HISTÓRIAS QUE NÃO PARAM MAIS...
Só para constar: em uma de minhas empreitadas, ainda menino, tentei ser lutador de “Telecath Montilla”. E claro, ser o “Ted Boy Marino”. E quem, não?
"Mario Marino", o ‘Ted Boy” , o verdadeiro, era um ídolo. O galã tinha muita popularidade entre as crianças e o público feminino. O “Telecath” era, na verdade, um ‘espetáculo-marmelada’. Mesmo assim, fazia muito sucesso nas décadas de 60/70.
Pois bem. Para armar a coisa, precisava de um empresário e um cara bom para ganhar no ‘bico’ a plateia e arrecadar uma grana para comprar ‘papagaios’ na Barraca de Zezé Caveira, o melhor artesão de pipas (os 'papagaios', na linguagem maranhense) da história de São Luís do Maranhão e participar das lanceadas no ‘Cuvão’ da Madre Deus.
Foi assim que convidei meu amigo Júlio para ser o empresário. Pedi um dinheiro para tia, a professora Mary Santos, diretora do Ginásio "Costa Rodrigues", (aquela tia xodó da gente) e, com mais três amigos, montamos um ringue na rua dos Afogados, em frente a minha antiga casa. A lona pesada e bem áspera que cobria o tablado era do caminhão de seu “Dega”, entregador de mantimentos. Prestava serviço para a “Mercearia Neves”, onde mamãe tinha uma "Caderneta de Fiado". O pagamento era todo final do mês.
Ringue pronto, formamos dois confrontos. O cara esperto que me referi acima, para recolher a grana, era “Tucum”. Ele recolheria as ‘doações’ da plateia. Fui buscar uma caixa de sapatos de minha mãe (ela nunca soube o que aconteceu com aquela caixa desse produto estrangeiro) e entreguei para ele fazer o serviço.
Assim, enquanto a primeira luta rolava no tatame, ele recolhia a contribuição de quem estava assistindo. Mamãe não tinha a mínima ideia de nada.
Chegou, então, o momento da minha luta. Eu estava ‘crente’ de que eu era o “Ted Boy Marino”. O lutador que escolhi para enfrentar era magrinho (chamava-se ‘Manga’ - uma ideia debilitada do famoso "Verdugo", lembram?). “Uma presa fácil”, pensava eu com minhas sapatilhas altas de napa vermelha e ilhós grossos de bronze, entrelaçados com cadarço tirado das botas do meu tio, expedicionário. Estava nos ‘trinques’. Mas.…
Na primeira investida o adversário me aplicou um “raspa” e eu fui de cara na lona, áspera por receber chuva e sol nas cobertas do caminhão. Cortou a minha sobrancelha e começou a sair muito sangue.
A vizinha da frente, (foi lá que assisti pela primeira vez o que passava em um aparelho chamado de televisão e chorei na propaganda da VARIG, aquela do japonês que queria voltar para sua terra), olhando aquilo, pegou o telefone dela e ligou para o jornal onde mamãe trabalhava - 1533 - esse era o número, inesquecível.
Mamãe tinha uma camionete Rural Willys. Veio em desabalada carreira. Como não sabia dirigir tão bem naquela época e como o carro não tinha direção hidráulica, ao entrar na rua dos Afogados perdeu o controle e derrubou parte da fachada da casa do Delegado do Trabalho - autoridade que morava na esquina.
A partir daí, a inocente luta de “Telecath” virou uma luta campal. Veio ambulância do Pronto Socorro do Hospital Português, a Kombi preta e branca - Chiquita Bacana - da Polícia e o fusca vermelhão dos Bombeiros. Imaginem o bafafá e o tempo que tudo isso durou. E a "inocente" luta de Telecah viou uma verdadeira luta campal, na Rua dos Afogados, no centro da cidade de São Luís-MA, onde nasci.
Passado o susto, procurei o amigo que arrecadava a grana para somar e dividir o apurado. Não o encontrei.
Dias depois fiquei sabendo que “Tucum” aproveitou a confusão e zarpou para a Padaria Santa Maria com a paquera Gracinha. Foram se deliciar com a famosa bolachinha da padaria e com o não menos famoso refresco de maracujá. E gastaram toda a nossa ‘ensanguentada’ grana...
*Presidente da Academia Poética Brasileira
Vídeo Bônus/Youtube
(Uma homenagem ao meu ídolo da juventude)
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