Por Mhario Lincoln, editor-sênior da Plataforma Nacional do Facetubes
Confesso minha grande emoção ao ler "Ecos de um instante", de Carlos Furtado, presidente da AMCLAM. Uma mensagem simples, mas de uma profundidade cordiana imensurável porque ele consegue restituir à poesia, seu papel de transcendência em meio à banalidade do tempo.
A palavra escrita por Furtado - analogicamente, como em João Cabral de Melo Neto, deixa de ser apenas instrumento para se torna sentimento vivo — “sou apenas palavras, mas dentro de mim há um grito”. Este verso traduz seu poema como um manifesto da potência da linguagem enquanto vida. Isso é bem importante para o contexto, coronel.
É essa a sensibilidade que você extrapola, quando conversa conosco e com seus amigos próximos, sempre observando a dor alheia - como dizia a filosofia de Emmanuel Levinas: "ser o rosto do outro". Ou seja, um reconhecimento ético e solidário. Portanto, a poesia aqui, como em Drummond, não se fecha em si mesma, mas se abre em várias vertentes. “Eu escrevo para quem precisa / de um pouco de luz”. Ou seja, é um gesto de entrega que resgata o papel social da lírica.
Quando indaga “O que é a vida senão um instante?”, Furtado adentra o território da filosofia existencial e vai buscar para a mesma mesa, Heráclito: tudo flui, tudo passa, e é nesse breve lampejo entre o nascer e o morrer que mora a eternidade. aí, Carlos Furtado escreve: “Somos todos feitos de tempo, / e, por um instante, / somos eternos.” Seria, por exemplo, uma fé poética ou o sentido é de que a palavra pode ser gesto eterno?
O poema, sem dúvida, é uma fusão entre a metafísica e o humano, entre o lirismo e a lucidez, entre a brisa e o caos. Gosto muito quando consigo detectar algo diferente nas poesias - quase catarse - que analiso; essas, escritas nessa linha. São emocionantes por isso. Transbordam o fundo da alma e ai, o leitor consegue olhar essa água, às vezes límpida; outras, nem tanto assim.
Destarte, Carlos Furtado traduz o seu 'eu' em vários focos luzentes. Eu aprecio muito uma linha poética que leve o leitor a saber o que lê e a comparar com sua própria existência.
Não me lembro, no momento, quem disse, mas, lá pelos anos de inauguração da luz elétrica em um povoado do Maranhão, guardei um pedacinho de um discurso dito na ocasião que se coaduna com essa quase catarse de Furtado: "A luz, precisa de cabos, postes para se propagar; e nunca pode ser desconectado um cabo, do outro".
Para quem entendeu, a poética é assim: se não houver um cabo sentimental que leve o sentido da poesia e a auto-concepção do autor, por entre nossas vias nervosas, sem interrupção, pronto: FIAT LUX!
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Ecos de um instante
Carlos Furtado
Eu sou apenas palavras,
mas dentro de mim há um grito,
um eco de mil vozes não ouvidas.
Gostaria que meu verso te tocasse
como uma brisa no rosto,
como o sol que beija a pele.
Sou um ser
dotado de sensibilidade,
aquele que olha a rua,
e vê a dor dos outros,
que escuta o silêncio entre os gritos,
que sente o peso de cada passo.
O que é a vida senão um instante?
O que é o amor senão uma chama
que arde e se apaga,
mas deixa marcas na alma.
Eu escrevo para quem precisa
de um pouco de luz,
de um respiro entre as sombras.
Não sou feito de promessas,
mas de possibilidades.
E quem sabe,
se eu lançar palavras ao vento,
uma delas encontre um caminho
até o seu coração.
Deixe-me ser essa palavra,
aquele sussurro em meio ao caos,
a lembrança suave
de que somos todos feitos de tempo,
e, por um instante,
somos eternos.
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Abaixo o Coronel Carlos Furtado com seus saudosos país.