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Vale perguntar: por que “Histoire de la Littérature Française” segue tão pedagógica mesmo em 2025?

Um universo de conhecimento tão importante para quem se dedica à difícil missão de ser um literato.

19/10/2025 às 22h14
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario Lincoln
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*Mhario Lincoln

 

Folha de rosto da obra "Histoire de la Littérature Française":

CH.-M. DES GRANGES, Professor de Première no Liceu Charlemagne. Doutor em Letras.

HISTÓRIA DA LITERATURA FRANCESA. Das origens aos nossos dias. (51ª edição inteiramente revista e atualizada). Por J. BOUDOUT, Inspetor-Geral da Instrução Pública

PARIS. Livraria A. Hatier. Rua d’Assas, 8 — Vie (6º distrito).

**** 

Plataforma Nacional do Facetubes/Mhario Lincoln

(Tradução livre de Mhario Lincoln para este texto).

 

 

Com prefácio de Jean Boudout a obra clássica Histoire de la Littérature Française (Ed. Hatier) não é um relicário de boas intenções; é um método. Ao propor “movimentos” em lugar de escolas rígidas, Boudout antecipa a visão hoje dominante de ecossistemas literários: redes de circulação, recepção e prestígio coletivo.

 

O mapa que ele redesenha, (1947) é inteligente e moderníssimo porque se refere “a dar prioridade a gêneros em diálogo com a repercussão pública, sem perder o horizonte pedagógico”. Isto significa dizer que ele como organizador dessa edição (e com a morte do autor), teve que abrir mão de alguns conceitos pessoais para se tornar imparcial “aos ecos das ruas”, que consumiam com voracidade, por exemplo, Stendhal, Flaubert, Baudelaire ou Rimbaud, personagens que Boudout, “não gostava”. Mas e mesmo assim, discorreu sobre eles nesse compêndio, da mesma forma que o autor falecido o fez, em edições anteriores.

 

Aí entra uma lição perceptiva incrível. Quando se trata de ideia coletiva, e mesmo você sendo o prefaciador e revisor individual de uma obra canônico-literária, a responsabilidade com o todo e a grandeza da obra, deve superar o gosto privado, “fato que nunca deve ir de encontro às evidências públicas (influência, continuidade, transformação)”, como escreveu.

 

Tal exemplo posso chamar de “defesa ética da equidade crítica”. (Notae meae). Por isso é que fiquei fascinado logo às primeiras páginas desta edição de 1947.

 

Na verdade, já consegui ler (muitas vezes consultando meu dicionário de francês), até o III Capítulo e este, é por demais interessante.

Nele, é falado sobre os romances de aventura, com base em pesquisas bretãs e em fontes latinas e francesas, que consolidam o ciclo arturiano. Aí entra a parte deliciosamente aliciadora. São menções e detalhes sobre o rei Artur, a Távola Redonda, a ética cavaleiresca e a expansão de motivos que vão do amor cortês à busca do Santo Graal.

 

E depois, chega brilhantemente à Espanha, para citar uma de minhas obras preferidas: Dom Quixote. Li também sobre os versos de Wace sobre o Rei Arthur cuja obra, o “Roman de Brut”, foi muito importante para a disseminação da lenda “Arthur”, além de introduzir elementos que se tornaram centrais.

O “Roman de Brut” é a versão mais influente da obra de Geoffrey de Monmouth e popularizou a figura de Arthur na literatura inglesa que deslocam Artur de chefe tribal a rei cortês, introduzindo Avalon, a promessa de retorno e o cerimonial da távola para evitar precedências. (Genial, não é?).

 

 

Porém, confesso o meu bestunto ao saber que a lenda do “Santo Graal”, vinculada a José de Arimateia, agrega um vaso sagrado e uma prova de coração puro que estrutura a narrativa de busca, com Perceval como figura exemplar em sua forma inicial. Essas ideias soltas, finalmente, neste III Capítulo, vieram se juntar e esclarecer muitas dúvidas que eu tinha acerca desse fato.

 

Esse capítulo descreve, também, com clareza os sentimentos feudais: “proezas a serviço de uma dama, votos e façanhas que podem ser maravilhosas ou vãs, filtradas pela tradição ovidiana”, escreve Jean Boudout.

 

E escreve, ainda: “Precisa-se dar importância para a contribuição de Marie de France, com peças como Yonec, Lanval, Eliduc e Le Chèvrefeuille, esta última ligada ao dossiê de Tristão e Isolda”.

 

Detalhe: para mim – que não nasci poeta – foi realmente impossível construir minha obra poética sem conhecer e sem ler grandes poetas. Pelo menos, vivenciá-los, como o fiz com Marie de France, quando a conheci, em livros, há uns dois anos, nesse mesmo sebo que encontrei este “Histoire de la Littérature Française”.

 

Uma biografia memorável tem Marie de France. Por exemplo: foi a primeira poetisa francesa conhecida, criadora de narrativas em versos sobre temas românticos e mágicos que talvez tenham inspirado o musicallais (lais), “coleção de doze contos curtos em verso, originalmente escritos em francês antigo no século XII, que narram histórias sobre o amor cortês, aventuras de cavaleiros e elementos de folclore e sobrenatural (wikipedia)”.

 

Em síntese, lendo o III Capítulo, tentei entender de forma clara, toda uma origem, fontes, formas, temas e difusão continental dos romances arturianos. Uma bela tecla da literatura universal que encanta e encantou milhares de poetas e escritores ao longo desses anos.

 

Mas há de se ver um detalhe: “(...) o entrelaçamento de autoridades medievais, poemas narrativos e reorganizações posteriores demonstra como se constituiu um repertório que, ainda hoje, organiza a leitura do medievo literário europeu”, completa Boudout.

 

Bom, vou continuar lendo. É um mundo precioso de aproximadamente 1.200 páginas.

 

*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.

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Padre Gonçalves de Freitas, teólogoHá 4 semanas Ponta Grossa PRMhario, ano passado comecei a ler a trilogia Kingsbridge, do Ken Follett. CVada livro tem 700 páginas. Li o primeiro. Demorou 6 meses, em leituras esparsas. Acho que se você pegar num fim de semana dedicado, você consegue ler esse livro. Pelo menos, até a metade. No momento, como teólogo estou lendo "Teologia da Libertação: Perspectivas", de Gustavo Gutiérrez, publicado em 1971.
Prof. Decano Emílio DrummondHá 4 semanas São Paulo SPMhario Lincoln, a tua coragem é explícita em desdizer o que todo mundo pensa que é verdade. Mas, concordo. Avalon é uma criação ficcional, uma ilha mística das lendas do Rei Arthur, não um lugar real e histórico. Acredita-se que a lenda de Avalon tenha sido popularizada por Geoffrey de Monmouth (esse que vc citou com cátedra) em sua obra "Historia Regum Britanniae".
James Janot. escritor e psicólogo ativo.Há 4 semanas Rio de Janeiro (UFRJ)Vou procurar esse compêdio nos sebos, Mhario. estou escrevendo um trabalho sobre o Rei arthur e preciso dessas informações. Muito obrigado. Também tenho me esforçado bastante para construir minha carreira sólida.
Rafael Leitão LopesHá 4 semanas USP-São PauloExcelente performance literário Mhario Lincoln.
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