Carlos Furtado
Um artista se foi, levando consigo um universo de cores vibrantes e uma alma inquieta. Robson Miguez, esse camaleão da arte que se expressava em telas, palavras e sons, nos deixou órfãos de sua genialidade. Sua partida, como um eclipse solar, obscureceu, por um instante, o firmamento artístico, mas sua luz continua a brilhar em nossas memórias.
Tivemos o privilégio de conhecê-lo, eu e minha esposa, ao prestigiarmos a abertura da exposição “Cores e Sonhos – Em Nome da Criança, Em Nome da Infância”, a convite do multiartista Uimar Júnior, diretor da Galeria Trapiche. O evento, que reuniu mais de oitenta obras entre telas e esculturas, trouxe elementos e figuras inspirados nas brincadeiras infantis do passado, apresentados em estilo pop art. Naquela ocasião, contamos também com a agradável companhia dos amigos José Carlos e Socorro Sanches.
Posteriormente, soubemos que o poeta e curador Couto Corrêa Filho havia declarado sobre Miguez: “Sem fazer uso consciente de nenhuma referência histórica ou estética, Robson Miguez faz uma pintura de teor primitivo e pessoal, apresentando formas arquetípicas da representação figurativa, aqueles simulacros formais desenhados e/ou pintados pela maioria das crianças do jardim da infância. O artista pereniza essa fase da vida humana em suas telas, revelando sua interioridade, em que a permanência do homo ludens possibilita a criação de um autêntico universo lúdico. Com um procedimento fauve, ele pinta com tinta pura, fundindo zoomorfismo, antropomorfismo e elementos urbanos e fantásticos que estruturam o imaginário infantil.”
Em suas obras, Robson Miguez era uma criança eterna, explorando o mundo com a mesma curiosidade e alegria de um menino. Seus traços infantis, puros e espontâneos, convidavam-nos a mergulhar em um universo lúdico e onírico, onde o real e o imaginário se entrelaçavam em uma dança frenética.
Sua arte era um grito de liberdade, uma celebração da vida em todas as suas nuances. Em cada pincelada, verso ou nota musical, ele expressava sua alma inquieta, buscando, incansavelmente, novas formas de se conectar com o mundo e com os outros. Naquela noite, ao conversarmos com Robson, imergimos em seu universo colorido. Foi como sermos transportados para um mundo mágico onde tudo era possível. A alegria contagiante de suas obras iluminou nossos momentos naquele belíssimo casarão da Ilha do Amor. Desde então, carrego em meu coração um pedaço de sua arte.
Reencontrei-o em outros momentos, cada qual uma nova oportunidade de acessar o universo daquela estrela multifacetada. Além de pintor e escultor, Robson era também escritor. Publicou Faz de Conta (2011), Teatro do Absurdo (2011) e Boca da Noite (2017), todos pela Scortecci Editora. Recentemente, em 8 de agosto de 2024, lançou seu quarto livro, Patrimônio Histórico de Contos, no Casarão do Lest, na Rua da Palma, no bairro do Desterro. Sobre Boca da Noite, o professor e escritor Alberico Rodrigues escreveu: “A obra é um voo literário livre, em que o autor, utilizando-se da força poética da trova, costura uma colcha de retalhos para compor uma verdadeira obra popular. Retratando hábitos, costumes e comportamentos do cotidiano de sua geração e resgatando memórias de outros tempos, o autor realiza essa tarefa com maestria.”
Os livros, as pinturas e esculturas de Robson Miguez são faróis que iluminam o caminho daqueles que buscam a beleza e a verdade na arte. Sua obra é um legado precioso, um tesouro a ser explorado por gerações futuras.
Que a terra lhe seja leve, mestre. Sua obra continuará a inspirar e emocionar por muitos anos. E nós, seus admiradores, seguiremos celebrando sua vida e sua arte como um ato de amor e gratidão.