A escritora Ana Beatriz Barbosa tem uma clareza rara ao expor ideias que desafiam convenções, mas sem ferir sensibilidades. Em um curto, porém potente vídeo, ela critica a utilização da religião como instrumento de ilusão, argumentando que "a verdadeira espiritualidade se revela nas atitudes e não nos rituais". O ponto central de sua fala gira em torno da responsabilidade individual: a salvação não é algo adquirido por fórmulas prontas ou repetições sagradas, mas conquistada na prática do bem cotidiano.
Ela defende que a espiritualidade não se mede pelo número de orações, presença em cultos ou repetições litúrgicas, mas pelo modo como a pessoa age no mundo. Um indivíduo pode nunca entrar numa igreja e ainda assim ser profundamente ético, compassivo e solidário — o que, para ela, revela uma espiritualidade autêntica. Isso é corroborado por Comte-Sponville, que afirma que a moral independe da fé religiosa.
A autora destaca ainda que o comportamento é o verdadeiro termômetro da espiritualidade, não a crença declarada. Ela sugere que pessoas que ocultam fracassos e compartilham apenas vitórias projetam uma imagem irreal, muitas vezes usada para autoridade injustificada. Segundo Ana Beatriz, a humildade em reconhecer falhas é o que legitima quem ensina. Quem só compartilha vitórias ou finge perfeição tende a dificultar a identificação com o público e a tornar o aprendizado algo idealizado e distante.
Martin Buber, pensador austríaco, também entra nesta conversa ao propor que o sagrado se manifesta na relação genuína entre os seres humanos — o que ele chama de relação "Eu-Tu" — muito mais do que em dogmas ou sistemas religiosos fechados. Buber reforça a ideia de que o divino se faz presente no diálogo, na escuta, na presença total do outro. Ana Beatriz acredita que misturar religião pode ser perigoso, pois transforma o sagrado numa ferramenta de manipulação emocional. Quando se promete salvação automática a quem apenas segue certas regras, o ser humano se desresponsabiliza pelas consequências de seus atos. Ana Beatriz alerta que essa promessa pode hipnotizar desejos profundos, minando o esforço individual pela transformação ética. A ideia é defender uma fé que inspire ação, não passividade.
Ana Beatriz, portanto, se junta a um coro respeitável de vozes que defendem uma espiritualidade ativa, ética e consciente. Sua crítica à manipulação religiosa — quando esta é usada como sedativo de consciências ou desculpa para não agir — é um convite ao despertar moral. Em vez de seguir fórmulas mágicas para alcançar uma suposta salvação, ela propõe que nos perguntemos: "O que Ele faria?", referindo-se a Jesus Cristo.
Não no sentido religioso, mas como símbolo de ação humanitária. No mundo hiperconectado do Facetubes, onde discursos polarizados muitas vezes ocupam o palco principal, o convite de Ana Beatriz é revigorante: menos espetáculo, mais exemplo. Não se trata de condenar religiões — longe disso —, mas de deslocar o foco do ritual para o gesto, do dogma para a empatia. Uma ética que se constrói não na promessa de recompensas eternas, mas na urgência de fazer o certo aqui e agora.
É nesse cruzamento entre pensamento crítico, espiritualidade prática e ética da ação que a mensagem da professora Ana Beatriz se encaixa. E talvez, nesse encontro, resida uma das chaves mais atuais para compreendermos o que significa ser verdadeiramente humano.
VÍDEO-BÔNUS
(O texto acima foi redigido com base nas palavras deste vídeo, com a prof. Ana Beatriz Barbosa, tornadas públicas pelas redes sociais. O Facetubes não visa lucro com suas postagens. Apenas colocar a ideias para discussões lógicas. Portanto, está aberta, abaixo, a seção de comentários sobre o texto e o vídeo.)