*Mhario Lincoln
Fotos: Facebook de Gilson César
"A arte de Chaplin não está na imagem 'vagabunda' de seus personagens. Mas do que ele extrai dela para passar algo de positivo às pessoas". Mhario Lincoln
A arte mímica é uma das formas mais puras e originais de comunicação. Melhor ainda quando com gestos, olhares e movimentos, o mímico conta histórias, evoca emoções e transporta quem o assiste para dentro de um mundo de imaginação. Mas, onde reside a verdadeira importância desse artista?
O mímico é uma ponte entre culturas e linguagens. Sem a necessidade de palavras, ele ultrapassa barreiras linguísticas e culturais, conectando pessoas de diferentes origens, através de sentimentos universais. Esse domínio da expressão corporal se torna, assim, uma poderosa ferramenta de união e entendimento.
Na Europa, essa arte tem raízes profundas. Desde os teatros gregos e romanos, os gestos eram parte fundamental da comunicação. Cidades como Paris se tornaram berços de escolas e artistas mímicos, com destaque para a École Internationale de Mimodrame de Paris, fundada pelo grande Marcel Marceau, que também é uma das maiores referências mundiais.
No Brasil, o mímico, como em muitas outras formas de arte, passou por períodos de maior ou menor apreciação. Em algumas fases da história, foi visto como primordial para o entretenimento, enquanto em outras, relegado a uma arte secundária. No entanto, este país sempre teve nomes dedicados a essa expressão, que trabalham para manter viva a tradição mímica. Um desses artistas é o meu amigo Gilson César, brilhante, que já me fez chorar de emoção, porque com seu talento, elevado a níveis extraordinários, vi e senti que é possível transmitir profundidade e complexidade, através do silêncio e da expressão.
Esse é Gilson César (muito perto, na vontade e na dedicação, de um Charlie Chaplin ou Jacques Lecoq). Ele é um mímico apaixonado. Sua batalha é constante. É diária, sempre no intuito de valorizar ainda mais seu trabalho profissional. Em uma cidade como São Luís do Maranhão, anos 70/80, onde essa arte ainda era pouco reconhecida, Gilson se tornou um farol para muitos. Seu amor pela profissão e sua determinação exerceram e ainda exercem um laço indissolúvel com a cidade, se tornando não apenas um representante da mímica, mas um símbolo de persistência e amor pela cultura. Eu quis escrever hoje sobre isso, porque a história dele nos lembra que a arte, em qualquer de suas formas, tem o poder de transformar realidades e unir comunidades. E, através dessa luta silenciosa, mas impactante, Gilson mostra que a mímica, assim como a vida, é feita de gestos, pausas e muita emoção.
Claro que essa reflexão imediatamente nos faz trazer para a mesma mesa, crianças (de todas as idades) para confirmar essa saudável relação entre o mímico e as crianças. Assim como um químico mistura elementos para criar reações, esse artista combina gestos para provocar emoções. E as crianças, com imaginação fértil e abertura para o novo, são o público perfeito para se encantar com essa alquimia de movimentos.
Quanto ao riso? O mímico também faz rir? Historicamente, o riso é uma resposta natural e quase imediata a situações inesperadas ou exageradas. Desta forma, Gilson, ao explorar os limites da expressão corporal e criar cenas absurdas ou inusitadas sem usar palavras, também tem essa habilidade de surpreender e desarmar o público, provocando o riso. É o caso de Chaplin, cujas qualidades insuperáveis de uso magistral dessa técnica da "surpresa", criou cenas memoráveis que arrancaram gargalhadas imortais.
Porém, Gilson me falou certa vez, quando o entrevistei rapidamente, em uma das Feiras do Livro de São Luís, (na época, acho que no Centro de Exposições do SEBRAE), que "a mímica não é apenas comédia. Pode ser tão profunda, emocional e introspectiva quanto qualquer outra forma de arte. A comédia é apenas uma das muitas facetas que eu exploro, de acordo com o público presente", completou.
Lembro que também questionei a situação profissional dos mímicos e ele me confidenciou que nos grandes centros urbanos do mundo, "a mímica igualmente tem enfrentado desafios semelhantes a outras formas de arte tradicional". Ele tem razão por um grande motivo: a crescente digitalização da cultura e do entretenimento. Esse fato incide diretamente nos artistas que se apresentam ao vivo, como mímicos, palhaços e artistas de rua, enfrentando certas dificuldades em capturar a atenção de um público que está cada vez mais imerso em seus dispositivos eletrônicos.
Mas nem tudo está perdido. E Gilson César sabe disso: "Mhario, mesmo assim, ainda existem espaços e nichos onde a mímica floresce e agrada muito. Participo de Festivais de Rua, teatros alternativos e eventos culturais não só em São Luís, que frequentemente abrem espaço para artistas como eu. Além disso, a capacidade única dos mímicos de cruzar barreiras linguísticas torna sua arte particularmente valiosa em cidades cosmopolitas e eventos internacionais", confidenciou.
Então, a chave para artistas desse nicho nos tempos modernos é a adaptabilidade. Incorporar tecnologia, explorar novos meios, oportunidades e buscar constantemente formas inovadoras de se conectar com o público. "Isso é o essencial", completa nosso pioneiro da mímica no Maranhão.
Assim, caro amigo, parabéns! Você merece nosso apoio e nosso carinho.
Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira
Em tempo: dessa entrevista rápida que fiz com ele, foi gerado um vídeo, mostrado abaixo: