* Cel. Carlos Furtado
São Paulo, 21 de abril de 2025.
Há dez dias, esta metrópole vibrante se tornou nosso temporário lar, um ponto de convergência de esperanças e ansiedades. Viemos em busca de um alento, de uma luz que dissipe a névoa que envolve a saúde de um filho. Desde seu nascimento, há quatorze longos anos, as febres de origem incerta têm sido uma sombra constante em sua jovem vida, privando-o de uma qualidade de vida plena e a nós, pais, de um diagnóstico que nos traga paz.
Neste período de busca incessante, dividimos o espaço e as preocupações com minha esposa e meu sogro. A fragilidade da saúde também se manifesta em minha sogra, cujo coração luta contra o estreitamento das coronárias, dificultando o fluxo vital que a mantém. Em meio a essa atmosfera carregada de incertezas e cuidados, o destino nos impõe mais um teste. Recebemos a notícia da internação do meu velho pai. Aos oitenta e oito anos, sua saúde, já delicada, sofreu intercorrências dolorosas e sangrentas após um necessário procedimento uretal, forçando sua hospitalização.
Como se a provação não fosse suficiente, a vida nos golpeia com a notícia da perda de um irmão. Uma alma atormentada pelo vício do álcool e do tabagismo encontrou um descanso prematuro, deixando um vazio e a dolorosa constatação de uma batalha perdida. E como se a dor pessoal não bastasse, o mundo se junta a nós no luto, com a notícia do falecimento do líder maior da Igreja Católica, Papa Francisco, um homem que cumpriu sua missão terrena com devoção e inspirou milhões com sua mensagem de amor e compaixão.
Em um intervalo de apenas dez dias, São Paulo se transforma em um misto onde se fundem a esperança pela saúde de um filho, a apreensão pela fragilidade dos entes queridos, a dor lancinante da perda de um irmão e o luto global pela partida de um líder espiritual. A rotina se esvai, substituída por visitas hospitalares, telefonemas ansiosos e a constante batalha interna para manter a serenidade diante do turbilhão de emoções.
Nesses momentos de profunda vulnerabilidade, sinto o peso da responsabilidade e a necessidade premente de exercer o controle emocional. O equilíbrio se torna um fio tênue a ser mantido, enquanto o bom senso me guia na tomada de decisões e no apoio à minha esposa e ao meu sogro, que compartilham essa jornada exaustiva. Cada notícia, cada exame, cada conversa exige uma dose extra de paciência, compreensão e resiliência.
A busca por melhores condições de vida para o meu filho, a preocupação com a saúde da minha sogra, a angústia pela internação do meu pai, a dor da perda do meu irmão e o luto pela partida do Papa Francisco se entrelaçam, testando os limites da minha capacidade de lidar com a adversidade. Que fique claro, este relato não é um pedido para que sintam pena ou dó de nós. Acredito firmemente que as coisas ocorrem quando têm que ocorrer e, como crente em Deus, sei que Ele não nos concede uma cruz maior do que aquela que podemos suportar. Estas palavras são apenas uma forma de exprimir este turbilhão de sentimentos, uma tentativa de aliviar um pouco o peso que oprime o coração.
Ancorado no amor pela minha família e na fé que me sustenta, busco forças para atravessar esta tempestade, um dia de cada vez. A esperança no diagnóstico para meu filho, na recuperação do meu pai, a memória afetuosa do meu irmão e o legado inspirador do Papa Francisco se tornam meus pilares nesta jornada.