Seção: Dicas para a Criação de uma Prosa Forte e de Sucesso
Convidado: Mr. Whitte Sullivan
Na construção de uma boa narrativa ficcional, poucos elementos tão vitais quanto personagens complexos. São eles que respiram nas entrelinhas, que conduzem o leitor por um universo crível e pulsante. Lê-los é um prazer, criá-los, um desafio. Como dar três dimensões a um ser inventado? Como torná-lo inesquecível?
Conhecer profundamente um personagem é uma das tarefas mais prazerosas e fundamentais na jornada criativa de quem escreve ficção. É onde muitos autores começam e para onde voltam quando a trama emperra. Quando se conhece bem uma personagem, seu diálogo flui com naturalidade, suas escolhas impulsionam a história com autenticidade e o enredo ganha consistência.
Quanto mais reais os personagens parecerem ao autor, mais orgânico será o processo de escrita. A chave está em descobrir o que realmente importa para eles. Suas motivações, paixões, medos, traumas e convicções devem ser construídos com cuidado. Personagens não nascem prontos; eles se revelam aos poucos, como na vida real.
Não se deve ter pressa em compreendê-los. A convivência com um personagem, ainda que imaginária, exige tempo, escuta e observação. Deixe-os brincar dentro da cabeça do autor. Deixe que tomem suas próprias decisões, mesmo que inicialmente pareçam descabidas. A espontaneidade deles pode revelar camadas inesperadas. Muitas vezes, a solução para um trecho difícil de um romance está justamente no ajuste fino do personagem.
A descrição física pode ser uma ferramenta poderosa, desde que carregada de significado. Um personagem de olhos verdes não é interessante por si só. Mas se ele detesta esses olhos porque lembram um pai ausente, a narrativa ganha profundidade. O mesmo vale para cenários. Um escritório bagunçado não diz muito, mas uma garrafa de conhaque pela metade pode contar uma história de dor que ainda não foi dita. Os ambientes também são extensões psicológicas dos personagens.
A história pregressa de cada figura criada é igualmente essencial. Nenhuma personagem brota do nada. Há influências, traços herdados, marcas sociais e afetivas. Uma mulher que acredita com fervor no direito dos outros pode ter vindo de um lar em que o pai era um advogado conservador e a mãe, uma artista engajada. São essas contradições que moldam o caráter e oferecem combustível para a trama.
Alguns autores chegam ao ponto de viver, mesmo que brevemente, a realidade de seus personagens. Usam seus objetos, vestem suas roupas ou caminham por seus bairros. Isso traz verossimilhança e uma sensação tátil da existência daquele ser ficcional. Para quem prefere não se perder entre mundos, uma foto, um som, um cheiro podem ser suficientes para manter viva a essência de cada um.
Ao final, a maior recompensa de criar personagens complexos é ouvir de um leitor que "quase consegue ouvi-los falando". Que pareciam vivos, reais, próximos. Quando isso acontece, o autor sabe que valeu a pena o tempo investido fora das páginas, na escuta silenciosa dessas vozes inventadas, mas tão humanas quanto as nossas.
Editoria de Literatura e Criação c/GINai - Plataforma Nacional do Facetubes. / Tradução livre. (Unifree).