Nota do editor: "não sei porque, mas sempre sou instigado a escrever alguma coisa quando leio Joema Carvalho (APB/PR). Em "Canteiro de Lavandas", fiquei pensando em várias coisas, inclusive, voltar no tempo e ir beber na fonte de Santo Agostinho e São Boaventura de Bagnoregio, a fim de evocar a ideia da circularidade do tempo, onde o passado retorna de alguma forma, talvez sugerindo uma visão cíclica da história, mesmo que esses pensadores cristãos não abordassem, diretamente a imagem da "rede, das plantas feiticeiras ou do portal". Porém, suas reflexões sobre a 'natureza do tempo' e da história poderiam ser evocadas para pensar no que escreveu Joema. Santo Agostinho, por exemplo, argumentava que o tempo é uma criação de Deus e que, portanto, está sujeito à sua vontade. Ele sugeriu que, do ponto de vista divino, todos os tempos são presentes, o que implica uma espécie de circularidade ou simultaneidade temporal. São Boaventura, por sua vez, também discutiu a noção de tempo como uma sucessão de eventos que retornam de certa forma, especialmente em sua obra "A Árvore da Vida". Portanto, ler Joema Carvalho é de suma importância, pela maneira criativa como ela consegue desvirtuar o sentido da "mesmice", transformando-o em algo criativo e infinito".
CANTEIRO DE LAVANDAS
Joema Carvalho
Depois de anos, a rede balançou sobre o canteiro de lavandas.
Lavou o resíduo de óleo essencial envelhecido. Estava viscoso.
Conforme a rede balançada o movimento do ar movia aquele aroma particular, a fazendo seguir pelo vento. Deleitava-se sobre as plantas.
O passado voltava e ia no balanço da rede. As plantas feiticeiras deixaram nu os resíduos de um tempo. Abriram um portal. O sorriso do filho de cinco anos. A família que delimitava um espaço dentro do planeta.
Para ter o mundo, o si era suficiente.
A rede ia e voltava.
A teoria era linda em todos os extremos e de fácil reprodução.
A rede acolhia a todas.
Precisava de alguma para acalantar o vazio. As frases prontas eram fáceis de serem reproduzidas. Na falta de silêncio do dia a dia, eram suficientes.
No momento do vácuo do balanço, o ponto mais alto, era efêmero. Era quando não estava nos lados. Entre.
A vida não era nada além de um movimento, uma hora para lá e outra para cá.
Girava nas asas dos insetos sobre as flores de cheiro mágico. A dança deles a levava para o além daquilo que podíamos ver. Ouvida o barulho de suas asas e o vento movendo as plantas.
O presente era o ponto efêmero quando não estava em nenhum dos lados. O que lhe dava conforto na certeza do incerto.
Os seus diversos tempos caminhavam juntos. Sobrepunham-se em igual intensidade. Nega-los seria abdicar de um pedaço de si.
Agora poderia levar uma muda para casa. Conduzi-la em um lugar que a favorecesse. Deixaria disponível os recursos necessários para si, no limite do seu poder e consciência.
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Livro da autora
Luas & Hormônios
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Abaixo, Arte/IA, de MHL