Editoria de Literatura e Arte – Plataforma do Facetubes c/Mhario Lincoln.
Entre fachadas coloniais de janelas verdes e becos de pedra, transita a figura de José Cordeiro Filho, confundindo-se com a própria alma de São Luís. Artista gráfico, prosador visual e ex-vereador da capital maranhense, ele dedicou cada dia de suas mais de sete décadas de vida a enaltecer e preservar a cidade que tanto ama. Seus traços firmes e inspirados – primeiro nos cadernos universitários, depois nas páginas dos jornais – reimaginaram a paisagem ludovicense (gentílico de São Luís) ao eternizar cenas e personagens do cotidiano, incluindo tanto o povo quanto os casarões históricos da Ilha do Amor.
Com lápis e nanquim, Cordeiro Filho fez das crônicas da cidade a sua arte, compondo em cada ilustração um poema visual de carinho e orgulho pela terra natal. Nascido em um bairro tradicional (Anil) e formado em Desenho pela UFMA, Cordeiro Filho ingressou jovem nas artes gráficas, participando de exposições individuais e coletivas que movimentavam a cena cultural local.
Logo se firmou também na imprensa como chargista pioneiro – foi o primeiro cartunista a publicar charges diariamente nos jornais do Maranhão.
Dono de um estilo buliçoso e inconfundível, emprestou seu talento a vários periódicos, fazendo do humor gráfico uma crônica crítica dos tempos. Mas foi nas figuras populares de São Luís que ele encontrou sua maior fonte de inspiração e afeto. Ainda nos tempos de faculdade esboçou a série de desenhos sobre os pregoeiros – vendedores ambulantes cujas vozes ecoam pelas ruas – e em 2000 lançou a primeira coleção completa sobre eles, trabalho este que revisitaria e ampliaria ao longo dos anos.
Em 2001, uma reedição de “Pregoeiros e Figuras Populares de São Luís” ganhou destaque na imprensa e aplauso do público, ao tirar do anonimato esses personagens humildes por meio da “mágica pena” do artista.
Desde então, Cordeiro Filho já produziu quatro coleções somando mais de 50 ilustrações que exaltam esses tipos folclóricos com humor e dignidade.
Em 2015, na IX Feira do Livro de São Luís, ele apresentou uma nova edição de “Pregoeiros e Praças de São Luís Antiga” – um conjunto de dez peças em papel A4 mostrando oito vendedores em ação e dois cenários marcantes da cidade, numa verdadeira celebração visual da memória ludovicense.
“Acredito que São Luís é uma das poucas capitais onde ainda se consegue cruzar com um desses pregoeiros pelas ruas”, comentou o artista na ocasião, destacando que alguns ainda resistem ao tempo, mantendo ofícios que caracterizam o modo de vida dos maranhenses.
Essa sensibilidade em captar a poesia do cotidiano também o levou a registrar brincadeiras de infância em outro projeto querido: o livro “Brinquedos e Brincadeiras de Criança”, um resgate carinhoso dos jogos e divertimentos que marcaram gerações na ilha. Mas não foi apenas com papel e tinta que Cordeiro Filho defendeu o patrimônio de São Luís – ele levou sua paixão para a arena pública. Em 1982, elegeu-se vereador da capital, cargo que ocupou por uma década até 1992.
Como homem público, sua maior contribuição viria no final dos anos 1980, quando o governador Epitácio Cafeteira o convidou para coordenar o audacioso Projeto Reviver.
Nesta função, Cordeiro Filho tornou-se um dos pilares da revitalização do Centro Histórico de São Luís, especialmente do bairro da Praia Grande, então degradado. Integrante de uma equipe muito forte no cenário urbanístico, casarões coloniais de outrora ganharam novas cores e vida, e ruas se transformaram em espaços culturais requalificados – um legado inaugurado em 1989 e celebrado pela população.
O Projeto Reviver não apenas restaurou fachadas e calçadas; ele reavivou o espírito da cidade e pavimentou o caminho para que, poucos anos depois, São Luís fosse reconhecida mundialmente como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Depois desse marco, Cordeirinho (como é carinhosamente chamado) continuou atuando na gestão cultural: integrou equipes nas gestões municipais seguintes, seja ao lado da prefeita Conceição Andrade, seja nos governos de Jackson Lago e Tadeu Palácio, sempre em cargos ligados à cultura e ao patrimônio.
Foi assessor especial, diretor da Fundação Municipal de Cultura (Func) e primeiro superintendente de gestão da recém-criada Fundação do Patrimônio Histórico (FUMPH), onde pôde aplicar sua experiência diretamente na proteção dos tesouros arquitetônicos e artísticos da cidade
Mais tarde, de volta à Câmara Municipal, coordenou o Departamento de Cultura e assumiu a Diretoria de Documentação, cuidando para que a memória legislativa e urbana de São Luís fosse preservada para as futuras gerações.
Hoje, José Cordeiro Filho é reconhecido como guardião da herança cultural ludovicense. Mesmo afastado da política eleitoral há décadas, ele não arrefeceu seu engajamento social: nos últimos anos, tem se dedicado intensamente à causa da preservação material e imaterial do centro histórico de São Luís, esse conjunto arquitetônico e humano singular que faz da cidade uma joia rara. Seu empenho contínuo rendeu-lhe homenagens merecidas. Em 2022, foi acolhido como membro imortal da Academia Poética Brasileira, presidida pelo jornalista Mhario Lincoln, numa cerimônia na AMEI (Associação Maranhense de Escritores), em reconhecimento a sua trajetória de amor à cultura local.
Viva Cordeiro Filho!
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