O primeiro maranhense na lista dos bilionários
O HOMEM, OS NÚMEROS, O NOME
Ilson Mateus é o 9º mais rico do Brasil. Grupo Mateus oferta parte das ações neste 9 de outubro, quebra dois recordes na Bolsa de Valores e arrecada R$ 4,6 bilhões. Ilson Mateus e familiares ainda mantêm consigo cerca de 80% das ações.
Este ano de 2020 será inesquecível para bilhões de pessoas no mundo, por motivos iguais para todos -- a pandemia do novo coronavírus. Mas para um brasileiro, maranhense e imperatrizense, além da pandemia (que afetou sua vida, seus colaboradores e seus negócios), 2020 se tornará marcante por motivos igualmente além do controle dele: sócio majoritário (dono) do Grupo Mateus, Ilson Mateus Rodrigues conquista feitos inimagináveis -- embora desejáveis e desejados -- no mundo dos negócios maranhenses e dos grandes negócios corporativos do País. Nesta sexta-feira, 9 de outubro de 2020, o Grupo Mateus, antes familiar, fez a oferta de parte de suas ações e arrecadou nada menos do que R$ 4 bilhões e 630 milhões, feito e valor inéditos este ano na Bolsa de Valores, além de ser a maior estreia de um grupo empresarial com origem no Nordeste do Brasil em toda a história da Bolsa de Valores brasileira.
Textos escolhidos/autor convidado: EDMILSON SANCHES
(*) Jornalista. Consultor. Palestrante. Editor. Bacharel em Administração Pública. Licenciado em Letras.
Um pouco de história...
Somente nesta segunda semana de outubro de 2020 começou a circular nas bancas de jornais de Imperatriz (MA) o número 80, de setembro, da edição brasileira da centenária, prestigiada e famosa revista norte-americana “Forbes”, com a lista das 238 pessoas mais ricas do Brasil -- os bilionários.
Até onde se sabe, pela primeira vez, alguém declaradamente maranhense e, em especial, alguém comprovadamente imperatrizense consta dessa lista – e a ela chegou chegando: ao invés de apenas CONSTAR, veio para CONTAR, entrando logo na NONA posição, ou, em outras palavras, é um dos nove mais ricos do País.
Como está na capa da revista, trata-se de um número diferenciado: é a “edição especial de aniversário” da “Forbes” brasileira, que teve início em 2012, com uma linha editorial “positiva e propositiva”, conforme decidiu o empresário ítalo-brasileiro Antonio Camarotti, que trouxe a revista para nosso País -- e que não deixou de ouvir palavras de descrença de quem argumentava que “o que ‘vendia’ no Brasil era a desgraça”.
A revista foi fundada em 1917, nos Estados Unidos, por Bertie Charles Forbes, mais conhecido por BC Forbes, um escocês proveniente da pequena localidade de New Deer e que se naturalizou norte-americano. Até morrer em 6 de maio de 1954, uma semana antes de completar seus 74 anos de vida, BC Forbes dirigiu pessoalmente sua revista, pois não tinha sido à toa que dera a ela seu próprio sobrenome e a transformara em referência no mundo da economia, negócios, finanças e listas de “mulheres poderosas”, celebridades ricas, e um pouco de notícias do mundo da Tecnologia, das Comunicações, da Ciência e do Direito.
Se, no mundo dos negócios, o assunto é dinheiro -- aliás, muuuuuito dinheiro --, então é “Forbes”. Não sem razão, a “Forbes” é (re)conhecida como “a ferramenta capitalista” (“The Capitalist Tool”). A sede mundial da revista fica em Jersey City, no estado de New Jersey, onde -- pouca gente sabe -- geograficamente se localiza a Ilha da Liberdade e a mundialmente famosa e evocativa Estátua da Liberdade, cujo nome oficial é “A Liberdade Iluminando o Mundo” ou, em inglês, “Liberty Enlightening the World” e, em francês, o idioma em que foi projetada e construída em 1886, “La liberté éclairant le monde”. Ali está esculpida a deusa Libertas, tendo aos pés uma corrente quebrada e, na mão direita, a celebérrima tocha, e, na outra mão, uma tábula de leis, como a lembrar as tábuas mandamentais de Moisés ao povo hebreu. Por acordo, a Ilha da Liberdade é federal mas, digamos assim, é operacionalizada pelo estado de Nova York, ali pertinho, com um porém: todo o dinheiro do turismo vai para o estado de New Jersey.
Nessa história da “Forbes” e de dinheiro entra o maranhense-imperatrizense deixado anônimo lá em cima (pois é no alto que ele agora, e pioneiramente, está...). Ilson Mateus Rodrigues, o bilionário maranhense, tem lá suas parecenças com Bertie Charles Forbes. Os dois têm origem humilde. Ambos tiveram de se esforçar muito. Forbes e Mateus controlam seus próprios negócios. O principal negócio de ambos levam o nome de cada um -- e cada um tem três nomes, o jornalista com 19 letras, o varejista com 20.
A diferença é que, se o escocês Forbes precisou cavar riqueza fora de seu país, o brasileiro Mateus sequer precisou cavar fora de seu próprio estado para se estabelecer -- e quando foi, literalmente, como garimpeiro, escavar fora do Maranhão, não teve sucesso...
O sucesso começaria na própria hinterlândia maranhense, e ele veio certo, de forma líquida -- vendendo pinga, cachaça. E o sucesso não só começou como continuou pela boca dos outros -- vendendo alimentos.
De lá para cá, como o nome daquele trecho musical com aumento progressivo de intensidade sonora, foi só crescendo. Claro, nesse intervalo e até hoje, sem vislumbre de parar, muito trabalho, muitos percalços e obstáculos, algum disse me disse, pois é mais fácil falar do outro do que fazer como o outro, com o outro.
Nessa história de “Forbes” e dinheiro, imagine você que toda a riqueza do Brasil, em 2019, era da ordem de R$ 7 trilhões e 300 bilhões. Pois, entre os 211.755.692 brasileiros, o grupo dos 238 em que agora se encontra o imperatrizense Ilson Mateus Rodrigues tem ou detém, só esse grupo, 21,91% dessa riqueza, ou R$ 1 trilhão e 600 bilhões.
Sendo o único bilionário maranhense na lista miliardária, Ilson Mateus, com seus R$ 20 bilhões, não só é a nona pessoa mais rica como também posicionou o Maranhão na coincidente posição número 9 entre os Estados, praticamente empatando com o Paraná (R$ 20 bilhões e 90 milhões) e superando Pernambuco, Pará, Espírito Santo e Paraíba.
Sem querer fazer pouco, mas o MA de Maranhão e de Mateus, com seus R$ 20 bilhões, “engole”, juntos, três desses estados... O Maranhão, entre 27 Unidades Federativas, está à frente de 18 Estados, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Ceará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Paraná. São Paulo tem 99 bilionários; Rio de Janeiro, 34; Minas Gerais, 24; Santa Catarina, 18; Ceará, 16; Rio Grande do Sul, 14; Pernambuco, 6; Paraná, 5; Goiás, 4; Espírito Santo, Maranhão, Pará e Paraíba, 1 bilionário cada.
A imensa fortuna desses 238 brasileiros poderia ser maior se fossem consideradas as “coisas” de valor que eles, bilionários, não deixaram se tornar públicas. Como diz a “Forbes”, só foram consideradas as informações de acesso público, “oficiais e confiáveis”. As riquezas que, ainda que oficiais, não são de acesso público (a declaração de Imposto de Renda por exemplo, onde se detalham posses, haveres, bens) não integram a soma que cada “richest” (mais rico) tem. Itens patrimoniais como imóveis, aplicações financeiras, dinheiro no Exterior, pinturas, esculturas e outras obras de arte (e de valor), participação financeira em empresas de capital fechado e outros negócios acinzentados mas não escuros nem escusos -- tudo isso ampliaria ainda mais o “totum” financeiro e o “quantum” dos muitos ricos.
O maranhense Ilson Mateus participa de pelo menos dois-- moda, varejo e atacado; e alimentos e bebidas --dos três maiores segmentos, entre 19, em que estão os 238 bilionários brasileiros. O maior segmento é o “financeiro e investimento”, que, sozinho, abocanha mais de um quarto (25,8%) do total, confirmando que “dinheiro chama/atrai dinheiro” ou que “a água só corre para o mar”--claro, com alguns rios e riachos permanentes aqui e acolá, senão não se aguenta...
A quantidade dos brasileiros muito ricos aumentou consideravelmente desde 2012, quando a “Forbes” chegou ao Brasil. Pelos meus cálculos, o incremento foi da ordem de 230,55%: são 238 bilionários em 2020 contra 72 bilionários em 2012. Já quanto ao valor de todas as fortunas somadas, o aumento foi de 362,42%, comparando-se o R$ 1 trilhão e 600 bilhões atuais com os R$ 346 bilhões de oito anos atrás.
Das 146 páginas (46 de publicidade) da “Forbes”, três mencionam, em textos e tabela, o nome de Ilson Mateus Rodrigues. Diz de seu faturamento de quase R$ 10 bilhões e lucro líquido de quase R$ 340 milhões em 2019, mas não disse do faturamento do Grupo no primeiro semestre de 2020, de R$ 5 bilhões e 120 milhões (aumento de 30%) e lucro de R$ 297 milhões e 180 mil (aumento de 62%). Também, a “Forbes” não poderia dizer, mas pôde prever, acerca dos R$ 4 bilhões e 630 milhões arrecadados hoje, 09/10/2020, na Bolsa de Valores.
A “Forbes” conta também um pouco da história do imperatrizense Ilson Mateus, sua passagem como garimpeiro e nenhum pingo de ouro, e como vendedor de cachaça, quando seu ouro começou com a pinga...
É claro, em uma revista como a “Forbes” não há espaço para detalhes sobre Ilson Mateus, como o apelido “Miúdo” e os jogos de bola, na infância... O corpo franzino, Ilson Mateus mantém até hoje, e bola... bem, no plural, talvez só as de dinheiro, que os carros das companhias de transporte de valores vão regular e diariamente buscar nas suas quase 140 lojas e outras unidades empresariais em mais de meia centena de cidades de diversos estados.
Para um estado acostumado a ser pisado e repisado com os piores indicadores socioeconômicos entre as 27 Unidades Federativas,...
...uma terra acostumada a ser rica pela Natureza de Deus e empobrecida pela natureza do homem, pela hereditária vileza político-administrativa que submete seu povo a ser destinatário da pobreza e alvo de adjetivos nada substantivos como, por exemplo, “preguiçoso”,...
...por mais que leituras e subleituras anticapitalistas queiram desdizer ou desfazer, com seu redistributivismo igualitarista retórico ou igualitarismo redistributivista de boca...
...nesse cenário simultaneamente rico e pobre, a história pessoal-empresarial de Ilson Mateus é um alento e, até provas em contrário, é um orgulho. Pois não é fácil -- como não foi rápido (são quase quatro décadas de trabalho constante) --, não é fácil, repita-se, chegar ao topo, ou, como foi apropriado pela “Forbes”, não é fácil “chegar lá”.
Afora os casos fortuitos de heranças e de excelência tecnológica (do mundo da Informática sobretudo), a esse “lá” geralmente só se chega após os 50, 60 anos de idade, nos negócios ditos mais tangíveis. Além do mais, para o “workaholic”, os muito trabalhadores, a luta pelo crescimento permanente ou pela manutenção do “status” empresarial-financeiro certamente consumirá décadas mais.
Isso quer dizer que não há tanto tempo assim para fruição, para gozo, para “gastar” o que se ganhou, “vivendo a vida”. Desse modo, a vida tem de ser vivida no seu percurso, as alegrias têm de ser geradas -- e distribuídas e compartilhadas – no “hic et nunc”, no aqui e agora em que a existência se dá. Tem-se de gostar de trabalhar trabalhando no que gosta, pois assim o próprio viver-prazer se realizaria -- o que chamo, com uma palavra que criei há anos, de “ergolagnia”, o trabalho-prazer ou prazer em trabalhar: do grego “érgon-”, ‘trabalho’ + “-lagneia”, ‘prazer’ (extensão semântica de origem libidinal).
Como quase é praxe ocorrer em ambientes menores e em mentes estreitas, os negócios e o sucesso do Ilson Mateus já foram atribuídos à influência de outros e até à sociedade com gente dita e tida como poderosa, sobretudo politicamente. Que ele tenha sido, e seja, procurado pelas excelsas figuras de sempre, que buscam “apoio$” para campanhas políticas, eu não tenho dúvidas -- só que não há qualquer novidade nisso, nem no Maranhão nem do “A” de Abadia de Goiás ao “Z” de Zortéa, em Santa Catarina, no extenso alfabeto dos 5.570 municípios brasileiros.
O próprio Ilson Mateus me contou o quanto atribuem a outrem o êxito que decorre da luta cotidiana sua e de seus colaboradores: “ – Todo mês me dão um sócio”, disse ele, após mencionar dois dos nomes mais frequentes.
Isso foi há cinco anos, em 23 de setembro de 2015. Mateus e outros quatro empresários foram convidados por estudantes de Administração da Faculdade de Imperatriz (Facimp), a maior instituição de Ensino Superior privado de Imperatriz e região. Ele recebeu homenagens e fez uma palestra, contou sua luta.
A surpresa da noite foi eu ter sido convidado ao palco pelo coordenador do curso para uma homenagem especial, como ex-diretor da Faculdade mas sobretudo em razão de meus trabalhos técnicos, citados em textos e na bibliografia de um livro de Administração que estava sendo lançado naquela noite de quarta-feira, que marcava o encerramento da Semana do Administrador.
Para continuar lendo: https://www.facebook.com/edmilson.sanches.9/posts/10222187966346719
Mín. 16° Máx. 19°