José Neres e Ziraldo: uma grande experiência de vida
*Mhario Lincoln
"Mesmo sem querer, Ziraldo me deu uma das maiores lições sobre a desvalorização do intelectual das letras em Nosso Maranhão. Explico: Certa vez, ao chegar a uma escola de grande porte de nossa capital, encontrei Ziraldo sentado no hall de entrada, possivelmente, esperando a hora de falar com a diretoria sobre um assunto que nunca ficarei sabendo qual foi. Horas depois, quando eu saí, ele, logicamente, não estava mais lá. Entrou e saiu sem ser pressentido por país, alunos e demais funcionários. Não houve filas para pedir autógrafos, nem aplausos. Apenas sua presença no vazio do esquecimento. Cerca de duas semanas depois, ao mesmo colégio, chegou um ator global para falar sua nova peça teatral. Desta feita, o galã foi levado de sala em sala. As aulas foram momentaneamente interrompidas e uma multidão se acotovelava em busca de um melhor ângulo para tirar uma foto ou para pelo menos posar ao lado do ator. A direção estava em êxtase e alguns professores vibravam de emoção. Hoje, Ziraldo partiu. Ele jamais imaginou que, silenciosamente, havia deixado uma lição naquele outrora jovem professor que tanto leu sua obra e que muito aprendeu com ele. Lição aprendida!"
É impossível ficar calado diante de tão expressiva indiginação entranhada nesse texto acima do professor e acadêmico APB José Neres, porque reflete uma importante questão sobre a valorização dos intelectuais e artistas no Brasil, especialmente no campo das letras e da literatura infanto-juvenil.
Ao lê-lo, pude notar que esse "grito" do meu ilustre confrade da Academia Poética Brasileira ratifica um alerta a essa falta de reconhecimento e valorização dos intelectuais, nesse caso, especificamente ao autor Ziraldo, em comparação com a atenção exagerada dada a celebridades e figuras de uma emissora de TV.
Pelo texto, a grande lição que Ziraldo deixou ao visitar a escola, com certeza, foi sua humildade. Na verdade, ele poderia ter demonstrado isso – pessoalmente – se conseguisse interagir e apresentar suas intenções a todos que lá estava naquele momento.
Aliás, isso me lembra Khalil Gibran, quando disse: "A simplicidade é o último degrau da sabedoria". Dessa forma, Ziraldo deveria ter sido mais valorizado. Só a sua presença em uma escola pública, já seria suficiente. Isso sem nem citar sua contribuição imensa à cultura e legados na educação, especialmente no campo da literatura infanto-juvenil, onde aborda temas relevantes para o público jovem.
Porém causa muita preocupação o nível de conhecimento e a capacidade administrativa de algumas escolas básicas, na velha cidade de São Luís-Ma. É claríssima a evidência, a partir da comparação feita por Neres (um professor responsável e dedicado), entre a atenção dada a Ziraldo e a uma outra pessoa de uma emissora de TV.
Infelizmente senti, cá com meus botões, ser inadmissível tanta superficialidade ao priorizar equivocadamente mais à fama e à imagem de determinadas pessoas, do que o mérito intelectual e artístico (uma arte universal, quero dizer).
Ainda bem que o professor José Neres, ao encerrar seu texto, foi enfático em afirmar que tais fatos, por ele observados "in loco" e "in totum", o levaram a pensar sobre a profundidade dos conceitos existenciais e escreveu: "Ele (Ziraldo), jamais imaginou que, silenciosamente, havia deixado uma lição naquele outrora jovem professor que tanto leu sua obra e que muito aprendeu com ele. Lição aprendida!"
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