Segunda, 12 de Maio de 2025
9°C 19°C
Curitiba, PR
Publicidade

José Chagas viveu e morreu entre letras, história e sua identidade maranhense

Análise sobre o audio-visual de Euclides Moreita Neto, “O Lavrador de Palavras”.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario Lincoln/Euclides Moreira Neto.
19/04/2025 às 12h02 Atualizada em 20/04/2025 às 09h43
José Chagas viveu e morreu entre letras, história e sua identidade maranhense
arte: MHL

 

Por Mhario Lincoln, jornalista e poeta, editor sênior da Plataforma Nacional do Facetubes (Curitiba-PR)

 

Nada melhor para estreiar em grande estilo nas páginas da Plataforma Nacional do Facetubes do que mostrar um de seus trabalhos mais sensacionais (dentre muitos) sobre o imortal AML José Chagas. Refiro-me a Euclides Moreira Neto, brilhante maranhense envolvido com o que há de melhor em produções audio-visuais do Brasil.   


Neste vídeo, abaixo reproduzido, "O lavrador de palavras", Euclides mostra muita habilidade com o que escolheu para fazer. Aliás, sua intensa ação desenvolvida na área cultural na capital maranhense o levou a atuar como produtor cultural, ator, crítico de arte e cineasta. 
Na atividade audiovisual, dirigiu e produziu vários filmes, obtendo diversas premiações em festivais de cinema e vídeo pelo Brasil, destacando-se os filmes "Mutações", "Colonos clandestinos", "Bom Jesus", "A greve da meia passagem", "Alegre Amargor", "Feições", "Mamucabo", "Periquito sujo", "Jardins suspensos" e, obviamente, o documentário sobre José Chagas.


Esse documentário é um marco (visível) constante nos arquivos da história do Maranhão. Porque aos 80 anos, José Chagas nesse trabalho, revelou, em depoimento tocante, que "viver é um ato de resistência cotidiana". Pois bem! Paraibano de nascimento, maranhense de alma, o poeta e cronista transitou entre essas duas identidades com a fluidez de quem fez da vida sua maior obra. Com raízes na Paraíba e ramificações profundas no Maranhão, especialmente em São Luís, Chagas se tornou um dos maiores expoentes da literatura nordestina. Nascido em 29 de outubro de 1924, no sítio Aroeiras, em Santana dos Garrotes (PB), José Francisco das Chagas fixou-se no Maranhão em 1948, onde construiu não apenas sua carreira, mas também sua mística literária. São Luís o encantou com suas lendas, paisagem colonial e folclore vibrante. "A cidade não é apenas onde moro, ela mora em mim", disse ele, evidenciando a simbiose entre o poeta e a capital maranhense.


Chagas enfrentou uma juventude difícil. Cresceu sob as agruras do sertão paraibano, em meio às secas e à dureza da vida rural. Contudo, desde cedo desenvolveu inclinação para as letras, fortemente influenciado por violeiros, literatura de cordel e pelo ritmo da oralidade nordestina.
Apesar da vasta produção literária, com mais de 20 livros publicados, Chagas confessava sentir-se solitário em sua vocação: "Sou sozinho nisso, mesmo entre meus", disse, referindo-se à ausência de conterrâneos e familiares com o mesmo entusiasmo pela escrita.


Sua estreia na crônica foi incentivada por amigos como o jornalista Amaral Raposo, que o aproximou dos jornais. Ao longo de mais de quatro décadas, Chagas manteve uma coluna semanal no jornal O Estado do Maranhão, onde sua prosa espirituosa, marcada pela ironia e crítica social sutil, angariou leitores fiéis e consolidou sua voz como cronista do cotidiano. Na seara institucional, José Chagas teve papel proeminente na Academia Maranhense de Letras (AML). Ele foi eleito em 13 de outubro de 1974 e tomou posse em 3 de abril de 1975, ocupando a cadeira nº 28, sucedendo Antônio Carvalho Guimarães. Recebido por Bernardo Almeida, Chagas foi uma presença constante e ativa nas atividades da AML. Sua atuação era reconhecida pela capacidade de unir tradição e contemporaneidade, sempre com discrição e prestígio genuíno. 


Além de "Canhões do Silêncio" e "Colégio do Vento", Chagas legou títulos como "Os Telhados", "Azulejos do Tempo", "Apanhados do Chão" e um dos livros mais interessantes, "Maré Memória". Sua escrita é profundamente comprometida com a memória coletiva e com a alma de São Luís, cidade que, segundo ele, "mora em mim". José Chagas faleceu em 13 de maio de 2014, mas sua obra continua viva e inspiradora. Em seu centenário, a AML lançou publicações em sua homenagem, promovendo debates, recitais e exposições. Sua trajetória continua sendo exemplo de como a poesia pode ser uma forma de viver e resistir.

 

É exatamente essa perpetuação que Euclides Moreira Neto se propôs a deixar de legado - ou legado, a obra - o imenso José Chagas. Mas, vale também, discorremos sobre a beleza da vida e das produções de Euclides, sem dúvida, outro grande nome da história contemporânea da cultura brasileira. Aliás, vale aqui contar rapidinho uma passagem minha, quando cursava Cinema, no "Centro Europeu". O coordenador do curso é o respeitado diretor brasileiro, Fernando Severo. Ao saber que sou de São Luís, ele me chamou em um canto e revelou: "Euclides Neto, é de sua terra. Uma pessoa que respeito por seu equilíbrio e criatividade. Então, o represente bem aqui no Curso". Uma responsabilidade e tanto. Talvez por osmose, acabei concluíndo essa atividade com méritos.

 

Não é por menos que Fernando Severo elogiou Euclides. Se não, vejamos:

Euclides Barbosa Moreira Neto nasceu em 13 de abril de 1957, na cidade de Cururupu-MA. É Professor doutor em Comunicação, Linguagem e Cultura pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura, na UNAMA-Universidade da Amazônia, sendo seu objeto de investigação os Blocos Tradicionais do Maranhão, manifestação cultural do ciclo carnavalesco. Sua formação educacional e acadêmica ocorreu em Instituições de Ensino Público e atualmente é professor universitário, lotado no Curso de Comunicação Social do Centro de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão.


Graduado em Comunicação Social, Habilitação Jornalismo, na UFMA (1976-1979), tem dois cursos de Especialização: Teoria e Prática em Jornalismo, ministrado na UFMA (1981-1982), e Planejamento da Comunicação, na Universidade Federal de Minas Gerais, em convênio com a Universidade Católica de Minas Gerais, Fundação Friedrich Ebert da República Federal da Alemanha, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa da Comunicação ABPEC com o Centro Internacional de Studios Superiores de Comunicación para a América Lati na CIESPAL (1982).

Tem Mestrado em Comunicação, viabilizado por meio de convênio firmado entre a Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Maranhão e Universidade Virtual do Maranhão (2009-2011); exerceu a função de Conselheiro do Conselho Estadual de Cultura do Maranhão (1991- 1994 e 2007-2008); reorganizou e presidiu o Conselho Municipal de Cultura de São Luís, além de ter sido Presidente da Fundação Municipal de Cultura, órgão vinculado à estrutura da Prefeitura de São Luís. (2009-2012).


No nível administrativo na UFMA, foi Coordenador do Núcleo de Atividades Visuais do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, além de Diretor daquele Departamento por 12 anos consecutivos (1996-2008). Até o final de 2023 foi Diretor Geral da Rádio Universidade FM, órgão vinculado à Fundação Sousândrade e a UFMA. No ano de 2012 recebeu do Governo do Estado do Maranhão o título de Comendador, considerando os bons serviços prestados à cultura maranhense. 

Seja bem-vindo, Euclides.

 

Mhario Lincoln é editor sênior da Plataforma Nacional do Facetubes e presidente da Academia Poética Brasileira.

*****

 

VÍDEO-BÔNUS

 

 

OBRAS LITERÁRIAS DO AUTOR:
· Primórdios do Cinema em São Luiz. São Luís: DAC/UFMA, 1977 (Pesquisa acadêmica);
· O Cinema dos anos 70 no Maranhão. São Luís: DAC/UFMA, 1980 (Pesquisa acadêmica);
· Sistema de Comunicação na Capital Maranhense in Jornalismo no Brasil Contemporâneo. São Paulo: DJE/ECA/USP, 1984, pp. 53-66. (Artigo em Coletânea);
· O Poder Simbólico das Radiolas de Reggae na Cultura Maranhense. Niterói: MINTER UFF/UFMA/UNIVIMA, 2011 (Dissertação de Mestrado);
· Reggae e Poder: radiolas e simbolismo na cultura maranhense; in Crítica de Mídia e a Tessitura da Mediação. São Luís: EDUFMA, 2012, pp. 45-75. (Artigo em Coletânea);
· Quando a Purpurina não Reluz. São Luís: Gráfica Minerva, 2013 (Estudo de Caso/Depoimento);
· Reverberando “Pedras”. São Luís: CCSo/UFMA, 2014 (à publicar);
· Maria por Maria ou A Saga da Besta Fera nos Porões do Cárcere e da Ditadura. São Luís: Editora Engenho/SECTI, 2015 (Entrevista/ Análise);
· O “Vai querer” dos Blocos Tradicionais. São Luís: EDUFMA, 2016 (Estudo de Caso e Análise do INRC dos BTMs);
· Ajuntamento de Memórias. São Luís: EDUFMA, 2016 (Entrevista/ Análise);
· Provocações do Cotidiano. São Luís: EDUFMA, 2016 (Artigos e Crônicas);
· Gardênia: Flor de Lapela. São Luís: EDUFMA, 2016 (Entrevista/Depoimento);
· Guarnecendo Memórias. São Luís: EDUFMA, 2017 (Estudo de Caso/Depoimentos);
. Interações Comunitárias. São Luís: EDUFMA, 2019 (Crônicas);
. Travessia na Pandemia. São Luís: EDUFMA, 2021 (Crônicas);
· Memórias (En)Cantadas. São Luís: EDUFMA, 2021 (Estudo de Caso/Depoimentos);
. Reminiscências do Cinema Maranhense. São Luís: DCSo/UFMA, 2022 (Estudo de Caso/Depoimentos); e
. Reminiscências do Coral São João no Baú Memorial de Nerine Lobão. São Luís: EDUFMA, 2022 (Estudo de Caso/Depoimentos).
. Reverberando pedras”: o poder simbólico das radiolas de reggae. São Luís: EDUFMA, 2023 (Dissertação de Mestrado).

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Raimunda Pinheiro de Souza FrazãoHá 3 semanas São José de Ribamar Eu sou fã de José Chagas, De Mhario Lincoln também! Fã do Professor Euclides, Os três são gente do bem!
Carlos VincHá 3 semanas São Paulo SPTrilha sonora excelente.
Jean MichelHá 3 semanas Rennes - Ille-et-VilaineJ'ai le livre "Canons du silence", de José Chagas. J'ai adoré. Jean Michel, Rennes.
Rômulo Barbosa Lima, músico e intérprete.Há 3 semanas Salvador BahiaO Maranhão tem muitas cabeças interessantes. Precisam ser mais divulgadas fora desse quadrado. Tem que sair. OS artigos, os filmes, os documentários. Tem muita gente morando fora do Maranhão. O único lugar que leio sobre o Ma é aqui. Mas não precisa ser necessáriamente só aqui, entende? Sigam a propaganda baiana. Hoje todo mundo sabe alguma coisa da bahia, não é?
Maria das Dores CavalcanteHá 3 semanas Recife PETem como publicar no Facetubes esse artigo? Reggae e Poder: radiolas e simbolismo na cultura maranhense; in Crítica de Mídia e a Tessitura da Mediação. São Luís: EDUFMA, 2012, pp. 45-75. (Artigo em Coletânea)
Mostrar mais comentários
Mostrar mais comentários
Lenium - Criar site de notícias