FLORES
Joema Carvalho
Aprecio vinhos e comecei a degustá-los. A primeira experiência foi através de um torrontés. O sabor e o aroma deste vinho, transportaram-me para um jardim, padrão inglês, com flores brancas: peônia, lavanda, jasmim, rosa e ervas aromáticas... Não queria sair dali.
Entendi que a arte de degustar vinho, se conecta com a pintura de um texto literário, a criação de um projeto de jardim, a elaboração de uma peça de teatro, um filme, as notas de uma escultura. Não é no mundo de cronos, com hora marcada que algo assim acontece. É outra marcação de tempo ou desconexão total dele.
Já li vários questionamentos a respeito desta unidade de medida, desde os que comprovam a sua inexistência ou ineficiência ou aqueles que defendem que esta unidade é comprovada cientificamente. O tempo varia conforme a emoção. O tempo de quem está bem é diferente do tempo de quem está ansioso. Parece que ele até extrapola o relativo e o incerto.
A Valsa das Flores levou-me para aquele mesmo jardim, apesar de Tchaikovsky não ser inglês. Dancei como se fosse um cisne, nadei no céu interno sem sair do lugar, como as flores. Quebrei as cascas das nozes que ainda tinham sobrado.
Dentro de mim, plantou-se um jardim e ele se espalhou. Roubou minhas células. Deixaram de me pertencer. No bico do beija-flor, o néctar percorreu-me. Através das flores, as conexões que nos prendem, transformam-se em uma fórmula mágica, Fibonacci. Um carrossel simétrico absoluto dentro delas. Segui junto do movimento dos planetas, cheguei aonde não consigo ver dentro dos meus átomos em movimento centrifugo, no entorno de um núcleo, que cientificamente, deixou de ser um sólido compacto para tornar-se um sentimento. Energia pura.
Einstein então, convidou-me para seguir o caminho de um dos feixes de raios do sol rumo a Terra que ativou o processo de fotossíntese das flores brancas do jardim inglês. Alimentei-me deste momento, como se não estivesse sob o efeito da gravidade.
nos pergolados de bougainville
Frida transmutou dor
em jardins
sua eternidade
plantada em quadros
“onde não puderes amar, não se demores”
quando se planta
e não vinga
muda-se
tornar-se muda
deixa de dizer
e rebrota
em locais favoráveis
certeza
da não permanecia
as flores elevam a frequência
se posso ser flores
voo dentro de meu universo
broto onde quero
propago-me
gero flores e frutos
oferto-me em abundância
como elas
se expresso meus cromas
exalo o que sei
de forma plena
não me economizo
a ilusão das raízes fixas
limita os inflexíveis
os fluidos espalham-se
meandros que escorrem
a jusante dum desejo.
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