
“Águas de Amores”, parceria de Chiquinho França e Mhario Lincoln, chegou ao XIV Festival de Música de Imperatriz (FMI) com a rara combinação de apuro melódico e imagética poética que contagia plateias. Não é apenas a boa recepção: é a consistência de um repertório que a dupla vem amadurecendo há anos — são mais de 50 composições já difundidas pelo Brasil e executadas em rádios de países lusófonos — que a credencia entre as mais aplaudidas e seriamente cotadas para vencer esta edição., com interpretação avassaladora de Negrine e Banda.
A trajetória recente ajuda a explicar o momento. O baião “Eva do Nordeste”, com participação da imortal da APB/CE, poeta e agitadora literária Aldira Martins, ganhou clipe de Victor Tatu, filmado nas matas do Maracanã e no centro histórico de São Luís, e alcançou audiências expressivas em cidades de Portugal. Esse lastro de circulação e qualidade é o pano de fundo de “Águas de Amores”, em que a letra de Mhario Lincoln reencontra o rio Tocantins como território de memória poética e redescoberta de velhos amores, somada à emocionante melodia de Chiquinho França.
A canção envolve imagens diretas e cintilantes: “Eu me lembro daquele rio. Cheio de anjos e querubins” convoca o sagrado para nomear a adolescência; “Rosto de menina. Alma de mulher” captura a transição afetiva entre o encanto e a maturidade; “Quero voltar ao rio. E lembrar dos olhos dela / Feito cetins”, lapida uma metáfora tátil que, em sua simplicidade, fixa o brilho da lembrança. O gesto “Tupiniquins. Somos nós. Tupiniquins”, reancora o sujeito poético "no agora, sem folclorizar. Mas ratifica uma identidade imortal. Nomeei, na letra, a cidade de Imperatriz, não por mero acaso. Mas porque é topografia emocional que devolve a toda a região, sua origem e seus horizontes.
Musicalmente, França organiza o fluxo melódico como o próprio curso do rio: motivos que retornam com pequenas variações, uma harmonia que sustenta o brilho da linha vocal e um pulso que sugere travessia. Não há virtuosismo gratuito; há economia expressiva a serviço do sentido. Esse desenho favorece o canto e, sobretudo, a comunicação imediata com o público, razão pela qual “Águas de Amores” tem sido, com justiça, uma das mais aplaudidas da dupla.
As finais d'O XIV Festival de Música de Imperatriz – FMI acontece nos dias 25 e 26 de outubro, na Concha Acústica da Beira-Rio. Inclusivo é aberto a todas as idades, o evento conta com incentivo do EDITAL nº 004/2025/SECMA/PNAB – FESTEJA MARANHÃO, viabilizado pela Política Nacional de Fomento à Cultura Aldir Blanc (PNAB), sob gestão da Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão (SECMA), e apoio da Fundação Cultural de Imperatriz (FCI), da Associação dos Artesãos de Imperatriz (ASSARI), da Superintendência Municipal de Agricultura Familiar e da Secretaria de Educação. Pelo regulamento, o festival reafirma seu objetivo central de "valorizar a criação e a interpretação da música autoral brasileira, aceitando obras já apresentadas em outros festivais ou disponíveis em plataformas digitais para maximizar alcance e inclusão", explica Zeca Tocatins, um dos mais empolgados com o sucesso do evento.
Na grande final, “Águas de Amores” será defendida por Negrine e Banda, sem dúvida, escolha acertada para uma canção que exige clareza de dicção, entrega emocional e presença cênica. Se o júri buscar síntese entre lirismo, identidade regional e desenho melódico memorável, a faixa de França & Lincoln reúne todos os elementos para transformar aplauso em prêmio.
Parabéns a todos os envolvidos.
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