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Rogério Rocha: Uma viagem no tempo com George Orwell

Relato (quase) verídico de um encontro literário no meio da névoa londrina.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Rogério Rocha
30/05/2025 às 17h50
Rogério Rocha: Uma viagem no tempo com George Orwell
Vuagem no tempo: Rocha e Orwell

 

Certo dia, remexendo em alguns livros antigos da minha biblioteca, encontrei um objeto do qual não lembrava: uma caneta-tinteiro que ganhei de aniversário. 

Notei, contudo, que ela trazia as iniciais “G.O., em vez do meu tradicional R.R. Sem pensar muito, resolvi utilizá-la para escrever um conto. Comecei a rabiscar no papel sobre a escrivaninha até minha visão ficar estranhamente turva. Foi quando, para meu espanto, uma fenda temporal se abriu diante de mim!

Andei em direção a ela e, num piscar de olhos, estava em plena Londres dos anos 1940, sob um leve fog e uma fina garoa. Ao meu lado estava ele: George Orwell, ou melhor, Eric Arthur Blair. Era um sujeito alto, magro, olhar penetrante, sobretudo cinza e dono de uma disposição gigantesca para caminhar pelas ruas úmidas do centro daquela cidade.

Sem acreditar, estava diante do autor de clássicos como “1984” e “A Revolução dos Bichos”. Um dos meus escritores favoritos, Orwell foi um dos mais lúcidos críticos do totalitarismo e das manipulações políticas do século XX. Um homem que viveu intensamente suas ideias: lutou na Guerra Civil Espanhola, denunciou os horrores do stalinismo e, mesmo tuberculoso, continuou  a escrever até seus últimos dias.

Ainda impactado com tudo aquilo, caminhei pela Charing Cross Road, com ele gesticulando bastante enquanto falava sobre vigilância generalizada, o espírito de censura e o crescente empobrecimento da linguagem em nossos dias. Eu tentava manter o ar de intelectual e concentrar-me em seus raciocínios, mas na verdade só pensava: “Caramba, estou ao lado de Orwell!”. 

A certa altura, ele parou diante de uma livraria, apontou para a bela vitrine e disse: “Veja, todos esses livros e mesmo assim, poucos leem”. Concordei prontamente, afinal, quem discordaria de George Orwell em meio a um diálogo num passeio em plena Londres?

 

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