Editoria de Arte e Cultura do Facetubes
"Gosto do cheiro do livro físico. Parece o cheiro do meu autor preferido". (Garmon Shader, editor)
O mercado editorial brasileiro iniciou 2025 em ritmo aquecido, registrando crescimento tanto em volume quanto em faturamento em comparação ao ano anterior. De acordo com a Câmara Brasileira do Livro, houve um aumento significativo na procura por exemplares físicos, mas o avanço do consumo de livros digitais e audiolivros mantém-se como tendência irreversível, impulsionado pela expansão de plataformas de leitura online e a popularização de smartphones.
As motivações para esse salto vão desde o maior interesse por narrativas que abordem conflitos globais, como tecnologias desenfreadas, caos climático e colapso social, até a valorização de conteúdos nacionais e regionais, que atendem à busca do leitor por obras representativas e diversas. O escritor e professor de Literatura Brasileira Júlio Fernandes, autor do romance “Caminhos de Cá e Lá”, acredita que o público vem redescobrindo a literatura local como forma de reafirmar a própria identidade cultural em meio às transformações do mundo contemporâneo, incluindo a preocupação crescente com sustentabilidade e a necessidade de encontrar, no texto, reflexões sobre a realidade brasileira.
Ele aponta ainda que a alta nos preços de produção e as questões econômicas do país são desafios que pressionam editoras e livrarias, exigindo estratégias que tornem o produto literário mais acessível sem perder qualidade ou apelo.
Dados recentes do Sindicato Nacional dos Editores de Livros mostram que 55% dos consumidores preferem adquirir livros online, enquanto 39% ainda optam por lojas físicas, com a Amazon liderando as vendas pela internet, seguida por Mercado Livre e Shopee. Embora as livrarias tradicionais enfrentem concorrência acirrada, muitas se adaptam e criam programações especiais para fidelizar clientes e oferecer uma experiência de compra diferenciada.
É o caso da livreira Mariana Soares, proprietária da Livraria Aurora, em Belo Horizonte, que reforça a continuidade do interesse pelo livro impresso. Segundo ela, embora o digital continue crescendo e o mercado de e-books e audiolivros venha ganhando força, existe uma parcela significativa de leitores que valoriza o contato sensorial e a materialidade da obra física. A comerciante ressalta que parte desses apaixonados por papel busca eventos de lançamento e debates presenciais, o que mantém o fluxo de visitantes em estabelecimentos do setor e incentiva ações conjuntas com editoras.
Especialistas em mercado editorial preveem que a Feira do Livro de 2025, marcada para acontecer entre 14 e 22 de junho na Praça Charles Miller, em São Paulo, reforce essas tendências de consumo literário. Estima-se uma ampliação do espaço dedicado a publicações independentes e a conteúdos que abordem questões ambientais, com editoras investindo em novas práticas sustentáveis para minimizar o impacto da produção sobre o meio ambiente.
Entre as principais dificuldades do setor, contudo, permanecem o aumento no custo dos insumos gráficos, a instabilidade econômica e a dificuldade de fidelizar leitores em cenários de crise. Muitos autores já se voltam para editoras de menor porte ou investem na autopublicação digital, aproveitando plataformas que permitem alcance e divulgação com custos menores. Essa pluralidade de caminhos, segundo a escritora e pesquisadora Ana Luísa Castro, autora de “A Terra que Resiste”, contribui para enriquecer o cenário literário nacional, pois a multiplicidade de vozes e recursos tecnológicos abre possibilidades para experiências criativas que ultrapassam a página do livro e alcançam o ambiente virtual. Mesmo assim, ela salienta que é fundamental manter políticas públicas de estímulo à leitura e de democratização do acesso, garantindo que o crescimento do mercado não se restrinja a nichos de maior poder aquisitivo.
"A adoção de conteúdos regionais, a relevância de pautas socioambientais e a preocupação com a formação de novos públicos podem se tornar fatores de fortalecimento do setor, desde que haja equilíbrio entre o interesse comercial e o propósito de democratizar a literatura". (PwC)
O panorama global também sinaliza perspectivas positivas para 2025, com projeções divulgadas pela PwC indicando avanço do mercado editorial em diversos países. No Brasil, essa movimentação converge com o surgimento de iniciativas que valorizam a leitura como ferramenta de reflexão social. A adoção de conteúdos regionais, a relevância de pautas socioambientais e a preocupação com a formação de novos públicos podem se tornar fatores de fortalecimento do setor, desde que haja equilíbrio entre o interesse comercial e o propósito de democratizar a literatura. Se por um lado a alta nos preços dos livros e a fuga de parte dos leitores representam riscos à expansão sustentada, por outro, o novo perfil do consumidor, mais conectado e consciente, faz com que editoras, autores e livreiros apostem na diversidade de formatos e conteúdos como chave para a longevidade do mercado editorial brasileiro.
**********
Fontes consultadas: Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Nielsen BookScan, PwC’s Global Entertainment & Media Outlook 2025–2029, entrevistas com o escritor Júlio Fernandes, a escritora Ana Luísa Castro e a livreira Mariana Soares.