Editoria de Literatura da Plataforma Nacional do Facetubes
A escritora afro-indígena Verenilde S. Pereira ganha destaque nacional e internacional com a reedição de seu romance Um rio sem fim, pelo selo Alfaguara em 1.º de julho de 2025. O relançamento, englobando textos de Ailton Krenak e Conceição Evaristo e posfácio de Rodrigo Simon de Moraes, chega às livrarias impulsionado por seu convite para participar da FLIP 2025 em Paraty, consolidando-se como uma das vozes mais influentes da literatura contemporânea.
Com carreira acadêmica iniciada na UnB, Verenilde foi recentemente publicada pela Alfaguara após um reconhecimento renovado internacionalmente: seu contrato com a editora foi impulsionado por Rodrigo Simon de Moraes, pesquisador de Princeton, o mesmo que trouxe o livro à FLIP. A edição impulsiona ainda seu diálogo com o público estrangeiro, já que Um rio sem fim terá tradução para o inglês financiada pelo Brazil LAB, da Universidade de Princeton.
Mais do que uma reedição, trata-se de um marco para a afirmação da literatura afro-indígena no Brasil e no exterior. Presente na FLIP 2025, Verenilde reafirma o protagonismo dessas narrativas em um dos momentos mais importantes do calendário literário nacional, consolidando uma voz que dialoga com ancestralidade, identidade e renovação estética.
A Obra
Em cerca de cem páginas, o romance se passa nos anos 1980, na Amazônia, ao redor de uma missão salesiana liderada por um bispo italiano e comunidades indígenas. Através de narrativas polifônicas — mesclando romance, ensaio e tese de mestrado —, a autora expõe a violência cultural e espiritual imposta àqueles povos: crianças castigadas por falar sua língua, adoecerem sem tratamento adequado, serem submetidas a roupas e rituais estranhos ao seu universo. A presença feminina é central, com protagonistas como Maria Assunção e Rosa Maria, que resistem às tentativas de aculturação, mantendo memórias, saberes e narrativas ancestrais.
A escrita de Verenilde é marcada por uma linguagem imagética — às vezes poética — que vai além do testemunho de uma tragédia histórica. Ao humanizar o encontro traumático entre Igreja e povos tradicionais, ela reinventa a literaturização dessas vozes marginalizadas, propondo uma escrita decolonial que questiona discursos eurocêntricos e recupera uma alteridade essencial. A autora resgata o poder da narrativa para afirmar identidades afro‑indígenas e reescrever memórias da Amazônia.
A Festa Literária Internacional de Paraty
A Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), em sua 23ª edição realizada entre 30 de julho e 3 de agosto de 2025, segue consolidando-se como o principal encontro literário da América do Sul, com uma programação que alia debates políticos, estética poética e diversidade cultural. Neste ano, o evento homenageia Paulo Leminski e abre com Arnaldo Antunes, ao mesmo tempo em que traz temas urgentes como meio ambiente, com a presença da ministra Marina Silva, e geopolítica, com o historiador Ilan Pappé.
A curadoria, realizada pela editora Ana Lima Cecilio, reafirma o compromisso de escuta plural — fenômeno evidenciado também pela forte presença feminina e por escritoras negras e indígenas entre os convidados . Bom frisar que a presença de Verenilde S. Pereira, nessa edição, marca um momento histórico para a FLIP e a literatura brasileira contemporânea. Ela é convidada oficialmente. A sua mesa vai dialogar com sua trajetória de resistência, a partir da reedição de Um rio sem fim e de sua carreira pautada pela preservação cultural e jornalismo indígena. A relevância de sua participação reforça o papel da FLIP como plataforma de escuta e aceleração de vozes historicamente silenciadas, consolidando a presença indígena e negra no centro das discussões literárias do país.
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