Linda Barros. Professora, Atriz e Membro da Academia Poética Brasileira
“A poesia é uma arte de Deus”, assim disse o grande intelectual José Sarney ao prefaciar a trilogia “Trajes de Luzes”, obra de Laura Amélia Damous que reúne os livros “Brevíssima canção do Amor Constante”, “Traje de Luzes” e “Arco do Tempo” numa só publicação. Essa trilogia unificada traz e carrega o que há de melhor na poética da acadêmica Laura Amélia.
Para muitos, pode até parecer banal quando se trata de poesia, pois podem pensar “ah, é só rabiscar um monte de palavras no papel em branco”. Ledo engano. Escrever já é difícil, imaginem ainda escrever poemas.Criar poesia é um dos atos mais desafiadores no processo de criação de um texto. Escrever é praticamente um PARTO de palavras, “embalamos” no ventre figuras e imagens que são expelidas no papel.
Entre a vigília e o dormir
o sonho absolve a culpa
Amanhecemos gente
Como bem disse o imortal e autor de “Saraminda”, “a poesia é uma arte de Deus. Ela nasce do nada, para a construção de tudo. É uma arte competitiva com a criação do mundo”. Falando assim, parece que é prepotência de alguém que tem a lide da escrita nas mãos, no entanto “lapidar” um texto é árduo e torna-se mágico o resultado desse processo, como podemos observar no poema EXERCÍCIO, que temos palavras aparentemente simples, mas com um jogo de palavras a ser decifrado:
Tuas mãos desenham
uma estranha geometria
curvas que se encontram retas
em direção a um equacionado desejo
Laura Amélia Damous nasceu em Turiaçu,no Maranhão. Muito jovem, com apenas oito anos de idade, veio para a capital maranhense, São Luís, onde começou seus estudos na consagrada escola Santa Teresa.Estudante aplicada, como sempre foi, formou-se bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão.
Sempre com os olhos voltados para cultura, Laura Amélia trabalhou em vários cargos públicos. A escritora esteve à frente do teatro Arthur Azevedo (1983), fato esse que lhe deu visibilidade para alcançar vários status importantes, como Superintendente de Interiorização da Cultura da Secretaria de Cultura (1992).Antes, a poetisa já havia passado pelo cargo de Secretária de Estado da Cultura entre 1987 e 1989. Foi Secretária Adjunta da Secma (1995/1997) e Subchefe da Casa Civil do Governo do Maranhão(1997-2004). Integrou também o Conselho Estadual de Cultura, exercendo o cargo de presidente. Em meio a tantas conquistas, em 2008 foi eleita para o instituto Histórico e Geográfico.
A escritora possui muitas premiações, distinções em reconhecimento por seu trabalho literário e cultural. Laura Amélia é também professora Honoris Causa da Faculdade São Luís. Em seu vasto currículo, carrega o fardão de Imortal da Academia Maranhense de Letras, onde compõe o quadro de intelectuais, e é hoje uma das nove mulheres que ocupam o seleto lugar da imortalidade entre as minorias femininas e, inclusive, compõe a nova diretoria no cargo de vice-presidente, posto ocupado apenas uma vez por outra mulher, que foi a escritora Dagmar Desterro.
A obra “Traje de Luzes: poesia reunida” que carrega o imagético da autora, está completando 30 anos de publicação. A capa ganhou arte nas pinceladas do artista plástico Péricles Rocha, que também é o responsável pelas ilustrações, dando vida e casando imagem e texto. Passaram-se três décadas e ainda assim é um texto muito atual, pois trata do comportamento humano, não importando a época ou lugar. Nessa reunião de poesias, Laura traz consigo o amor à nossa Cidade dos Azulejos, como no poema SÃO LUÍS:
Cidade
cujas noites enxugam o suor
da desumana lida
que me obriga a maldizer
de ti
Não fosse esse teu céu
onde estrelas brincam
de se tornarem humanas
de tão perto que ficam destas mãos
eu viajaria de ti
Na incansável luta por reconhecimento, como é muito comum muitas mulheres escritoras de São Luís, Laura Amélia Damous está no quadro feminino das imortais da Academia Maranhense de Letras e pelo fato de haver poucas mulheres em seu quadro de imortalidade, talvez essas “poucas” sejam o suficiente para desbancar e desbravar os curtos caminhos entre a soleira da porta à chegada ao púlpito (espaço reservado ao discurso do novo/a imortal). Poucas são, de fato, mas como diz o velho dito popular “quanto menos somos melhor passamos”. A centenária AML possui 40 cadeiras em seu total e apenas 9 são de mulheres e hoje Laura ocupa o honroso cargo de vice-presidente da egrégia Academia. Em meio a um quadro tão reduzido de mulheres, podemos afirmar categoricamente que a riqueza literária expressa nessas poucas figuras femininas é gigantesca ao se comparar aos homens que ali estão, basta ter em mãos essa tão rica obra, para se fazer entender a sensibilidade e a criatividade da autora.
Laura Amélia se doa em “Trajes de Luzes” para dar vida às palavras e contar um pouco de sua existência:
ALQUIMISTA
Se entendesses de magias
e mistérios
saberias de mim
e desse riso encravado
na boca esquecidade falar
Em sua vasta carreira literária, sua poesia integra, entre outras, a antologia Poesia Maranhense do Século XX (org. Assis Brasil) e o Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras (de Nelly Novaes Coelho).
Além de Trajes de luzes publicado em 1993 e que reúne três obras: Brevíssima Canção do Amor Constante, publicada em 1985, traz prefácio de Ubiratan Teixeira; Arco do Tempo, em 1987, dessa vez o prefácio está a cargo do inesquecível Jomar Moraes e ilustrações do artista plástico Jesus Santos. Laura Amélia ainda publicou Cimitarra (2001) e Arabesco (2010), Inventário dos Sentidos:poesia reunida (2013).
Laura Amélia Damous carrega consigo a sensibilidade poética de seus versos, no entanto, não se deixa levar pelas pieguices românticas, nem pelas melosas estrofes, seus textos são fortes e vigorosos, deixando o leitor livre para fazer suas próprias conclusões.
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