
Carlos Furtado
Há pessoas que nascem com o dom de traduzir o invisível, de dar forma àquilo que o coração apenas sussurra. Esses são os poetas — intérpretes do indizível, tradutores daquilo que o ser humano sente, mas nem sempre consegue exprimir.
Têm nas palavras o mesmo poder que o escultor tem no cinzel: moldam emoções, revelam verdades, extraem beleza até da dor.
Em cada verso, condensam o universo dos sentimentos, capturam o instante efêmero e o transformam em eternidade.
Embora, por vezes, me aventure na tessitura de poemas, não ouso considerar-me um poeta. Falta-me o dom de capturar, com plenitude, a essência dos sentimentos humanos. Escrevo o que sinto, e o que sinto me escapa em fragmentos — como água entre os dedos.
Minhas palavras são tentativas, apenas lampejos de percepção que se perdem antes de alcançar a profundidade da emoção verdadeira.
Entendo que o poeta autêntico, toca o outro, porque escreve com a alma aberta, com as feridas expostas e o olhar voltado para o invisível.
É um alquimista da linguagem: não apenas escreve, transfigura. Concede corpo à abstração, ordem ao caos interior, e, ao fazê-lo, revela o mistério do existir.
Sua pena não descreve — revela. Sua arte não explica — ilumina.
Eu, por minha vez, caminho nas bordas desse território sagrado, observando, com respeito e fascínio, os que conseguem transformar a dor em canto e o silêncio em beleza. Escrevo, sim, mas, talvez, como quem busca, e não como quem já encontrou.
Talvez por isso escreva: para me aproximar, ainda que de longe, desse mistério chamado poesia.
Porque a poesia, afinal, é o exercício supremo da alma em busca do sentido — e talvez seja precisamente essa busca, ainda que inacabada, o que nos mantém humanos diante do infinito.
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