Para tocar a linguagem das plantas é necessário vibrar através das notas de uma música. Seguir na frequência das ondas. Observar o sutil que há em cada movimento. As plantas leem a intenção das pessoas e respondem a ela.
Não tem como fingir para uma planta. Ela desnuda. Sabe o que está por trás daquilo que foi ou não dito. Elas vivem ou morrem em função desta verdade.
Depois que conclui a faculdade, residi com uma amiga em uma casa de madeira de fundos. Havia um quintal grande. Lá tinha várias touceiras de bulbosas espalhadas pelo terreno. Separei as touceiras e fiz canteiros delineados com tijolos velhos. Ficou um jardim com jeito de casa de vó. Copo de leite com outras aráceas. Sai dali e fui morar com o meu companheiro. Não parava de pensar naquelas plantas. Depois de um mês, voltei na casa e pedi para a nova inquilina se eu poderia levar algumas mudas. Ela disse para eu levar tudo, porque ia cimentar os canteiros. Minhas plantas não me deixaram em paz, pediram socorro. As mudas de ipê que nasceram naquele quintal, a partir de sementes que voaram do quintal vizinho, são árvores que ainda estão na chácara, com mais de 20 anos, dão flores no início da primavera e frutos. As mudas desta folhosa foram replantadas em caixas de leite. Estavam espalhadas naquele jardim.
Minha sobrinha, quando ainda pequenina, estava conosco na mesma chácara que morei por anos, em um determinado momento, teve uma reação nervosa. Eu sempre tinha uns docinhos em formato de bolinhas bem pequeninas em casa. Meu filho, dois anos e meio mais novo que ela, comia. Ensinei a ele a colocar estes doces nos vasos para deixar para os elementais. Pedi para ela, fazer o mesmo. No momento que ela se aproximou dos vasos, quase foi atropelada por um beija-flor. No voo daquela ave, o emocional da criança se confundiu e se transformou em encantamento.
Um dia, cheguei em casa e fui contemplar os meus vasos. Fiquei um tempo com eles, até me distrair do tempo. De repente, não lembro porque, liguei no departamento onde fazia o mestrado. O secretário disse que já tinha tentado falar comigo e não havia conseguido. Se não fossem as minhas plantas teria perdido a minha bolsa de pesquisa.
Residi em Minas a trabalho, por alguns meses, deixei minhas Phalenopsis na casa da minha mãe. Quando ainda em outro Estado, minha mãe enviava fotos dos botões que começaram a se desenvolver de uma delas. Fui acompanhando, de longe, a evolução dos botões até virarem flores. Quando já estava de volta, fui visitar a minha família. Senti que deveria deixar aquela orquídea com a minha mãe e minha avó. Não é de costume esta espécie de orquídea, de forma espontânea, soltar broto, porém, ela ofertou um. Que voltou para casa comigo, em outro vaso.
Recentemente, resgatei uma Phalenopsis do lixo do condomínio. Estava com cara de ter sido tratada como um objeto, sem água, nutriente e luz adequada. Este ser vivo serviu, enquanto tinha flores, despois disto, virou lixo. No dia seguinte, as suas folhas ficaram amareladas e com manchas, achei que não fosse resistir. Logo na sequência, apareceu o sinal de uma folha nova. Ela se despediu do passado, sabia que a história era outra. A folha se desenvolveu. Agora, já possui uma segunda folha nova.
As plantas são exemplos de abundância, prosperidade e resiliência. Ofertam-se e se multiplicam a partir de suas próprias partes.
Estar com plantas é estar em estado de meditação. Quando preciso de equilíbrio, vou ao encontro delas e restabeleço-me. Às vezes, a necessidade é de uma trilha. Estar no meio de plantas que me envolvam por inteira.
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Joema Carvalho, engenheira florestal e escritora. Autora do livro Luas & Hormônios, selecionado e editado pela Secretaria do Estado da Cultura (2010). Participação em várias coletâneas nacionais e internacionais e em projetos literários.
Contato:
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Livro da autora
https://www.amazon.com.br/Luas-Horm%C3%B4nios-Joema-Carvalho-ebook/dp/B08P1Z987P
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BÔNUS-VÍDEO
A Poesia e o Amor é a língua dos Anjos que nos habitam, quando despertos em essência. Assim, somos todos anjos poetas, alguns despertos já começaram à semear sua missão... Hoje Saúde com Vida Sustentável entrevista Joema Carvalho, nossa Escritora Engenheira Florestal Diretora da Elo Soluções Sustentáveis - "Soluções sustentáveis em consultoria ambiental e florestal"- www.elosustentaveis.com.br o primeiro elo de muitos que virão a nos ajudar na cocriação do Nosso Novo Futuro em "Rede dos Alkimistas do Agora!". Joema, mesmo sendo uma pequenina escritora de 5 anos de idade, nos confidenciou ter negado a literatura à princípio, ao acreditar que Ser Escritora era algo muito distante, o que o senhor do tempo veio a provar à ela, exatamente, o contrário. Pois, na expressão de Mulher Contemporânea: muitas em uma só que ela é, aceitou o desafio proposto de unir suas facetas: a de Escritora com o conhecimento profissional da área de engenharia florestal ao organizar um belíssimo sumário temático, exaltando os diversos ecossistemas brasileiros que compõem em poesias e prosas, das nossas poetas e contistas do coletivo: o "Tuíra". O livro, antes o primeiro ebook do Coletivo Marianas e agora, em 2022, acontecerá o lançamento em formato impresso. O "Tuíra" título dado em homenagem a índia - que mesmo frágil e pequena levantou um facão contra a extinção de seu povo devido à construção da Usina Belmonte - tornando-se numa visão ecocrítica: o símbolo de resistência, de protagonismo feminino, junto ao meio ambiente e de sustentabilidade, temas esses abordados na nossa coletânea do Coletivo Marianas.
(Carla Ramos/Saúde com VidaS/ Rede Saúde com Vida Sustentável).