Amanhã será comemorado o Dia dos Professores. Eu disse comemorado? Será que os professores realmente têm algo a comemorar no dia 15 de outubro?
De certa forma, sim. De certa forma, não.
Primeiro, pelo menos no meu Estado, o feriado foi antecipado para hoje, segunda-feira. Ou seja, amanhã cada professor estará em sua sala de aula nas lides cotidianas. Muitos aproveitaram o final de semana prolongado para atualização de seus sistemas e diários. Os prazos são implacáveis e não querem saber de nossos problemas pessoais.
Em segundo lugar, os professores - que são tidos como autoridades nas disciplinas que lecionam - raramente são ouvidos quando o assunto é educação. As propostas chegam em forma de comunicado e a quem detém o poder só interessa ouvir “sim”, “claro”, “lógico”, "muito bem”. Debates, discordâncias e questionamentos são vistos como atos de rebeldia e não como livre manifestação de ideias contrárias.
É importante também lembrar que, entre os profissionais com curso superior obrigatório, os professores amargam a desilusão de terem um salário insatisfatório e uma jornada de trabalho que supera o tempo em sala de aula.
No caso do Brasil, nem mesmo tivemos a paciência para ouvir as propostas educacionais de intelectuais do porte de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Darcy Ribeiro e Paulo Freire, que geralmente são vistos apenas como meras curiosidades históricas em cursos de formação de professores. Se nem eles foram e são ouvidos durante suas trajetórias, imagine os professores que mal conseguem disfarçar o cansaço durante os diversos turnos de sala de aula?…
Os governantes não ouvem os professores, os gestores também não. Os pais muito menos e os alunos muitas vezes nem sabem o nome de seus professores, que geralmente são associados a suas disciplinas: “Vi o professor de matemática no mercado”, “a professora de Geografia é legal”, “Não gosto do professor de Português”... E o pior é que nem mesmo alguns professores suportam ouvir os colegas…
Mas também não podemos negar que a profissão traz muitos bons momentos. É gratificante saber que um dia fizemos algo que mudou a vida de alguém em um momento que não imaginamos qual seja. Essas indeterminações acabam sendo determinantes. É muito bom saber que aquele aluno ou aquela aluna conseguiram alcançar o sucesso. É maravilhoso aproveitar a convivência com os colegas que comungam de ideias afins e que trazem exemplificações divertidas para animar os intervalos.
Em muitos casos, também, o magistério serviu para alguém alcançar um outro patamar na escala social. Não são raros os casos em que mães e pais batem no peito e dizem em tom solene: “Meu filho é pro-fes-sor…”, “Minha filha é pro-fes-so-ra…”. Tudo isso com um indisfarçável brilho de orgulho no olhar.
Mas também temos que conviver com frases como: “Você não trabalha? É só professor?”, “Além de dar aula, você trabalha em quê?”. Mas tudo bem, isso acontece… faz parte do ofício.
De alguma forma, os professores têm apenas um poder: mudar o mundo. Já imaginaram o que essas pessoas poderiam fazer, caso fossem ouvidos? A educação está assim por culpa dos professores. Se não fossem eles, certamente tudo estaria bem pior.
Parabéns aos professores!
Parabéns às professoras!
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