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Crônica de Eloy Melônio: “PRA LÁ E PRA CÁ”

Eloy Melonio é convidado da Plataforma Nacional do Facetubes

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Eloy Melonio
15/03/2025 às 11h52
Crônica de Eloy Melônio: “PRA LÁ E PRA CÁ”
Arte: Facetubes.

Eloy Melonio

 

Apesar de curtinha, essa frase-título parece nos embalar como se estivéssemos numa rede, ouvindo música no rádio. Ou sacudir nossas percepções como se não soubéssemos aonde ir nem o que fazer. Entre um e outro embalo, uma certa cadência nos permite viajar ao ritmo das nossas ideias e intenções.

Foi assim que eu fiquei, por algum tempo, antes de começar a escrever esta crônica. Minhas ideias ora balançavam pra lá, ora pra cá. Inicialmente, isso me atrapalhou, mas um "estalo" logo desbancou a confusão: "Para tudo! Reconsidera a posição e retoma o caminho". Obedeci. E constatei, mais uma vez, que Clarice Lispector sempre tem razão: "Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas". 

Pronto! O problema parecia resolvido, porque era exatamente sobre isso que eu queria discorrer. Ser ou não ser, fazer ou não fazer, ir ou não ir — dúvidas que fazem parte de um reality show sem câmeras escondidas. Aproveitei a situação e convidei a frase-título para ser minha porta-bandeira. Porque, juntos, numa coreografia apoteótica, começaríamos a provocar as ideias para construir o nosso texto. E, quem sabe, ousaríamos transgredir nossos próprios limites.

Vencido esse primeiro desafio, ficamos — em algum momento — numa ou noutra posição. É possível que, nesse movimento pendular, tenhamos, eventualmente, pisado num ou mais buracos. Mas obstáculos fazem parte do caminhar. O mais importante é que sabíamos aonde queríamos chegar. E, principalmente, que cada surpresa poderia ser um gemido de dor ou um grito de vitória.

Viu aí? Não se pode vacilar! É preciso ter braços e pernas fortes para atravessar de um lado ao outro.

Evidentemente nossas escolhas dependem de uma situação ou contexto. Não vejo melhor exemplo do que a cena bíblica do Jesus crucificado entre dois ladrões. Se a música nos ajuda a organizar nossas emoções, nesse cenário cabe o entusiasmo de Benito de Paula: "Tudo está no seu lugar/ Graças a Deus, graças Deus".

A questão é que não se pode estar num e noutro lado ao mesmo tempo. Nessa cena do Calvário, Dimas estava do lado direito. Poderia até trocar de posição, mas jamais ocupar os dois lados. E, assim, firme em sua fé, tornou-se o primeiro santo do catolicismo.

Essa preleção serve perfeitamente para revisitarmos o conceito de certo e errado. Existe o lado certo? E o errado, qual é? E tudo isso por causa dessa tal “polarização” — uma questão que se diz moderninha e que tenta dividir ao meio o nosso velho mundo. Nunca se falou tanto sobre o lado em que se deve ou não estar em determinadas circunstâncias. E, aí, não é fácil para alguns de nós juntarmos num só pacote razão e convicção, preferência e admiração.

De tão simpáticas, nossas amiguinhas — aqui e ali — passeiam livremente na calçada da poesia. Patativa do Assaré (1909-2002) puxa o laço da solidariedade: "Cante lá que eu canto cá". E aí não tem como não imaginarmos o bom cearense dizendo "quero ouvir a sua poesia" e "quero que você ouça a minha". Longe de casa, o nosso poeta maior expressou, em tom sincero, a sua saudade: “Minha terra tem primores,/ Que tais não encontro eu cá” (G. Dias).

Sabe de uma coisa? Bom mesmo é defender aquilo em que se acredita, fazer aquilo que se gosta de fazer. E isso pode ser aqui, ali ou acolá. Pra lá com os preconceitos; pra cá com o respeito. Parece simples, mas não é. Parece complicado, mas não é. Caramba! As aparências são mesmo um problema à parte!

A jornalista Maria Beltrão, âncora do especial "A Globo no Oscar" (2-2-2025), nunca soou tão unânime ao torcer pelo sucesso de uma conterrânea: "Fernanda brilhou pra lá e pra cá". Falava dos festivais, prêmios, entrevistas e viagens da atriz brasileira que quase trouxe de "lá" para "cá" a estatueta mais cobiçada do mundo do cinema.

Eloy Melônio

A Academia abraçou o filme e deu tapinhas na costa da atriz. "Sorry, lady! Who knows next time!" E, nesse cenário cinematograficamente competitivo, um desfecho assim é um empate com sabor de derrota. Infelizmente, para Fernanda Torres, “Ainda estou aqui” é mais que o nome de seu filme, é uma situação indesejada. Para o Brasil, uma sugestão de que podemos avançar na produção cinematográfica e nas conquistas sociais.

E, felizmente — para todos nós — um bom consolo é a certeza de buscarmos sempre o "lado” certo da vida.

E, assim, amigos, chegamos até aqui na esperança de que — pelo menos na categoria "respeito" — possamos, livre e alegremente, ir daqui pra lá ou vir de lá pra cá — ao cruzarmos a ponte da humanidade.

Eloy Melonio é professor, escritor, poeta e letrista.

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Maura Luza Frazão Há 1 mês São Luís - MAMeus aplausos ao teu brilhante talento literário querido amigo poeta Eloy Melônio. Mais uma vez empreendi interessante viagem em tuas pinceladas harmoniosamente tecidas com a maestria que te é peculiar. Tens minha reverência.
Dora RiosHá 1 mês São Luís- MAO texto demonstra que os desafios contribuem para nosso amadurecimento. Parabéns pela reflexão.
Wilson Chagas Há 1 mês São Luis????????????????????????????????
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