*Mhario Lincoln
Não há como deixar de afirmar que Elisa Lago está, sim, incluída numa safra moderna da poesia maranhense que vem se renovando desde os anos 70, com o aparecimento do movimento "Antroponáutica". Os anos se passaram e a safra surgida a partir desse evento, vem se multiplicando.
Então não é nenhum exagero reconhecer a poética de Elisa Lago como algo que renovou, igualmente, a lírica gonçalvina, revelando certa profundidade e equilíbrio, diante de sua poderosa introspecção e reflexão; esse olhar trazido para dentro de sua produção poética por 'starts' do cotidiano, dos amores, das saudades, enfim, sobre a complicada condição humana, é sua realidade poética.
Eu abri o livro e me surpreendi com a grandeza de muitos versos. dentre eles, "Se queres o silêncio de minha alma/ Te darei sem perder a calma/Só não peça pra fingir que não foi nada", onde claramente há uma expressão de honestidade emocional e recusa ao fingimento. A figura poética aqui está ligada ao desejo de integridade e verdade, conceitos frequentemente explorados também filosofia estoica.
Essa sinceridade remete a algo que se recusa a mascarar a dor ou a desilusão. Tal construção - basta uma acuidade um pouco maior - encontra o mesmo eco na obra da poeta Florbela Espanca, onde muitas vezes escreveu poemas explorando a profundidade dos sentimentos humanos, com franqueza.
E fui lendo e cada vez mais me interessando pela obra, haja vista excertos incríveis que, até mesmo, acaba surpreendendo o leitor, haja vista as colocações reflexivas. Se não, vejamos: "(...) entre o sim e o não/ Melhor se encaixa o talvez/ tamanha insensatez". Aqui, ela aborda a incerteza e a ambiguidade da vida. É o outro lado da moeda. Parece brincar com as palavras e sentimentos, abarcando-os de forma a enquadrar o leitor em quaisquer das situações que esteja passando, no exato momento em que lê o verso. Assim, enquanto no parágrafo anterior, havia firmeza nas afirmações, neste, há indecisão e a incerteza. Isso filosoficamente tem nome: existencialismo. Claro que tais análises me levaram ao universo de Cecília Meireles, especialmente em "Ou Isto ou Aquilo", onde há, também, um tratamento similar das ambiguidades e dilemas da vida, explorando a natureza fluida e incerta das escolhas.
Em verdade, estou lendo e destacando grande parte dos poemas impressos em "Rabiscos", o novo livro de Elisa Lago, produzido pela "Viegas Editora"; uma coletânea de 142 poemas recheados de vida, mostrando multifaces dessa genial autora maranhense.
Estou lendo e fazendo anotações para, finalmente concluir a resenha final desta obra, antecipando que me tem dado muito prazer continuar lendo. Me faz bem ter esse livro em minha cabeceira, porque, de repente, numa hora qualquer, se lê:
"Um espelho quebrado/ Do tempo Guardado/ De um caco qualquer/ Prefiro sem medo/ Do simples segredo/ O meu lado Mulher" e a gente se emociona porque Elisa utiliza a metáfora do espelho quebrado para falar sobre a passagem do tempo e a identidade feminina.
Incrível essa metáfora bem desenhada: a imagem do espelho quebrado sugere uma multiplicidade de reflexos e experiências, evocando a complexidade da autopercepção e do autoconhecimento.
Não só esses versos, mas a grande maioria que já li, efetivamente me leva à conclusão de que estou diante de uma autora adulta, decisiva e guerreira. Fica evidente: "Não ando na contramão do tempo/meu tempo é o agora; às vezes,/ até tenho pressa. Vou contornando os contratempos,/ o tempo todo, todo o tempo".
Mutatis Mutandis a teoria poética de Elisa Lago evoluiu bastante. A mulher Elisa Lago evoluiu bastante enquanto poeta, enquanto produtora de cultura. Ou seja, volto aquela minha tese de que só o "dom" não é suficiente para a produção de uma grande obra. Necessita, o autor, de mais estudos, de mais leituras, de um amadurecimento lírico. Por exemplo, esses autores que citei, em paralelo à produção de Elisa, com toda certeza, ela já os leu. E isso só a fez crescer.
Tal fato (e só assim), o autor pode produzir uma grande obra marcante e – citada -, ou seja, “não há grande obra, se não for citada”, como dizia meu pai José Santos. Só as grandes obras (citadas e amadas) podem se aproximar da teoria do “tempo/atemporal”, acolhida pelo germanista Herbert Cysarz, cuja máxima é ganhar valorização "no momento presente", para só assim, pertencer a uma plêiade muito pequena de poetas, cujas obras serão imortais, no universo atemporal. Isso mesmo: as grandes obras jamais morrem!
Só assim, o tempo deixa de ser um adversário e se transforma numa forja indestrutível, que vai alimentar uma corrente contínua, com a qual se deve aprender a navegar e a ser valorizado também no futuro, sem nenhum esquecimento.
Portanto, poeta Elisa Lago, é certo que haverá Vida Longa para “RABISCO”. Por essa razão, logo vamos nos ver novamente falando de desse livro.
Obrigado pelo presente,
Mhario Lincoln
Presidente da Academia Poética Brasileira.
VÍDEO BÔNUS
Entrevista exclusiva com Elisa Lago
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