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Quarto de Despejo: “Despertar Pra Conhecer”, de Esmeralda Costa

Esta matéria concorre aos prêmios e Diploma Expertise dos +4 mil acessos, até o dia 27.03.2025

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Esmeralda Costa
03/12/2024 às 16h46 Atualizada em 03/12/2024 às 20h10
Quarto de Despejo: “Despertar Pra Conhecer”, de Esmeralda Costa
Original do texto.

 

Editoria do Facetubes: Carolina Maria de Jesus, autora do emblemático "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada", continua a brilhar como um dos maiores nomes da literatura brasileira. Mulher negra, mãe solo e catadora de papel, Carolina registrou em suas palavras as agruras e os sonhos de uma vida vívida à margem da sociedade. 
Com base nisso, a poeta e cordelista cearense Esmeralda Costa, reconhecida por sua maestria na arte do cordel, presta uma emocionante homenagem a Carolina de Jesus com um longo cordel que destaca a força e a luz de sua trajetória. A quadra final de Esmeralda reflete a essência da luta de Carolina: um farol de luz intensa que ilumina as questões sociais ainda tão presentes no Brasil contemporâneo. Escrito com profundo carinho e emoção, o cordel não apenas celebra a memória de Carolina, mas também confirma a importância de sua obra como um parâmetro para o entendimento e a transformação social. O tributo de Esmeralda Costa reafirma o valor cultural e histórico de "Quarto de Despejo".  O cordel de Esmeralda se torna, assim, uma ponte entre gerações, reavivando a memória de Carolina e incentivando novos olhares sobre a literatura como instrumento de luta e reflexão. 

 

Autora: Esmeralda Costa

 

Nas páginas do seu diário,

Escreve uma favelada,

E por volta de sessenta

Vira obra publicada.

É o principal escrito

Da mulher tão devotada.

 

Com olhar que vem de dentro,

Ela fala da pobreza,

Vai quebrando estereótipos

Que revelam a proeza

Da mulher autodidata,

Cada escrito tem riqueza.

 

Tem por nome Carolina,

Nasceu em Minas Gerais.

A mulher batalhadora,

Dedicada por demais,

Na favela Canindé,

Escreveu seus muitos ais.

 

Denunciou violências

E brigas dos moradores,

Sexo explícito nas ruas,

Com atos reveladores,

Bem na frente das crianças,

De senhoras e senhores.

 

A violência social

Por demais incomodava.

A miséria era o retrato

Que a favela revelava,

E a dor que eles mais sentiam

Era a fome que apertava.

 

É uma obra que retrata

De maneira bem fiel

A realidade triste,

Cotidiano tão cruel

De uma negra, mãe solteira,

Catadora de papel.

 

Na obra se pode ver,

Com grande autenticidade,

A luta de Carolina

Naquela comunidade,

Que enfrentava desafios

E a dura realidade.

 

Dois anos ela estudou

Do ensino fundamental,

Mas nunca considerou

Ser esse o ponto final.

Com garra se dedicou,

Fez lição especial.

 

Acordava muito cedo,

E se dedicava a ler,

Também ia buscar água,

Necessária pra o viver,

Pois só tinha uma torneira

Pra favela abastecer.

 

Uma obra para estudos,

Culturais e sociais.

Seja no nosso país,

Seja também nos demais.

Por ser obra atemporal

Faz sucesso mais e mais.

 

Jornalista Audálio Dantas

A obra prefaciou.

Fez sim pequenos ajustes

E a essência não mudou,

Linguagem de Carolina

Ele muito preservou.

 

Em vinte cadernos sujos

A história foi manuscrita,

Pra depois vir publicar

A obra por ela escrita.

Muito embora existam outras,

É pra muitos favorita.

 

Tem uma linguagem simples

Que foge ao padrão formal.

Mas tem outra rebuscada,

Primorosa por total;

São palavras de quem fez

Da leitura essencial.

 

Carolina se destaca

Pela sua educação.

Cuida sim da sua vida,

Dos filhos, do barracão.

Mas tem muita gente má

Que lhe causa humilhação.

 

Vive com simplicidade,

Dedicação e decência.

É por vezes humilhada,

Mas revela resistência.

E não se deixa abalar

Pela gente sem clemência

 

Seus filhos sabe criar

Com alma e com coração,

E a cada um sabe dar

Perfeita orientação.

Mas as perversas vizinhas

Os maltratam de montão.

 

Humilhavam Carolina

As mulheres da favela,

Pouquíssimas tinham classe

Ou requinte de donzela.

E espancavam sem piedade

Os pequenos filhos dela.

 

E não era nada fácil

Viver naquele lugar;

Ver os filhos passar fome

E fome ter que passar,

Mas a grande Carolina

Não deixava de sonhar.

 

Sonhava ter uma casa

E também roupas melhores.

Vivia catando lixo

Por todos os arredores,

Pois precisava atender

Necessidades maiores.

 

E Carolina sabia

Tratar todos com decência,

Tratava bem as crianças

Com muita benevolência,

Mas muitas lhe apelidavam

Sem nenhuma complacência.

 

Sair daquela favela

Era o que ela mais queria.

Pra realizar seu sonho,

Ela lia e escrevia,

E publicar o seu livro

Era a esperança que via.

 

Na década de cinquenta

Essa história se passou.

Cinquenta e cinco à sessenta

Sua autora registrou.

Desses, apenas dois anos

Nesta obra não constou.

 

Ano de cinquenta e seis

A obra não relatou

Também o cinquenta e sete

No seu texto não constou.

A vida era rotineira:

Fato que se observou.

 

Em pleno século vinte

Essa história aconteceu.

Sobre o tempo e o espaço

A Carolina escreveu;

E a favela Canindé

Fielmente descreveu.

 

Uma obra para estudo,

Para a vida conhecer;

Que com tantos sacrifícios

Traz lições para aprender.

Por isso em vestibulares

Podem ela requerer.

 

Traduzida em treze línguas

Que a tornaram referência.

Dos aspectos sociológicos

Encontramos deferência,

E também dos culturais

A gente toma ciência.

 

Tem figuras de linguagem

Nessa grande narrativa.

Sendo o quarto, uma metáfora

Muito representativa,

Fala da realidade

De forma conotativa.

 

A fome era o principal

Dilema dos favelados.

Eram muitos os pedintes

À esmolas sujeitados.

Que pena ver os pequenos

Pela fome condenados.

 

Carolina, mulher forte,

Foi guerreira destemida, 

Os seus três filhos criou

Enfrentando dura lida;

Enfrentou até a fome,

Mas não desistiu da vida.

 

A cidade de São Paulo

Carolina comparava

À uma sala de visitas

O centro ela equiparava,

E a favela era o depósito

De tudo que não prestava.

 

Favela do Canindé

Uma via se tornou.

Com favelados dispersos

A marginal se formou,

E muitas outras favelas

Em São Paulo se criou.

 

Esta obra eu recomendo.

É obra sensacional,

Pois desperta a consciência

Política e social,

Convidando a dar valor

Para a vida cultural.

 

Luta da mulher de fé,

Não podemos esquecer.

Com a obra registrada

Fez a história valer,

E a publicação do livro

Garantiu novo viver.

 

Por ter asma partiu jovem.

Sua luta ainda seduz.

O seu Quarto de Despejo

É farol de intensa luz,

A Carolina Maria,

Tinha que ser de Jesus.

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JOSE EDUARDO MACIEL RODRIGUESHá 2 semanas Campos SalesEsplêndido.
Joema CarvalhoHá 3 semanas CuritibaApesar de ser a história de Carolina Maria de Jesus, lembrei da Elza Soares. Várias histórias se cruzam no seu cordel. Parabéns! Maravilhoso!
Auri Lopes Há 3 semanas Fortaleza, Ceará Belíssimo trabalho cara confreira Esmeralda Costa. Abrilhantar a história de Carolina Maria de Jesus é declarar respeito pela essência humana, independente de onde ela emana. Pra você, meu mais caloroso aplauso.
Paulo Filho Há 1 mês São João do Jaguaribe CE Parabéns poetisa Esmeralda Costa, pelo lindo trabalho. Assim você só enriquece nossa cultura, cada vez.
JotAlencar Há 1 mês Crato - Ceará Grande Poetisa Esmeralda Costa, parabéns por mais essas belíssimas obras!!!
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