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César Nascimento: letras com metáforas ricas em sentimentos. "Viva o Desterro"

"PARECE QUE FALTA / CINCO FOLHAS NO JARDIM / TRÊS CORAÇÕES NO QUINTAL"

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario Lincoln/César Nascimento
26/10/2023 às 11h32 Atualizada em 31/10/2023 às 10h40
César Nascimento: letras com metáforas ricas em sentimentos.
MHL e César Nascimento.

Foto: na foto, Mhario Lincoln mostra o CD "O Radinho" que elevou César Nascimento (ao lado), à categoria de artista internacional. É, sem dúvida, a música título imortal, porque expressa uma narrativa histórica que imortaliza um período tumultuado na história do Haiti. Ao fundo, o quadro (Bandeira do Divino) de outro grande nome da música e das artes visuais do Maranhão: Betto Pereira. Ambos residem hoje em Petrópolis/RIO.

 

*Mhario Lincoln

 

Em "Desterro", César Nascimento revive uma narrativa rica em imagens e alegorias, mas com certa melancolia, o que representa o ser humano, dentro do complexo mundo contemporâneo. Porém, é através de uma estrutura lírica aparentemente simples, que o compositor traz à tona reflexões profundas sobre o lugar do Homem, em busca de um sentido mais amplo.

 

"PARECE QUE FALTA 

UM PEDAÇO PRA SE CUMPRIR

QUATRO PONTAS PRA FALAR"

 

 

Então, o que mesmo pode significar os versos, "Parece que falta / Um pedaço pra se cumprir"? A mim me parece ser uma sensação de incompletude, mostrando a continuidade de uma procura de um maior propósito.

Na verdade, há sensação de que a essência sempre vai preceder à simples existência. Assim, o "pedaço que falta" não é apenas uma metáfora, mas uma representação da inquietação do 'fazer' e 'agir', dentro da sua criação musical.

 

IÊ, SINO PRA BATER

BATE SINO, QUE EU QUERO REZAR

 

 

Será que a referência ao "sino pra bater" e o desejo de rezar pode ser uma necessidade de voltar a crer, a ter uma fé maior? Será que o sino (ausente) seria, no fundo, um indicativo da perda da fé ou da conexão espiritual no contexto da criação artística?

 

PARECE QUE FALTA

CINCO FOLHAS NO JARDIM

TRÊS CORAÇÕES NO QUINTAL

 

 

Ao mencionar "Cinco folhas no jardim / Três corações no quintal", Nascimento alude à busca pela simplicidade e conexão com a natureza em um mundo dominado pelo caos urbano e tecnologia abundante.

 

OU O QUINTAL TÁ NO CÉU

OU O CÉU TÁ NO VARAL

 

Eis algo realmente belo e profundo. Pode ter mil interpretações, mas acho que tais versos me forçam a buscar o filósofo Martin Heidegger para a mesma mesa, porque essas líricas se encaixam perfeitamente no conceito “ser-no-mundo”, usado por Heidegger, isto é, o jardim e o quintal são parte do mundo em que vivemos, e as folhas e os corações são formas através das quais experimentamos esse mundo.

Excepcional! Sem dúvida, uma das metáforas mais significativas, contudo, necessitando de reflexões imagéticas mais aprofundadas.

E o principal: todas essas construções poéticas, metáforas e autorreflexões se passam em um bairro dos mais tradicionais da ilha de São Luís do Maranhão: o Desterro, que empresta o nome à composição musical.

Esse bairro é um compêndio vivo da produção cultural brasileira. Em suas ruas estreitas e casarões antigos, ecoam histórias, lendas e melodias que traduzem a efervescência cultural ludovicense. Muitos compositores e artistas, de lá, ganharam o Mundo.

Nesse aconchego posso dizer que a homenagem de César Nascimento vai além da mera evocação de um local. É, acima de tudo, um reconhecimento da importância do Desterro como epicentro de criação e inovação artística, onde também se pode refletir sob metáforas, amores, paixões, saudades e buscas, e onde a beleza e a melancolia (parecem ser evocadas na letra), celebram o espírito resiliente e criativo de suas inspirações.

Em tempo: César Nascimento sempre foi o rei das metáforas musicais, onde as suas músicas são de fácil entendimento, aparentemente. Mas, no fundo, são relicários de um monte de ideias e afirmações subliminares, como seu primeiro grande sucesso internacional: "O Radinho". (Vídeo abaixo).

Vale lembrar que essa música foi um verdadeiro fenômeno nos anos 90, mas imortal, sem dúvida. As suas filigranas fazem referência à invasão Norte Americana ao Haiti.

Este evento ocorreu quando Jean-Claude “Baby Doc” Duvalier, que assumiu o título de “presidente vitalício” do Haiti em 1971, foi forçado a deixar seu país de forma abrupta.

Como se vê, “O Radinho” não é apenas uma música, mas também uma narrativa histórica que imortaliza um período tumultuado na história do Haiti.

É, exatamente assim, através de suas letras, com metáforas cheias de história e filosofia, que César Nascimento consegue ser um compositor de telas, através de sua visão aguçada, arquitetônica e desenhada com cores e espátulas harmônicas, capturando o âmago de cada momento, como se sua hermenêutica fosse o ponto-chave da mágica que transforma suas músicas metafóricas, até certo ponto, em algo que possa ser entendido por quem as ouve.

E são milhares de apreciadores do trabalho desse artista. Parabéns por este novo sucesso! Abaixo, a nova letra, DESTERRO:

 

DESTERRO
( CÉSAR NASCIMENTO)

Ê, IERÊ...
PARECE QUE FALTA  (BIS)

UM PEDAÇO PRA SE CUMPRIR
QUATRO PONTAS PRA FALAR
IÊ, SINO PRA BATER
BATE SINO, QUE EU QUERO REZAR

IERÊ, RÊ...
PARECE QUE FALTA

CINCO FOLHAS NO JARDIM
TRÊS CORAÇÕES NO QUINTAL
OU O QUINTAL TÁ NO CÉU
OU O CÉU TÁ NO VARAL

IERÊ, RÊ...
PARECE QUE FALTA

 

VÍDEO-BÔNUS - "DESTERRO"

CÉSAR NASCIMENTO

 

"O RADINHO"

CÉSAR NASCIMENTO

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