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A NEGRITUDE NA LITERATURA DE CORDEL

Esmeralda Costa é a titular da coluna “Cordel Brasileiro”, exclusivo Facetubes.

20/11/2024 às 08h42 Atualizada em 20/11/2024 às 12h16
Por: Mhario Lincoln Fonte: Esmeralda Costa
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Esmeralda Costa, poeta, cordelista e imortal APB/CE
Esmeralda Costa, poeta, cordelista e imortal APB/CE

(*) Esmeralda Costa

Capa: xilogravura "Enxada nos Racistas", de Bacaro Borges.

O dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro. A data que marca a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares agora é feriado nacional. A coluna Cordel Brasileiro,celebra a data trazendo para seus leitores, esta edição especial para enfatizar obras que trazem a temática da negritude na literatura de cordel.

 

Com suas raízes profundas na cultura popular nordestina, a literatura de cordel é um dos mais importantes espaços de expressão cultural no Brasil. Com sua métrica singular e versos rimados, ela já foi utilizada para contar histórias de heróis, narrar tragédias, criticar injustiças sociais e, especialmente, para refletir sobre a identidade de um povo. Nesse contexto, a temática da negritude emerge como um eixo central para destacar a riqueza e a resistência da cultura afro-brasileira.

 

A negritude na literatura de cordel busca resgatar memórias históricas, exaltar figuras emblemáticas da luta contra a opressão e celebrar as contribuições negras para a formação cultural do Brasil. Cordelistas têm usado seus versos para homenagear personalidades como Zumbi dos Palmares, Dandara,  Luiz Gama e muitos outros, Narram assim, suas lutas contra a escravidão e o racismo estrutural, por meio de versos rimados e metrificados. Esses poemas, além de preservarem a história, trazem à tona debates importantes sobre desigualdades que persistem na sociedade.

 

Além das narrativas históricas, o cordel também serve para enaltecer as tradições afro-brasileiras, como a capoeira, o samba, o candomblé e a culinária típica. Através de versos simples, mas carregados de significado, os poetas conseguem aproximar essas manifestações culturais do cotidiano popular, garantindo que não sejam esquecidas.

 

Para enfatizar o cordel com essa temática,  a coluna traz hoje importantes obras e nomes que vêm contribuindo com a difusão e propagação do tema negritude.

 

"PRETAS E PRETOS NA LITERATURA DE CORDEL"

 

O primeiro nome a ser evidenciado nesta edição é o do jornalista Alberto Perdigão, um grande pesquisador do cordel político e social que lançou recentemente a obra Pretas e Pretos na Literatura de Cordel: Um Olhar sobre a Negritude através da Mídia Folkcomunicacional

 

O livro de Alberto Perdigão, apresenta uma análise rica e inovadora sobre a presença da negritude nos folhetos de cordel. Composto por dez artigos, a obra explora temas cruciais como escravidão, abolição, racismo, heróis negros, o assassinato de Marielle Franco e o descumprimento da Lei nº 10.639/2003, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas.

 

Esse livro é parte de uma pesquisa inédita no Brasil sobre os folhetos de política na literatura de cordel, conduzida por Perdigão sem financiamento público ou privado, o que ressalta seu compromisso com a temática e a independência de sua investigação. Além disso, a abordagem sobre a negritude no cordel é pioneira, consolidando-se como uma ferramenta valiosa para educadores, pesquisadores e todos os que têm interesse em questões relacionadas à negritude e à literatura de cordel.

 

A obra de Perdigão destaca o cordel como uma mídia folkcomunicacional potente, capaz de dialogar com as questões sociais e históricas que afetam a população negra no Brasil, oferecendo uma nova perspectiva sobre o papel da cultura popular na construção de narrativas identitárias e políticas.

 

Interessados, podem adquirir o livro Pretas e Pretos na Literatura de Cordel (350 páginas) diretamente com o autor que nos permitiu disponibilizar neste espaço o seu contato: Telefone/WhatsApp (85) 99989-8639.

 

Pretas e Pretos na Literatura de Cordel é sem dúvidas uma obra que vale a pena adquirir e ler. Para saber mais sobre esta obra conversamos diretamente com o autor.

 

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ENTREVISTA COM O JORNALISTA E ESCRITOR ALBERTO PERDIGÃO

O livro de Alberto Perdigão, apresenta uma análise rica e inovadora sobre a presença da negritude nos folhetos de cordel. Composto por dez artigos, a obra explora temas cruciais como escravidão, abolição, racismo, heróis negros, o assassinato de Marielle Franco e o descumprimento da Lei nº 10.639/2003, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. (AP).

 

BIOGRAFIA DO ENTREVISTADO

Alberto Perdigão é jornalista e mestre em Políticas Públicas e Sociedade. Autor e coautor de cinco livros, conta também com uma vasta produção de artigos científicos publicados em anais de congressos e periódicos acadêmicos. Integra a Rede Folkcom de pesquisadores em folkcomunicação e o Grupo de Pesquisa em Folkcomunicação da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), consolidando-se como uma referência na interseção entre comunicação popular e estudos acadêmicos.

 

Alberto Perdigão.

 

A ENTREVISTA

1. Alberto Perdigão, o que lhe motivou a explorar a temática da negritude na literatura de cordel, uma abordagem tão inédita no Brasil?

AP-Além de ser um tema nunca tratado academicamente, o que por si só já dá uma importância à pesquisa, pensei ser importante esclarecer que há uma mídia informativa, alternativa e contra-hegemônica, no caso o folheto de cordel, que serve de lugar de fala para a negritude e para temas que não estão na mídia tradicional ou que estão mas não de forma a representar o modo com que pretas e pretos estão no mundo e interpretam esse mundo.

 

2. Conta pra gente como foi o processo de seleção dos temas abordados nos folhetos analisados, como escravidão, abolição e o assassinato de Marielle Franco?

AP- Pesquiso sobre o folheto de política da literatura de cordel e coleciono folhetos de temas políticos, como o racismo estrutural, incluindo a injustiça social e a desigualdade econômica contra pretas e pretos. Ao ver que eram muitos os folhetos, organizei a amostra em dez temas e me senti, então, na obrigação de pesquisar os conteúdos e mostrar isso em livro.

 

3. De que maneira o cordel, como mídia folkcomunicacional, pode contribuir para o debate sobre racismo e negritude no Brasil?

AP- O folheto, como mídia folkcomunicacional, é um meio de expressão dos menos favorecidos, nem tanto de renda ou de escolaridade, mas sempre do direito de acesso aos meios de comunicação e à esfera pública onde ocorrem as discussões políticas. O folheto traz outros temas, outras vozes, outras perspectivas da realidade. É uma mídia que vem do povo, vai para o povo e, mais importante, é um reflexo desse povo. Isso a grande mídia não faz. 

 

4. Você menciona que a pesquisa foi realizada sem financiamento público ou privado. Quais foram os principais desafios enfrentados durante o desenvolvimento da obra?

AP- Não ter uma bolsa e não ter um edital me limitaram financeiramente, mas não restringiram a qualidade da pesquisa e do livro. Pesquiso e publico para compartilhar o que aprendo, o que descubro, e para dar visibilidade ao folheto como uma mídia política. É o que chamam de pesquisa engajada. Trabalho menos no mercado, ganho menos do que poderia, reduzo as horas de descanso e lazer, mas me realizo no final.

 

5. Em sua visão, como os professores podem utilizar Pretas e Pretos na Literatura de Cordel para promover uma educação mais inclusiva e engajada nas escolas?

AP- Cada capítulo do livro traz uma discussão teórica sobre o tema, com autores consagrados, atuais. E, em seguida, apresenta vários trechos de folhetos que abordam o assunto. A parte teórica pode ser para que o professor domine o tema e os versos podem servir de ilustração. Os alunos aprendem de forma fácil e divertida. E podem construir em sala um cordel sobre a temática, o que é ainda mais motivador.

 

6. Qual foi a reação do público ao lançamento da obra, especialmente entre estudiosos de literatura de cordel e ativistas ligados à causa negra?

AP- A imprensa e o público em geral têm sido muito receptivos. Os interessados em literatura de cordel reconhecem a importância do livro, elogiam a pesquisa. Os professores chegam a agradecer a nova ferramenta para introduzir temas afro-brasileiros em sala de aula. Do movimento negro não tenho muitas respostas, mas penso que compreende que este é um livro de um pesquisador não-negro, mas antirracista.

 

7. O que você espera que os leitores, tanto da academia quanto do público geral, levem consigo ao ler a obra?

AP- Que pensem que a negritude não está calada, que luta por liberdades e direitos desde que o primeiro africano foi sequestrado e submetido ao trabalho no Brasil. Que percebam que a literatura de cordel está viva como expressão alternativa, popular e de resistência. Que entendam que somos um país racista, que não se dá conta da amplidão e gravidade desse crime. E quarto que pensem: não basta não sermos racista, temos que ser antirracistas.

 

8. Há algum plano para expandir essa pesquisa ou publicar novos volumes que explorem outros aspectos da negritude na literatura de cordel?

AP- Sobre a negritude, só se for por alguma demanda específica, alguma encomenda. Dei minha contribuição, e muita gente pode aprofundar, ampliar. Sigo pesquisando o folheto de política. Atualmente, estou finalizando um livro sobre o Belchior na literatura e cordel, na perspectiva do nordestino e latino-americano. É para o ano que vem. Depois, deverei publicar um, dois ou três livros sobre os presidentes da República na literatura de cordel.

 

Valor nacional.

 

LEONARDO SAMPAIO E SEUS CORDÉIS COM A TEMÁTICA NEGRITUDE

 

Diversos autores têm explorado esta temática e quando  ela se apresenta de forma rimada, conquista ainda mais a atenção do leitor, por esta razão colocamos a disposição dos leitores da coluna Cordel Brasileiro três importantes obras do grande poeta cordelista cearense Leonardo Sampaio que disponibilizou links do seu blog, onde podemos conferir o seu trabalho em cordel, através da s seguintes obras:

A Negra Que Não Podia Ser Anjo

https://leonardofsampaio.blogspot.com/2010/10/negra-que-nao-podia-ser-anjo-e-foi.html?m=1

Consciência Negra

https://leonardofsampaio.blogspot.com/2012/11/ser-negro-e-consciencia-negra.html?m=1

Saberes Africanos na Escola

https://leonardofsampaio.blogspot.com/2012/12/saberes-africanos-na-escola.html?m=1

 

Você pode estar conferindo essas e outras obras de Leonardo Sampaio, no seu blog e em outras plataformas e redes sociais do autor que nos apresenta sua rica e vasta obra em cordel e outros gêneros literários.

 

O PROTAGONISMO NEGRO NA LITERATURA DE CORDEL

 Cada vez mais, poetas negros têm ocupado esse espaço, escrevendo sobre suas próprias vivências, enfrentamentos e conquistas. Seus cordéis não só questionam o racismo, mas também fortalecem a autoestima da população afrodescendente, promovendo o orgulho de suas origens e tradições.

 

Assim, a literatura de cordel se reafirma como um poderoso instrumento de resistência e valorização cultural, onde a negritude encontra voz para contar sua história, celebrar sua identidade e lutar por um futuro mais justo e igualitário. É um legado que transcende gerações, transformando o verso popular em um grito de liberdade e empoderamento.

 

E assim concluímos mais uma edição da Coluna Cordel Brasileiro, agradecendo a Deus que nos ilumina e a cada um de vocês, leitores fiéis que acompanham nosso trabalho e nos motivam a prosseguir com força e firmeza. Um forte abraço a cada um!

 

(*) Esmeralda Costa

Campos Sales-CE

Membro da Academia Poética Brasileira(APB), Academia Cearense de Literatura de Cordel(ACLC), Academia Internacional de Literatura Brasileira(AILB) e Membro Correspondente da Academia Groairense de Letras(AGL).

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Esmeralda CostaHá 4 dias CAMPOS SALESLucia Amarantes, obrigada por acompanhar a nossa coluna e por registrar seu relevante comentário.
Esmeralda Costa Há 1 semana Campos Sales-CE Esmeralda.alcina maria silva azevedo, muito obrigada por sua preciosa avaliação, ela é muito importante pra gente perceber o quanto é importante perseverar na divulgação da cultura e do cordel brasileiro.
Lucia AmarantesHá 1 semana GloboVeja como é importante se ter uma Coluna específica de Cordel no Brasil..parabéns Esmeralda.
alcina maria silva azevedoHá 2 semanas Campinas -SPBelíssima reportagem, onde Esmeralda Costa entrevista o célebre escritor e jornalista Alberto Perdigão, dando voz à Literatura de Cordel, que focaliza a negritude, onde ainda continua sua luta para vencer preconceitos raciais. Parabéns a ambos e todos aqueles que embargam nessa luta, para esclarecer erros judiciais.
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