Soneto ao Santo de Pádua
Admirável e adorável Santo Antônio
Nascido em Lisboa, e que em Pádua viveu
Da Santa Igreja, és um grande patrimônio
O amor a Cristo foi, seu infinito apogeu
Para o Católico, Santo Antônio é um tesouro
Não importa, se criança, jovem ou velho
Ganhou o título de: "O Frade Língua de Ouro"
Pelo amor, com que pregava o evangelho
Sua fogueira de amor é intensa luz
Nos braços acolhe, nosso Menino Jesus
A Deus o seu amor, é sentimento divinal
Santo Antônio, é mui amado em todo mundo
A ele a devoção, aumenta a cada segundo
Desde Pádua até, à mansão celestial. (Pedro Sampaio)
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Ouçam-me as palavras (Socorro Guterres)
Vou lembrar-vos a história,
Que fala em corrupção,
De tempos longínquos
Nas terras do Maranhão.
Quem do púlpito proferiu
Tão soberbo sermão
Foi Padre Antônio Vieira,
E por tal ato foi inquirido
Pela Santa Inquisição.
Mas o que dizia o jesuíta
Para assim ser perseguido?
Buscava os direitos dos índios
Que sofriam atrozes penas
Dos brancos colonos portugueses
Nas terras do Maranhão.
E como fazer-se ouvir,
Indagou- se o lisboeta
Que ao Brasil chegou criança
E cresceu na esperança
De melhorar o lugar,
Procurando exaltar
A palavra do Altíssimo,
Para enfim edificar
O amor em comunhão,
Nas terras do Maranhão.
Mas como fazer-se ouvir
Indagava-se em aflição.
Lembrou- se, então,
De um irmão em oração
Que também buscou pregar
A palavra altiva e boa
A quem quisesse escutar.
Era o padre agostiniano
Tornado Frei franciscano,
Santo Antônio, de Lisboa,
Que assim ficou conhecido,
E por não ter merecido
Pelos homens ser ouvido
Mudou o púlpito e a platéia,
Deixou a praça vazia
E para a praia rumou
Onde aos peixes pregou.
Dois Antônios, meus senhores,
Eu vos estou a falar
E tão gloriosos são
Que falando sobre um
Na mente nos chega o irmão.
Mas atentemos no momento
Para aquele enviado
Às terras do Maranhão,
O Jesuíta Antônio Vieira
Que com eloquência e retórica,
Quis aos escravizados indígenas
Mudar a cruel história.
Numa grande alegoria
Invocou a Virgem Maria
Domina Maris excelsa,
Nossa Senhora dos Mares,
E lançou em belo exórdio,
As palavras de Cristo
Num conceito predicável,
Citando do Evangelho
A frase admirável:
"Vós sois o sal da terra".
Perguntou então Vieira
Em solene efusão
A que se devia
Tamanha corrupção
Nas terras do Maranhão.
Se da carne que se deixava corromper
Ou do sal que não fazia o seu dever.
Aos "peixes", como o outro Antônio,
Procurava comover,
Tendo como objetivos:
Docere, Deletare, Movere,
Que posso aqui traduzir
Como, primeiramente, ensinar,
Assim também agradar,
E por último, persuadir,
Ou seja, influenciar,
Alterar comportamentos
A fim de o mal afastar...
Ah se no tempo atual
Ainda se pudesse ouvir
Para evitar tanta dor
Esse grande influenciador.
Mas retomando a questão
A quem se atribuiria
A grande corrupção
Nas terras do Maranhão?
Aos pregadores incapazes
Ou de ações não condizentes,
Ou aos ouvintes ausentes,
Somente interessados
Em suas próprias ações?
Que solução haveria?
Expulsar o pregador
Ou mudar o auditório
Como fez o outro Antônio
Na italiana Arimino,
Uma vez que os homens ingratos
Não o quiseram escutar,
Dirigindo-se ao Mar Adriático
E em alto e forte brado
Aos peixes indo explanar,
Incitando o louvor
Ao Santíssimo Criador.
Desse modo, o jesuíta inovador
Na data devocaticia
Ao Santo que aos peixes pregou,
Subiu ao púlpito confiante
Não para enaltecer
Os milagres e virtudes
Desse bendito ser,
Mas para relembrar
Todo o ambiente adverso
Que fez o frei santo penar.
A antítese se formou
Num jogo de ideias
Que os homens
Aos peixes comparou,
Exaltando esses últimos
Como os primeiros
Que o nosso Deus criou.
E os peixes, em dois grupos,
O sermão separou.
No primeiro, os virtuosos
Foram denominados:
Tobias e Remore,
Torpedo e Quatro- olhos.
No segundo, os defeitos ostentados:
Roncadores, Pegadores,
Polvos e Voadores.
Isso, meus caros senhores,
Rogo- vos com avidez ler
No sermão de Santo Antônio
( aos peixes)
Que malmente estou a discorrer.
Vereis, então,
A grande separação
Entre o mundo dos peixes
E o mundo dos homens.
E talvez possais entender
A grande corrupção
Que se instalou,
Relembro, em tempos longínquos,
Nas terras do Maranhão.
Ou será que ainda persiste
Naquele pedaço de chão
O sal distante da terra
E irmão castigando irmão?
Aqui fica essa reflexão,
Como final peroração.
E se vós podeis escutar,
Não deixeis de levar
Dos Antônios a missão,
Para não se olvidar,
Hereges, céticos e corruptos,
De todo o mundo cristão.
Não esquecendo ainda
O declínio que manchou,
Em dias idos, distantes,
As terras do Maranhão.