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Cel Carlos Furtado: “A sensação do dever cumprido”

Carlos Furtado é colaborador da Plataforma do Facetubes e presidente da AMCLAM

15/10/2024 às 12h17 Atualizada em 15/10/2024 às 13h11
Por: Mhario Lincoln Fonte: Carlos Furtado
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Nos salões da entrega do troféu Lençois de Areia.
Nos salões da entrega do troféu Lençois de Areia.

 

Carlos Furtado*


"Rei morto, rei posto", esse é um célebre ditado popular que retrata, em outras palavras, que a importância outrora vivenciada é esquecida.
A história nos dá conta que, na França, após a morte de um rei, proclamava-se o novo monarca. Com o passar dos tempos, a frase se popularizou no mundo, por extensão, para aludir à ingratidão dos homens, que, logo após a queda de um senhor, de um chefe, esquecem-no e procuram outro.
O mesmo comportamento se dá no Brasil, quando uma pessoa que ocupava função destacada em alguma atividade deixou de fazê-lo.
Na corporação militar, o dito também não é diferente e pode ser compreendido e demonstrado por aqueles que não reconhecem, não respeitam e não compreendem o sentido dos valores do reconhecimento, consideração e apreço.
Na caserna, só mesmo os integrantes que possuem a dimensão e o entendimento do papel social, da responsabilidade e do sacerdócio compreendem os posicionamentos e as exigências no sentido de que prestem um bom serviço à sociedade: inicialmente, sendo zeloso com sua apresentação pessoal, cumpridor dos horários em que deva estar presente conforme sua escala, bem como desempenhar com excelência, as atividades que deva realizar.


Ainda no serviço ativo, fiquei conhecido como um "Caxias", extremamente rigoroso no cumprimento das minhas funções. Eu era aquele que exigia dos meus subordinados o máximo de empenho, rendimento, responsabilidade e profissionalismo. Meu entendimento era exatamente esse, afinal, a sociedade espera dos seus policiais-militares uma prestação de serviços condizente com a sua condição de seres humanos, em que sejam respeitados os seus direitos constitucionais.


Evidentemente, todos os que trabalharam comigo e que seguiram esses postulados tiveram uma convivência harmônica comigo, e, até hoje, passados quase sete anos após a minha transferência para a reserva remunerada, sempre que nos encontramos, nossos cumprimentos são fraternos e permeados de boas lembranças.


Nesses últimos dias, três efemérides me causaram momentos de significativa satisfação e boas lembranças dos meus gloriosos 35 anos de atividade policial-militar.


Exatamente em um dia 10/10/1987, participei da solenidade militar de declaração de Aspirante-A-Oficial PM na Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, em cuja oportunidade eu e o companheiro Ronaldo Costa Campos integrávamos uma turma de pouco mais de oitenta novos futuros oficiais das Polícias Militares dos Estados de Minas Gerais, Amazonas, Alagoas, Ceará, Mato Grosso, Paraíba, Sergipe e Maranhão, portanto 37 anos se passaram e que, somando-se aos três anos de curso, totalizaram quatro décadas passadas.

Aspirantes 1987.


Coincidentemente, nessa 5ª feira, 10, ocorreu a formatura de encerramento do III Curso de Ações Táticas Especiais no quartel do BOPE. Encontrei os Coronéis do Alto Comando da PMMA, alguns foram oficiais subalternos e intermediários quando eu ainda estava no serviço ativo, alguns trabalharam comigo. Fui bem recebido, fui saudado pelos que estavam envolvidos com a solenidade: o TC Soares Júnior, Comandante do Comando de Operações Especiais; pelo Cel. Márcio Silva, diretor de Ensino; e pelo Cel. Paulo Fernando, atual Comandante Geral da corporação.

No dia 11, ao participar da festa de entrega do Troféu Lençóis de Areia, no Gran Solare Hotel, em Barreirinhas, para receber a honraria, tive a oportunidade de encontrar o Maj. Lopes, SubComandante do 2° Batalhão de Polícia de Turismo, que estava em representação ao Maj. Ramon, comandante da Unidade Policial Militar. Conversamos e tivemos um bate-papo muito agradável quando relembrei muito os bons tempos da caserna.


Desde os tempos em que estava no serviço ativo, observava que, ao passar para a inatividade, era costume os companheiros de caserna evitarem visitas aos quartéis, locais em que haviam dedicado uma vida em atividades profissionais e que muitos conheciam como a palma de sua mão. Passar à nova condição de veterano não me parecia normal, uma vez que somente aquele que, durante muitos anos, viveu e conviveu com todas as particularidades da vida policial e militar pode aquilatar o cerne da vida policial-militar, vencendo intempéries, adversidades,
exigências, superando obstáculos, ultrapassando metas, buscando atingir o impossível para muitos, pois, para nós, é comum vislumbrar frases como: “só quem tenta o absurdo consegue o impossível” ou “não me pergunte se sou capaz, dê-me a missão e aguarde os resultados” e/ou ainda “missão dada é missão cumprida”.


Escolher ser policial-militar é como adquirir uma segunda pele que se investe de autoridade, mas também de responsabilidade, de compromissos, de grandeza. O resultado de suas ações beneficia vidas, uma vez que fazer parte de uma instituição que possui fundamental importância no campo da defesa social implica ser a última barreira entre o bem e o mal, entre a convivência harmoniosa e pacífica e o caos, entre a ordem e a balbúrdia. Onde outras instituições sociais não conseguem estar nos momentos de necessidade, surge aí o último bastião da esperança.


Quantas vezes, nos distantes rincões, falta o professor, o médico, o delegado, o promotor, o juiz, o prefeito, e é o policial-militar que, com o seu preparo, ali comparece ou se encontra para propiciar uma resposta do "Estado". Aí se configura outro velho ditado popular: “polícia é como criança, perto incomoda, longe faz falta”.


Diante de tudo isso, a frase de Honoré de Balzac, prolífico escritor francês, parece sempre atual: “as sociedades passam, mas a polícia é eterna”.


Concluo minha avaliação ratificando o que fica cristalino: sou um policial-militar veterano que vivenciei trinta e cinco anos de minha vida, fazendo o que gostava, atuando em diversos cenários, frentes, conhecendo e ajudando pessoas de bem, retirando de circulação aqueles que pensavam diferente e resolviam ser agressivos com os seus semelhantes, cometiam ações criminosas contra os mais fracos e oprimidos: crianças, mulheres e idosos em sua maioria.


Ao reencontrar companheiros, receber destes a consideração, levando em conta a nossa história na caserna, fico feliz em dizer: nutro com muito orgulho a sensação do dever cumprido.

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*Coronel Veterano da Polícia Militar do Maranhão, presidente da Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares (AMCLAM). [email protected]

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Fabiane Moreira Há 2 semanas São Luís Desses 35 anos, convivi e acompanhei dezesseis e posso testemunhar o amor que este profissional nutria e nutre até hoje por sua corporação e mesmo tendo se passado sete anos em que se encontra na reserva remunerada, é comum vê-lo ainda se emocionar ao se posicionar em frente a estante onde guarda suas comendas, medalhas, troféus, mimos e … lembranças.
Amâncio MouraHá 3 semanas Teresina PiParabéns Coronel. Hoje sua vida está ligada ao sucesso da AMCLAM. Quer coisa melhor do que levar a Literatura ao mais alto píncaro da Gloria? Esse é o nosso novo grito de Guerra.
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