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Reflexões trazidas pelo cheiro do capim-gordura, são memórias afetivas inapagáveis...

O mais novo poema de Joema Carvalho - "DELICADO" - é bem isso!

19/12/2023 às 10h35 Atualizada em 19/12/2023 às 21h22
Por: Mhario Lincoln Fonte: Joema Carvalho
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Joema Carvalho em arte de MHL
Joema Carvalho em arte de MHL

*Mhario Lincoln apresenta Joema Carvalho.

Em uma dança sutil de palavras e memórias, Joema Carvalho, que compartilha conosco seu universo lírico, revela uma conexão profunda e multifacetada com a natureza (interna e externa) e a cultura brasileira, mais aqui do sul/sudeste. Isso eu já havia notado desde quando li "Luas & Hormônios": um mundo só dela, onde as palavras são portas de entrada para suas lembranças e sua identidade. Como bem disse o poeta Carlos Drummond de Andrade: "A poesia é um estado de espírito, um modo de ser, uma maneira de estar no mundo", e essa máxima ressoa claramente nesse trabalho que apreciei muito e em suas novas produções como esta a poesia "DELICADO" , onde há um sutil remanejo de lembranças e relembranças afetivas.

Na primeira estrofe, fui transportado para os campos do cerrado, onde o aroma do capim gordura evoca a infância da autora. É como se a fragrância fosse um elo entre o passado e o presente, entre o rural e o urbano. Essa evocação de memórias olfativas, me trou à mesma mesa, os versos de Cecília Meireles: "A lembrança é uma forma de encontro".

Na segunda estrofe, Joema mergulha na metáfora das lâminas foliares para explorar o aroma do capim gordura. É como se cada palavra fosse uma folha que, juntas, compõem a essência de sua história. Claro que aqui não deixo passar o que aprendi com o incrível e suave Mario Quintana: "a poesia não é para compreender, mas para incorporar". Aliás, essa é minha resposta quando alguém pergunta sobre a poesia.

Na terceira, a autora narra um encontro marcante com uma árvore podre, uma experiência que ecoa como uma metáfora de suas próprias cicatrizes e traumas. No entanto, ela encontra na natureza (repito, dela e da externa), uma profunda conexão com sua identidade, como se fosse uma extensão da árvore-mãe. Quando eu li Guimarães Rosa, eu também senti essa conexão direta com a natureza. Já Joema se vê como uma floresta com clorofila, enraizada em sua origem e vocação.

Na quarta, a engenheira-poeta nos leva a um confronto com a crueldade da exploração animal, em um grito congelado na banha do porco. Ela lembra de músicas de chorinho, onde os sentimentos de amor, saudade, tristeza e alegria se entrelaçam. Assim como o chorinho expressa a complexidade da experiência humana, Joema nos mostra que sua poesia é um eco dos anseios, conflitos e contradições que permeiam nossa relação com o mundo natural e com nós mesmos.

Assim, convido você a se entregar à poesia forte e ao mesmo tempo delicada de Joema Carvalho, a explorar as camadas profundas de sua obra e a descobrir, como eu, as maravilhas que ela tem a oferecer. Suas palavras são como as folhas de suas lâminas foliares, delicadas e poderosas, prontas para nos levar a lugares mágicos e emocionantes.

 

Concepção e Arte: MHL c/IA.

 

"DELICADO"

Joema Carvalho

  

hoje senti o cheiro

do capim gordura

do sítio que ia

quando pequena

 meu nariz dilatou

 

estava forte

trouxe a infância 

para a empresa 

 

talvez algo por vir

ali estava no presente 

 

não teria motivo

para fazer sentido 

a poema explica

as lâminas foliares dum aroma

 

a gordura do capim

conservou o que era bom

os cheiros de tudo

 

do rio que formava piscinas naturais  

do dia que trombei na árvore podre

tirei parte dela de dentro de mim

os fungos conectaram-se carvalho

sou florestal com clorofila

árvore mãe

 

através do capim gordura

a banha do porco

fixou o grito

enquanto morria 

comemos carne

de tatu

 

o chorinho 

diferente do porco

ia 147

"carinhoso"

na fita cassete

 

"naquele tempo"

sem " lamento "

seguia para o agora

nos "botões de laranjeiras"

num "pedacinho do céu"

 

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Joema CarvalhoHá 12 meses CuritibaObrigada Kaka!!!
Joema CarvalhoHá 12 meses CuritibaDr Carlos Soares Foi uma lembrança inusitada e recente. Acredito que tenha esta relação sim. Agradeço o comentário!!
Dr. Carlos Soares Psicanalista Há 12 meses Limeira.A árvore podre pode simbolizar um aspecto ou experiência negativa na vida do indivíduo. O ato de trombar nessa árvore pode representar um encontro inesperado ou confronto com essa experiência negativa.
Dr. Carlos Soares Psicanalista Há 12 meses LimeiraA ideia de retirar essa parte de si pode ser vista como um processo de purificação, onde se reconhece e se livra de aspectos internos nocivos ou limitantes. É um exemplo de como a literatura pode usar metáforas para explorar a complexidade da experiência humana e do crescimento pessoal.
Kaka TrintaHá 12 meses Curitiba Meu Deusssss que foto tão linda trazendo de volta o vinil a fita cassete e a imaginação cheirosa de Joelma. Fechou. Lindooooo
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