Terça, 18 de Novembro de 2025
13°C 18°C
Curitiba, PR
Publicidade

Bioque: a voz que resgata o étimo do silêncio para gerar poesia única

Este poema de Bioque Mesito assume risco, busca proporção e ajusta excessos; a imagem se amplia sem perder foco, timbra a fala baixa e comovente. Linguagem própria de poucos pós-ancestrais de Eliot e Rilke.

13/10/2025 às 18h45 Atualizada em 13/10/2025 às 21h32
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario Lincoln
Compartilhe:
Arte: Mhario Lincoln
Arte: Mhario Lincoln

 

Texto de autoria de Mhario Lincoln, editor sênior da Plataforma Nacional do Facetubes.

 

Meu Deus! Bioque Mesito é o responsável pelo adiamento (mais uma vez) da conclusão do meu inédito “O Sexto Sexo”. E por quê? Ora, porque esse poeta espetacular ao escrever poesias, consegue retirar seu véu criativo para entregar o rosto da experiência, sem filtro sentimental, sem exibicionismo de forma. Meu Deus, repito! Como aprendo lendo Bioque. E essa vontade de ir mais longe já me fez rever alguns poemas meus que eu dava como prontos. De novo: é fundamental para um poeta que quer crescer (meu caso), ler, ler e ler outros poetas, cuja qualidade é, sem dúvida, uma linha mestra de aprendizagem.

 

No caso desse grandes ludovicense de 1972, sempre premiado ao longo de sua carreira, há uma contenção calculada no seu dizer que lembra a ética do artesão: cada palavra encaixa no lugar certo, cada pausa respira junto com a imagem. O resultado é um clássico “de agora”. Eu gosto de dizer que coisas assim, traduzem poemas que dialogam com tradição e, ao mesmo tempo, recusa a vitrine das grandiloquências fáceis. A matéria-prima é o cotidiano bem lapidado, até adquirir espessura metafísica.

 

No primeiro terceto, a imagem inicial arma o campo de forças da peça. O poeta toma uma cena concreta e a ilumina de viés; a luz vem não do objeto, mas do ângulo. O gesto é decisivo: aquilo que parecia circunstância vira princípio. Nessa hora, percebi não estar diante de um relato, e sim de um ponto de vista; e é esse deslocamento que confere tensão.

 

No segundo terceto, a matéria sensorial se adensa. O corpo aparece não para ilustrar uma emoção, mas para interrogar a própria linguagem que tenta dizê-lo. Exatamente isso: interrogar! A imagem se dobra sobre si e produz reverberação ética porque não se trata apenas de “sentir mais”, e sim de sentir melhor.

 

O terceiro terceto lembrou-me algo se desfaz, mas em se desfazendo revela o que importa. A dicção abranda, o ritmo desacelera, e a sintaxe abre pequenas fendas de silêncio. Nessas fendas consegui escutar o que não está dito. Exatamente aí que mora a grandeza de Bioque Mesito.

 

Já no quarto terceto, o poema assume risco porque atravessa o íntimo sem confissões fáceis. O poeta não exibe mágoas nem propõe lições morais; busca proporção. Ao aparar excessos, encontra temperatura. É aí que a voz adquire timbre próprio. Bioque fala baixo, mas sua palavra pesa. A imagem central se recompõe, agora mais ampla; ganha campo sem perder foco. E eu, me emocionando junto.

 

O quinto terceto condensa tudo em um fechamento que não fecha. Não é epifania brilhosa, é resolução justa, tipo, aquela espécie de claro-escuro intelectual que respeita a ambiguidade do real (Sinceramente, amei esses versos).

 

Aliás, por afinidade de essência, tomo, inclusive a liberdade de convidar para a mesma mesa, um Rainer Maria Rilke e T. S. Eliot. De Rilke, Bioque herda a coragem de pensar o invisível sem perder a ancoragem sensível; de Eliot, a noção de que a experiência é uma espiral que retorna ao início com outro entendimento.

Card do poeta.

 

----------------

Fontes (poetas citados):
Rainer Maria Rilke, “The First Elegy (Duino Elegies)”, diversas edições e traduções; versão consultada: Poetry Society of America / Poetry in Translation. T. S. Eliot, “Little Gidding” (Four Quartets), edição e excertos disponíveis em Poetry Archive/Columbia.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Curitiba, PR
15°
Tempo nublado

Mín. 13° Máx. 18°

15° Sensação
2.57km/h Vento
90% Umidade
100% (15.22mm) Chance de chuva
05h20 Nascer do sol
06h44 Pôr do sol
Qua 24° 11°
Qui 24° 12°
Sex 27° 13°
Sáb 24° 15°
Dom 20° 13°
Atualizado às 00h01
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,32 -0,12%
Euro
R$ 6,16 -0,05%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 510,699,47 -1,18%
Ibovespa
156,992,94 pts -0.47%
Publicidade
Lenium - Criar site de notícias