
26.10.2025 - No aniversário de Milton Nascimento, um dos maiores ícones da música brasileira, a poeta Joema Carvalho prestou uma homenagem comovente que transcende versos e toca o coração da terra. Em seu poema SOLO, Joema celebra não apenas o artista, mas a essência de sua obra: a conexão profunda com a natureza, a ancestralidade e a espiritualidade. A metáfora central — “plantar é a arte de colher o sol” — revela uma visão luminosa da vida e da criação artística. Como Milton, que sempre semeou melodias carregadas de emoção e consciência, o poema sugere que cada gesto criativo é uma forma de nutrir o mundo com luz. Nos versos seguintes, Joema mergulha no solo como símbolo de identidade e origem:
“saborear a cor do solo / suas propriedades” Aqui, o solo é mais que terra — é memória, cultura e pertencimento. Cada planta, como cada pessoa, floresce melhor quando respeita suas raízes: “cada planta / se planta / no seu solo”
A homenagem é um tributo à autenticidade de Milton Nascimento, cuja música sempre brotou do chão fértil das Minas Gerais, mas alcançou o mundo com a força de quem colhe o sol. Joema Carvalho transforma palavras em sementes, e seu poema é uma flor que desabrocha no coração de quem lê.
Uma celebração poética à altura de um artista que ensinou o Brasil a cantar com alma e plantar com esperança. Vide o poema, abaixo:
SOLO
(Inspirada pela música Cio da Terra)
"Plantar é a arte de colher o sol"
saborear a cor do solo
suas propriedades
cada planta
se planta
no seu solo
num solo
uníssono
de sua espécie
nos indica
onde estamos
e nos diz muito
dali
saborear o seu nicho
o seu ciclo
solo
mel da melipona
do cálice
se jorra
para tudo
o que é vivo
elementos fragmentados
no silêncio
da dinâmica etérea
solo
em cada pétala
estigma de vida
onde estames
unidos
paira na inércia
do movimento dos planetas
e nos conecta
num banho de barro
com a terra geradora
dos princípios
que nos mantêm vivos
tudo está ali
na formação
dos cacos
de rochas
em poeiras
sedimentadas
nosso fim
o mesmo
início
solo
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"Escrevi um poema pleiteando participar da Festa Literária de Santa Teresa-FLIST, que homenageou o Milton Nascimento e a Adélia Prado. O poema saiu fora dos padrões definidos pelo edital. Tentei ajustar, mas o poema não permitiu. Este foi o primeiro poema, a partir da música Sentinela, do álbum duplo Missa dos Quilombos, dentre os que mais gosto. Na sequência, graças a uma amiga, assisti ao documentário Milton Bituca Nascimento, que me emocionou muito. Um dos convidados que falou sobre o Milton Nascimento, disse algo mais ou menos assim, que ele era como o mistério dos cristais de Minas. Eu busco o mistério dos cristais do subsolo da crosta terrestre para escrever, junto da dinâmica dos fungos, o desconhecido. Isto me conectou com o trabalho do Milton Nascimento. SaÍ do cinema com o segundo poema pronto, inspirado pela música Cais. A música do Milton Nascimento fez parte da minha infância. Acredito que minhas células reconhecem o som dele, que não se enquadra nas teorias que classificam a música, porém, reconhecida por grandes mestres universais". Joema Carvalho, APB-PR.
EM FORMAÇÃO
(Inspirado pela música Travessia)*
cada qual
com seu canto
no canto
uma história
por traz de tudo
um caminho
uma escolha
feita de montanhas
pedras que se deixam mover
fluidas como o rio de baixo
que se desgastam
no atrito
do toque da chuva
do assopro do vento
no desprendimento
da rocha mãe
pedras que se movem
se confundem com liquens
deixam de ser exatas
transformam-se
com o que lhes falta
no ciclo da vida
tocam nas trocas
mudam de função
deixam de ser
sendo
algo novo
em formação
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(*) Posições legais sobre "homenagens poéticas" (LEI DOS DIREITOS AUTORAIS - 9610/1998).
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