Linda Barros, escritora e atriz. Membro da Academia Poética Brasileira e da Academia Atheniense de Letras e Artes.
Dizem que um idioma nos identifica como povo de um determinado lugar, assim como a cultura desse mesmo lugar. Quando se fala em cultura, há muita coisa envolvida, como os grandes nomes da literatura, a culinária, as festas típicas e ainda a topofilia deste lugar.
E seguindo esse viés identitário, é improvável ou quase impossível você dizer que é do Maranhão e não se lembrar do Bumba-boi, do Cacuriá, do arroz de cuxá, das escadarias do Reviver, das carruagens de Ana Jansen e, principalmente, alguém dizer "ah você é da terra de Sarney". Mas não é um Sarney qualquer, é José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, ou tão somente José Sarney, um dos maiores ícones da literatura, da cultura e principalmente da política brasileira.
José Sarney, este brasileiro e maranhense que teve sua trajetória traçada pelas linhas do tempo com um destino que não podia ser outro: uma carreira política e intelectual das mais importantes do país. Seu nome está no mesmo patamar dos grandes intelectuais do Brasil, como Ferreira Gullar, Josué Montello, Machado de Assis, Arthur e Aluízio Azevedo, Carlos Drumond de Andrade, Manuel Bandeira, Nauro Machado, João Mohana e mais tantos nomes importantes que bem representam a nossa cultura.
E, seguindo o curso da vida, o tempo passa, e passa voando e nesse ir e vir do tempo, encontramos um José Sarney no auge de seus 95 anos, com uma memória e lucidez invejáveis. José Ribamar Ferreira da Costa é dono de um legado incontestável que, com certeza, já desviou várias daquelas curvas sinuosas que a vida colocou em seu caminho até chegar a seu destino: uma carreira com uma longa jornada política e literária. Como bem mencionou o poeta Nauro Machado, em seu artigo “Estrada de mão dupla”, sobre a trajetória desse ilustre homem das letras e da política, “Sarney nunca dissociou o fazer do ser. Que sua vida é o caminho de um sonho aberto pelas ferramentas – picareta e pena – de um trabalho poético. Ainda segundo Nauro, Sarney é “um capítulo significativo da nossa história e que a própria história é testemunha ocular de tudo isso”. Comemorando já seus quase 95 anos, qualquer que seja a avaliação feita acerca de sua carreira, a história está aí para comprovar os fatos e todas as suas conquistas.
José Sarney não é só o homem político, mas é um dos grandes nomes da literatura maranhense e da brasileira. É também um dos maiores representantes do realismo mágico, gênero instigante dentro do contexto literário. Tal faceta se destaca em Saraminda, obra extraordinária, onde o leitor se sente envolvido pelos encantos dessa personagem mítica, que mescla o real e o sobrenatural. A jornalista e escritora Radulescu, em seu artigo “José Sarney – o realismo mágico”, descreve o estilo narrativo de Sarney como “sedutor e estranho, associando o diálogo e o monólogo, voltando depois à narração impessoal para introduzir personagens novos ou para descrever, em imagens poéticas, a natureza selvagem das explorações de ouro das margens do rio Calçoene”. Licenciado em Ciências Jurídicas e Sociais, José Sarney além do político que todos já conhecem, destacou-se muito cedo como escritor. Poeta, contista e cronista, sua vida é uma verdadeira enciclopédia.
Nas palavras de Antônio Carlos de Lima, Sarney é o “sábio da aldeia”, segundo ele, o autor de Norte das Águas é “aquela figura que, em função da idade e da experiência, torna-se o guardião e o transmissor dos elementos cumulativos da cultura”. Diz mais, que Sarney é "o guia da tribo de sua nação em momentos decisivos”. A carreira literária de José Sarney começou em 1952, com o livro de poemas A Canção Inicial, mais tarde, em 69 lançou Norte das Águas. Em 78 lança Os Marimbondos de Fogo enquanto que Brejal dos Guajas e outras histórias, chegou em 1985. O aclamado O Dono do mar, que foi publicado em 1995, teve enorme sucesso no Salão do Livro de Paris e também foi traduzido para o romeno, pela Fundação Cultural Romena em 1997. Saraminda (2000), Saudades Mortas (2002) e A Duquesa vale uma Missa (2007) completam o rol de obras literárias publicadas até o presente momento por José Sarney.
Paradoxalmente, o ser humano, às vezes, tem uma condição social que o condena ou que o venera. No alto de seus 95 anos, José Sarney é um homem que tem sua história de vida contada por todos e por ninguém ao mesmo tempo, e é visceral dentro da própria existência humana. Para Sarney, a idade cronológica é só um detalhe que não diminue em nada sua essência como homem, como grande intelectual que é, independentemente de sua existência ao longo da vida, o ser humano percorre sua trajetória com afinco e a convicção de onde deseja chegar e com esse afinco, José Sarney alcançou todos os degraus de uma carreira singular, ainda que tenha sido (talvez) um caminho árduo, lhe rendeu bons momentos e boas histórias para contar a qualquer um que possa se aproximar dele.
VIDA AINDA MAIS LONGA A ESTE HOMEM NÃO SÓ POLÍTICO, MAS CHEIO DE CULTURA.