Legislativa - responsável por decisões importantes para a ordem maçônica), no Grande Oriente do Brasil, em Brasília, ocorreu o lançamento do ebook gratuito de Poesia Visual com poetas de expressão de Língua Portuguesa. Especificamente, com brasilienses e maranhense.
Com organização das cunhadas Maria de Fátima Carvalho (Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul Corrente da Fraternidade/ Teresina/Piauí) e de Elaine Alburquerque (diretora social cultural da Frafem Nacional), reunimos cunhados, cunhadas e poetas visuais de Brasília (Celina Cassal Josetti, Helder D’Araújo, Luiz Reis e M.iqueli) e de São Luís (Sharlene Serra) para um bate-papo sobre a produção de cada um. E, ao final, uma confraternização, entre os presentes. Houve troca de livros... Fica o agradecimento às cunhadas pela organização, aos que assistiram e aos poetas participantes. Gratidão!!! A ideia do projeto é difundir esta vertente literária e os poetas visuais contemporâneos. Pela interação ao longo do encontro, foi bem produtivo. Salve!!!!
Vale ressaltarmos uma síntese da Poesia Visual. Vejamos: em meio a uma efervescência de descobertas no mundo como: Psicanálise, Teoria da Relatividade, vanguardas artísticas, criação da Publicidade, avanço do Cinema, dentre outros, após a Semana de Arte Moderna de 1922 (momento de ruptura com padrões estéticos ainda vigentes, tentativa de autonomia literária e linguística do Brasil), eis que surgem novos experimentos na área de linguagem e agregam uma cartografia em movimento: a Poesia Visual. Segundo Philadelpho Menezes (1975), ela passa a ser uma forma central da poesia de todas as vanguardas de nosso século. É entendida como o conjunto inumerável de composições poéticas (pré) dominantemente visuais criadas desde a Antiguidade greco-latina, passando pela Idade Média, pelo Renascimento, pelo Barroco, pelo Modernismo, até os dias atuais.
Poesia Visual remonta a expressão italiana que, por volta de 1960, designava experimentações verbo-visuais. Há uma acepção de experiência artística de vanguarda, remetendo ao período modernista do final do século XIX e início do XX, conforme explica Philadelpho Menezes (ibid p.14). Entretanto, ele é mais específico: refere-se a um fenômeno poético do século XX, no qual o cruzamento das linguagens é decorrência direta do panorama visual das grandes cidades e dos meios de comunicação de massa.
No Brasil, a expressão “Poesia Visual” é (muitas vezes) empregada para se referir à produção situada a partir de 1970, caracterizada pela incorporação indiscriminada de imagens gráficas no interior do poema, ao extremo de se efetuar a desaparição da palavra. Portanto, um tipo de experiência visual distinta das concretistas e neoconcretistas, mais relacionada ao Poema Processo (MENEZES, 1991). Dessa forma, o poeta adota uma técnica e, através do fazer poético, descobre novas fronteiras no campo literário. E, por sua vez, o leitor é convidado a praticar o exercício do olhar e ver para captar a imagem retroprojetada.
A Poesia Visual visa trabalhar as características plásticas da escrita ressaltando os valores visuais, espaciais, considerando-a como uma mancha gráfica, um desenho, uma relação de figura-fundo na página. Segundo E. M. de Melo e Castro (1993), no aspecto visual, o signo interpretante é especificamente sincrônico, compacto, sintético, espacial, concreto. A poesia não só como símbolos representativos de uma sonoridade anterior à própria escrita, mas sim como uma escrita tácita na qual por si mesma já é forma carregada de sentido. A página não mais considerada como um acúmulo de letras, mas um suporte espacial ativo, como a tela de uma pintura.
A partir dos anos 70, a Poesia Visual, elaborada basicamente por meio gráfico (livro, cartaz e gravura), busca novos meios de suporte. Surgem assim os primeiros poemas performances e exposições. Segundo o poeta português Fernando Aguiar (1985), os poemas visuais possuem uma série de componentes que podem ser explorados esteticamente. Conceitos como o tempo, o espaço, o movimento/ação, a tridimensionalidade, a cor, o som, o cheiro, a luz e, principalmente, a presença do poeta como detonador e fator de consecução do poema.
Cabe destacar ainda que, de acordo com Melo e Castro (1993), a Poesia Visual é representada de forma expressiva quatro vezes na história da arte ocidental: durante o período alexandrino, na renascença carolíngea, no período barroco e no século XX. Pode observar-se ainda que cada um desses se relaciona-se com o fim de um período histórico e começo de uma nova época. Ela data de Em 300 anos a.C, na Alexandria, as tecnofanias de Sírnias de Rodes constituem os primeiros poemas visuais conhecidos. São elas: “O Ovo”, “O Machado” e “As Asas”. Estes poemas eram uma espécie de Caligrama, cuja definição é «texto (ger. um poema) cujas linhas ou caracteres gráficos formam uma figura relacionada com o conteúdo ou a mensagem do texto» (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
Quando abordamos nossa prática pedagógica em relação a esta vertente, o processo da retextualização, a cunhada Professora Ludymila Hermógenes (de Uberlândia MG), no momento da confraternização, declarou que este gênero literário “contribui de forma significativa para o desenvolvimento das crianças nos anos iniciais do ensino fundamental, pois desperta o interesse pela leitura e escrita de maneira lúdica e criativa. Em minha prática em sala de aula, percebo que esse recurso estimula a imaginação, facilita a interpretação de textos e promove a leitura de imagens, ampliando a compreensão e o envolvimento dos alunos. Além disso, a poesia visual torna o aprendizado mais dinâmico e acessível, fortalecendo o vínculo das crianças com a linguagem e a arte”.
A poeta visual M. M.iqueli (Graduação em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília,
escritora, artista visual, artesã, psicóloga, contadora de histórias, oficineira e web designer) destacou que, para compor este e-book, ocorreu algo que “Jung chamaria de sincronicidade. O Luiz, poeta e curador da Primeira Exposição de Poesia Visual do DF me convidou para participar e, na primeira semana em que a exposição ocorreu, a Renata a visitou e entrou em contato comigo para que eu participasse do e-book. Só que, ao contrário dos meus colegas poetas, minha formação é em Psicologia. Mas desde muito nova, algo de artista já pulsava em mim. Eu sentia uma necessidade, um desejo de saber desenhar ou tocar algum instrumento que permitisse tirar de mim, expressar, tudo que eu sentia, mas eu não sei desenhar ou tocar. Até que descobri que eu poderia escrever. Minha psicóloga disse pra mim um dia, que eu sou uma artista que, por acaso, se tornou psicóloga. Do ponto de vista da psicologia, a palavra tem um forte poder simbólico e expressivo, pois consegue evocar em nós sensações, memórias e sentimentos com significados particulares, subjetivos, mesmo que o objeto real não esteja presente. A poesia visual veio como essa fusão perfeita pra mim, entre palavras e imagens. Ela interage com a pessoa que a lê/vê. É uma conversa, uma troca entre almas, onde uma pessoa dá vida ao seu universo interior através da poesia visual criada e um fenômeno ocorre ao entrar em contato com a outra que lê, algo que Freud chamava de projeção”. Viva a Poesia Visual e a Psicologia!!!!
Um outro aspecto abordado foi o impacto desta modalidade poética nos alunos autistas. Enquanto professora da Educação Básica à Superior, sempre, constatamos como esta vertente literária motiva este tipo de alunado. Isso porque esta vertente pode ser uma ferramenta valiosa para pessoas com autismo, tanto na criação artística quanto na comunicação e compreensão do mundo. Assim, pode ser utilizada como ferramenta educacional para ensinar conceitos, vocabulário e habilidades de leitura e escrita, de forma mais lúdica e acessível. Em particular, pode ser uma ponte entre o mundo interno do indivíduo autista e o mundo externo, promovendo a inclusão e a compreensão. De acordo com Sharlene Serra (@sharlenelserra). Idealizadora do projeto Geração de escritores, a poesia visual é “uma forma de arte por unir palavras e imagens, onde a disposição gráfica do texto (formas, cores, espaçamento) é tão importante quanto o significado das palavras. Ela prende atenção dos autistas mediante o hiperfoco que ele possui e pela outras formas de linguagem que o poema apresenta. Essa forma de arte pode ser especialmente atraente porque, muitos autistas têm forte percepção visual e atenção a detalhes, podemos dizer que eles tem um processamento visual diferenciado, outro detalhe a ser considerado é sobre a comunicação alternativa ( refere-se a estratégias, ferramentas e técnicas que auxiliam pessoas com dificuldades na fala ou na linguagem verbal a se expressarem e interagirem. Ela é essencial para indivíduos com autismo, paralisia cerebral, síndromes genéticas e outras condições que afetam a comunicação), e a poesia visual permite essa associação por não se prender a linguagem verbal , além disso, destaco que a poesia visual possui para os Autistas uma linguagem intuitiva que possibilita maior liberdade de significados, diferente da poesia tradicional que muitas vezes vem repleta de metáforas, onde o autista não consegue alcançar um maior entendimento”.
Também Sharlene Serra divulgou a sua Coleção Incluir, composta por estes 05 livros cuja proposta é de crianças sem deficiência conhecerem e aprenderem a conviver com as diferenças: OLHANDO COM RITINHA: abordagem para a DEFICIÊNCIA VISUAL. OUVINDO COM VITÓRIA: abordagem para a DEFICIÊNCIA AUDITIVA. CAMINHANDO COM PAULO: abordagem para DEFICIÊNCIA FÍSICA. APRENDENDO COM BIEL: abordagem sobre DEFICIÊNCIA INTELECTUAL. E INTERAGINDO COM LUCAS - abordagem sobre AUTISMO (TEA). Devido a sua luta em prol de uma literatura inclusiva, 06 de abril é o Dia Municipal da Literatura Inclusiva. Instituído pela Lei nº 6.398/2018, de autoria da vereadora Concita Pinto. Segundo Sharlene Serra, esta data “celebra não apenas o pioneirismo na literatura inclusiva em São Luís do Maranhão, mas também reforça a importância da acessibilidade atitudinal na literatura — quebrando barreiras e promovendo empatia, representatividade e inclusão. Mais do que adaptar textos, a literatura inclusiva transforma vidas, convidando a sociedade a enxergar o outro nas suas mais diversas condições. Uma homenagem para evidenciar através da literatura que todas as vozes merecem ser lidas, ouvidas e valorizadas”. Viva a literatura inclusiva!!!
Vamos finalizar com definições de Poesia Visual de alguns poetas brasilienses presentes no bate-papo:
“Despojada dos lastros canônicos do lirismo tradicional, a poesia visual con segue a proeza de ideogramizar um alfabeto como o latino. Ao empregar procedimentos lúdicos em que escrita e ilustração imbricam-se estreitamente, promove, assim, efeitos de sentido importantes e desafiadores ao leitor” (Celina Cassal Josetti: mestra em Literatura e doutora em Educação pela Universidade de Brasília, escritora e poeta).
“O poeta visual dá ouvidos aos sem-número de aplicações do signo registrado na história da literatura e, como Constan t ino, que fez uso do monograma, cria sua arte. Rim baud viu cores em vogais. No sistema de comuni cação da Cabalá (espiritualidade mística judaica) as letras têm equivalência numérica. É sob este signo que o poeta visual vence” (Helder D’Araújo: poeta, contista e livreiro).
“A Poesia Visual ainda não se concretizou em uma essência única e unívoca. Ela se materializa em diferentes possibili dades e configurações. Nesta pluralidade é possível observar algumas cristalizações instáveis. A conjun ção imagem e palavra é estabelecida, seja em forma gráfica (e aí a computação diz muito do que pode surgir) ou em formatos manuais. Os limites entre palavra e imagem também flertam numa ambigui dade, ora ambas se fundem e ora dialogam. Vejo a Poesia Visual como um espaço aberto. Na minha produção pessoal trabalho com escritos manuais com garatujas e símbolos. O contato com o papel em branco é o ponto de partida a partir do qual o poema será gestado numa irrupção radical em que o imprevisível e o descontrole aparecem constantemente. Desta forma, a Poesia Visual é também física e corpórea” (Luiz Reis: poeta, artista visual, idealizador e diretor do projeto Palavras Imagéticas).
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