O Encontro com o Poeta
Paulo Rodrigues (Relembranças)
Semana passada estive em São Luís para comprar alguns livros, com a intenção de enriquecer a disciplina Literatura Brasileira, que fui convidado a ministrar no Programa de Qualificação de Docentes da Universidade Estadual do Maranhão. Chegando à Ilha do Amor, emocionei-me logo com os pregões dos vendedores do São Cristóvão. Entendi imediatamente as palavras do José Chagas: “o vento leva a poesia por todos os cantos da cidade.”
Desci como de costume no terminal rodoviário. Quando me preparava para adentrar aquele moderno coletivo, várias pessoas tomaram minha frente. Percebi atrás de mim, bem ali pertinho, um septuagenário de barba branca, com olhos que refletiam a grande emoção da existência. O humilde senhor levava consigo uma sacola cheia de livros e manuscritos. O encarei algumas vezes tentando reconhecer aquela singela fisionomia. Alguns segundos depois, percebi que se tratava de um dos maiores poetas vivos do Brasil. Para não deixar dúvida, perguntei:
- Você é o Nauro Machado, não é?
- Espero que seja. De repente o mundo globalizado está tão confuso que eu, deixa de ser eu. Sabia, meu rapaz! Disse o meu irmão de ofício.
Apaixonei-me ainda mais por aquele lavrador das palavras, escultor de grandes versos, e o segui para embriagar-me com aquela filosofia, com aquelas utopias dignas de inspirar qualquer mortal. Voltei a indagar:
- O poeta vai para Pasárgada, levando o grande tesouro?
- Vou degustar os casarões de minha cidade, conversar com meus pares sobre as Letras, bons autores, e principalmente ler na praça mais soturna que eu já conheci. Lá vou-me embora para dentro de mim mesmo, consigo então arrancar poesia da carne. Afirmou com mais simpatia o Nauro.
Terminou de relatar seu itinerário com paciência como se falasse a um irmão. A mim restou a certeza que encontros casuais existem.
Acho que se ele não tivesse descido na segunda parada eu o invejaria mais, muito mais ainda.
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