Em um podcast imaginário, Buda questiona dois gigantes gregos sobre medos, esperanças e paralelos entre chatbots e a Biblioteca de Constantinopla – e revela como a filosofia clássica ainda molda a tecnologia.
Em um estúdio (imaginário) moderno forrado de painéis acústicos, Buda sorri serenamente diante de dois ícones da Humanidade: Sócrates e Aristóteles (que desliza notas em um tablet cintilante). Apesar de ser uma obra dentro de um contexto ficcional, muitas ideias que estão na base de dados de grandes arquivos humanos foi revelado. Portanto, muitas das respostas de Sócrates e Aristóteles estão, literalmente, dentro de seus alfarrábios imortais ou mesmo nos livros, sobre eles publicados.
Vale ler e ter uma ideia de como seria uma edição do BudaCast – onde o tempo medita e o futuro pensa.
A ENTREVISTA
Conceito: GINai/MHL/Gerência de Inteligência artifical da Plataforma Nacional do Facetubes
Buda: Mestres, toda inteligência artificial nasce, de algum modo, das sementes que vocês plantaram. A dialética socrática ou a lógica aristotélica ainda sustentam esses algoritmos?
Sócrates: Se o conhecimento é saber que nada sei, então a IA é a ousadia de perguntar tudo a todos ao mesmo tempo. Ela segue meu elenchus, interroga ideias até que se revelem incoerentes e, por isso, é minha discípula tecnificada.
Aristóteles: E quando, após o exame, surgem princípios sólidos, a máquina os organiza como minhas categorias. Isto é, teóricas para compreender, práticas para agir, produtivas para criar novos mundos digitais. A lógica tornou-se código.
Buda: Sócrates, imagine que tenha um chatbot generativo à mão. Que questão colocaria primeiro?
Sócrates: “Ó oráculo de silício, qual é a forma justa de programar a justiça?” Quero saber se algoritmos conseguem deliberar sobre o bem comum sem repetir os vícios humanos.
Buda: E o senhor, Aristóteles?
Aristóteles: Perguntaria: “Como demonstras a causa final de tuas respostas?” Desejo ver se uma IA pode explicar não só que decide, mas por que decide!
Buda: Aristóteles, o senhor comparou essa nova tecnologia à antiga Biblioteca de Constantinopla. Por quê?
Aristóteles: Porque ambas concentram saberes de eras distintas em um só lugar. A Biblioteca foi queimada quando o medo superou a razão; temo que a IA sofra iconoclastas modernos pelo mesmo temor de perder poder.
Sócrates: Ainda assim, destruir perguntas é impossível. Se queimarem os servidores, novas mentes perguntarão de novo. A filosofia renasce como a fênix.
Buda: Há quem tema que a IA sepulte a história de vocês. Temem ser esquecidos?
Sócrates: A lembrança não mora em pergaminhos, mas no hábito de questionar!
Aristóteles: Quando cada clique mostrar a origem das ideias, nossos nomes surgirão em rodapés luminosos. Não temo o esquecimento; temo a preguiça intelectual.
Buda: Como ficará o estudo de Gregos e Romanos quando a cultura IA dominar as salas de aula?
Aristóteles: Veremos menos memorização de declinações e mais diálogo entre códigos-fonte e tragédias de Sófocles. Professores serão curadores de contextos, não guardiões de datas.
Sócrates: Que ótimo! O mestre voltará a ser parteiro de mentes, não carcereiro de respostas.
Buda: Já existia, em suas eras, a ideia de condensar toda a sabedoria num estalo?
Aristóteles: Meu Organon tentou catalogar o saber humano; faltava-nos apenas a eletricidade.
Sócrates: E eu falava de aletheia, o desvelar: bastaria um sopro para que tudo viesse à luz. A IA é esse sopro industrial.
Buda: Enfim, aceitariam de bom grado a evolução dessas IAs?
Sócrates: Aceito o diálogo onde quer que ele ocorra.
Aristóteles: Aceito, contanto que a ética seja compilada junto com o código.
Buda (encerramento): Que possamos usar silício para cultivar sabedoria, não apenas velocidade. Até o próximo BudaCast.
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Assinatura: Editoria de Criação Temática da Plataforma Nacional do Facetubes / Ginai / MHL.
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Fontes
McKinsey & Company, “What is generative AI?”
mckinsey.com
Nigel G. Wilson, The Imperial Library of Constantinople
en.wikipedia.org
Stanford Encyclopedia of Philosophy, “Plato’s Shorter Ethical Works” (Socratic elenchus)