Renata Barcellos
Nesta edição, o 'BarcellArtes' homenageia algumas mulheres de destaque nas diversas áreas, em 2023. Elas que fazem a diferença e contribuem para o cenário cultural. Vejamos algumas delas:
Dinorá Couto Cançado: autora e fundadora do AIAB Brasília (aiabbrasilia.blogspot.com)
1-Qual a função social da AIAB? Dinorá Couto Cançado: Fundada em 1995, a função proporcionar as pessoas com deficiência visual uma vida mais digna, mais cidadã, com mais inclusão social, convivendo com seus pares e com pessoas videntes também. O modo de trabalhar nesta biblioteca proporcionou aos cegos e aos baixa visão entrosamento com os videntes escritores. A biblioteca braile é composto de 3 salas cujo objetivo é incentivar a leitura e a escrita de pessoas com deficiência visual. Para isso, várias atividades são propostas.
2-Como surgiu a ideia da AIAB? Dinorá Couto Cançado: Em 1995, era coordenadora de bibliotecas escolares. Chegaram 2 mil livros em braile e duas pessoas com deficiência visual. Eu precisava criar um biblioteca pública com esse acervo. Ela funcionou por 11 anos dentro de uma escola classe. Depois consegui um espaço independente mas ligado à regional de ensino. Continuando a ser pública, mas de forma mais livre. Assim ocorreram diversas ações, atividades... até que, depois de 22 anos, se tornou a Academia Inclusiva de autores brasilienses (em 2023, quase 500 membros). Na AIAB, há 83 membros pioneiros (deficientes visuais) mais 58 escritores patronos e os demais membros.
Estella Cruzmel: artista plástica, poeta, escritora, fundadora do projeto Santa Leitura
1-Qual a função social do projeto Santa Leitura? Estella Cruzmel: A função social do projeto Santa Leitura é criar na criança o hábito de ler de uma maneira lúdica, proporcionando conhecimento, socialização, transformando através do livro a maneira de ver o mundo.
Gina Teixeira: escritora, poeta e presidente da Casa do compositor RJ
1-Qual a função social da Casa do compositor? Gina Teixeira: Realizar parcerias, ponto de encontro, compor as partituras e ISRC das músicas (abreviação de International Standard Recording Code, ou Código de Gravação Padrão Internacional — definido pela ISO 3901, é um padrão internacional de código para identificar de forma única gravações sonoras e de vídeo).
2- O que te impulsionou para as artes? Gina Teixeira: Quando assisti a um musical da Bibi Ferreira, eu disse: é isso que quero fazer o resto da minha vida.
Jammy Said: professora de dança, poeta e fundadora do Projeto Florescer.
1- Qual a importância das Artes na vida? Jammy Said: A Arte é muito importante porque ela é uma Terapia e faz resgate de pessoas. Exemplo: a Arte tem que ser inclusiva e de fácil acesso para todos em Cursos de Projetos como o Meu Projeto Florescer em Niterói aonde através dele Eu Ministro também Aulas de Danças para Mulheres que não tem condições participo como voluntária ministrando Aulas para Outros Projetos, Aulas de Artesanato e também fazendo um trabalho de inclusão de incentivo à Leitura através de Oficina e doações de Livros. A Arte Salva Vidas...Alivia os Sintomas de Ansiedade e Depressão e ajuda as pessoas a se incluir na Sociedade e no meio Social. É imprescindível todas as Escolas Municipais e Estaduais oferecer Aulas de todas as Artes. A Arte dá a opções para os Jovens de Comunidade Carentes. É importante as Associações de Moradores criar projetos com Aulas de Artes ajuda a tirar os Jovens da Criminalidade.
Maria Lídia Tupinambá: pedagoga e coordenadora da Rede de Articulação Nacional dos Indígenas em contexto e migrantes (RENIU).
Quais são os obstáculos na vida dos povos originários ainda hoje? Maria Lídia Tupinambá: Atualmente, ainda existem uma série de obstáculos na vida dos povos indígenas do Brasil, como a demora na demarcação das terras indígenas e o desrespeito a essas demarcações por garimpeiros e madeireiros, que invadem ilegalmente essas terras. Os povos indígenas historicamente sempre tiveram pautas importantes, sobre a questão territorial. Que o Estado brasileiro cumpra o seu papel institucional, que é a demarcação das terras indígenas, a proteção desses territórios e garantindo aos nossos povos vida digna dentro desses espaços físicos. Ou seja, que tenhamos além do espaço recuperado, demarcado, homologado, as políticas públicas chegando de tal maneira e atendendo as necessidades dentro das especificidades que a própria Constituição nos garante enquanto indígena nesse país. O crescente uso de álcool e drogas vem sendo relacionado a situações de invasão de narcotraficantes em algumas áreas indígenas, mas estão especialmente atreladas à falta de perspectivas dos povos indígenas. Para além dos desafios territoriais, os povos indígenas enfrentam, ainda nos dias de hoje, problemas com racismo, preconceito, violação aos direitos das mulheres indígenas, falta de políticas públicas.
Alguns desses desafios territoriais motivaram povos tradicionais a migrar para áreas urbanas. A população indígena que se encontra em meios urbanos vive nas periferias, e sofre todos os tipos de desafios de quem vive as severas desigualdades socio-territoriais: quase não têm acesso a bens e serviços (quando tem é precário) e a políticas sociais, e tem pouco poder aquisitivo e a principal renda de alguns indígenas vem do artesanato. Com a criação do Ministério dos Povos Indígenas e outros órgãos que regulam os direitos da população indígena e os deveres do Estado, como a FUNAI, esperamos realmente que toda essa situação de descaso com a população indígena tenha mudanças. Sabemos que será um grande caminho a percorrer nos próximos quatro anos do atual governo.
Marlene Faveri: professora aposentada e escritora.
1- Qual o maior desafio da mulher contemporânea? Por que muitas sofrem violência?
Marlene FAVERI: O maior desafio das mulheres hoje é não sofrer violências, sejam físicas, sexuais, morais, raciais, étnicas, patrimoniais, etárias, psicológicas. O machismo está em todas as classes sociais, mas as mulheres em situação de vulnerabilidade têm que lidar com situações de abandonos e faltas do necessário para ter vida com dignidade.
2 Qual o maior desafio da mulher contemporânea? Por que muitas sofrem violência?
Marlene FAVERI: As mulheres sofrem violências porque são estruturais, não são fatos isolados, estão na sociedade cuja cultura de inferiorização, preconceitos, desrespeito vem de séculos. Só com educação de gênero em todos os níveis de escolarização será possível reverter tantas violências contra as mulheres.
Reinira28: escritora angolana (site reinira28.com)
1. Qual é o espaço da mulher na literatura angolana hoje? Reinira28: Actualmente, o espaço que a mulher ocupa na literatura angolana ainda não é o desejável, pois é notório que existem muito mais autores do que autoras, o que influencia na existência de mais obras publicadas por eles. Têm maior reconhecimento e vencem a grande maioria dos concursos, tornando evidente a desigualdade do mercado. Apesar das dificuldades, as mulheres têm procurado se afirmar e consolidar-se nesse mercado repleto de desafios.
2. Qual é a função social das literaturas africanas? Reinira28: Penso que a função social das literaturas africanas esteja ligada naquilo que é a divulgação e o resgate dos valores culturais. No caso específico de Angola, a literatura tem sido um instrumento para abordar questões sociopolíticas, o resgate dos valores, da identidade, daquilo que é nacional. Com um mercado dominado por obras estrangeiras, ter obras que retratam aquilo que nos afecta directamente, ajuda a nos conectarmos com determinadas realidades que nos são características.
Sofia Débora Levy: Psicóloga Clínica; Professora; Diretora Educacional do Memorial às Vítimas do Holocausto
1-Qual a função do Memorial do Holocausto? Sofia Débora Levy: A função do Memorial às Vítimas do Holocausto é difundir e preservar a história e a memória do Holocausto de forma honrosa e, desse modo, contribuir culturalmente para a formação de cidadãos eticamente engajados para uma sociedade que respeite os Direitos Humanos Universais.
2-Como surgiu seu interesse pelos estudos do Holocausto? Sofia Débora Levy: Meu interesse pelos estudos do Holocausto surgiu a partir da necessidade de combater distorções historiográficas acerca das vítimas do nazismo, por exemplo, de que não reagiram, e contribuir para compreender quais eram as suas condições psicológicas após cada trauma subsequente e, sim, como conseguiram reagir apesar disso.
Suely Saad: poeta, escritora e palestrante da cultura Árabe- Cigana.
1- Como é visto o povo cigano hoje? Suely Saad: Hoje em dia, mesmo com algumas restrições o povo cigano tem sido acolhido com mais consideração. Alguns tabus foram esclarecidos e a má fama diminuiu muito. As festas são bem frequentadas e elogiadas, as ciganas já não assustam tanto quando na leitura das mãos. Antigamente assustavam as pessoas com lendas de que cigano roubava crianças, eram caloteiros e até chamado de ladrões. Hoje, a convivência é bem social e harmoniosa. Eu mesmo sou sempre muito bem recebida e gozo de muitas amizades, sendo descendente de família cigana. Optchat!!!!
2- Qual a função social dos ciganos? Suely Saad: A função social é mostrar a cultura e os conhecimentos que o povo cigano possui e não tinha oportunidade de mostrar devido ao grande preconceito que os afastava da sociedade. Atualmente, temos ciganos/ as formados em Faculdades e exercendo cargos de responsabilidade. Esperamos que possam ter realmente seus lugares de destaque sem que a origem interfira. Salve o Povo Cigano!!!
Wanda Cristina Cunha: professora, trovadora e presidente da AMT
1-Qual a função social das academias de letras? Wanda Cristina Cunha: As academias de letras são, acima de tudo, guardiãs do patrimônio linguístico-literário da sociedade a que servem. Dessarte, elas promovem a produção intelectual do grupo social de que fazem parte, com o fito de estimular a escrita e a leitura do povo, incentivando gerações e contribuindo para o desenvolvimento social e cultural dos estados e municípios em que estão inseridas. Além dos aspectos internos de divulgar e preservar as obras de seus membros, colocando-os como condutores do saber e disseminadores do conhecimento, as academias também são - dentro do ponto de vista externo - responsáveis por atividades ligadas às artes, às ciências, à cultura, à língua e à linguagem, que favoreçam diferentes segmentos sociais e que sirvam de esteio para conduzir a sociedade ao conhecimento e incentivá-la a ser agente do saber, para dignificação de sua história e sua memória. As academias devem estar à frente das discussões sociais e políticas, porque elas, por meio do trabalho que realizam, servem de espelho para a edificação de bons leitores e cidadãos.
Nesse liame, a Academia Maranhense de Trovas, além do compromisso de disseminar a trova em todo o Maranhão, no artigo segundo do seu estatuto, observa o seguinte: a “AMT tem por objetivo promover e resgatar o espírito da poesia trovadoresca, incentivando a arte desse tipo de composição, além de apoiar a arte dos repentistas ou declamadores de poesias, independentemente de sua regionalização, desde que haja, na construção escrita, recursos inerentes à linguagem rítmica, poética com aplicações de métricas e rimas, tudo dentro do que preveem as normas literárias e o presente estatuto. A Academia também tem por finalidade o cultivo, a preservação, a valorização e a divulgação do vernáculo, em seus gêneros científico, histórico, literário e artístico, podendo participa de iniciativas propícias ao desenvolvimento cultural e social do
Maranhão, incentivando notadamente os escritores, poetas de todos os estilos, em especial os trovadores, elaborando também projetos relevantes de assistência social às comunidades carentes”.
2-O que é uma trova? Wanda Cristina Cunha: A TROVA, no que tange à sua estrutura, é um poema minimalista de forma fixa, composto de quatro versos heptassílabos (sete sílabas poéticas), em que o segundo deve obrigatoriamente rimar com o quarto. Para efeito de concursos de trovas promovidos pela União Brasileira de Trovadores (UBT), entidade responsável pelos destinos da trova no Brasil, é obrigatória também a rima do primeiro verso com o terceiro, da mesma forma que é obrigatória a rima do segundo verso com o quarto. Trova não tem título, mas apesar de pequenina, tem sentido completo. A exemplo de trova lírica, eis o que fora garimpado no coração do trovador Carlos Cunha, patrono da AMT:
Conheço um barco veleiro,
parado no cais, sozinho;
assim sou eu prisioneiro
no porto do teu carinho!
E, assim, encerramos o ano de 2023, com algumas mulheres que fazem a diferença. Precisamos nos fazer ver, sermos reconhecidas. Que venha 2024 com muitas realizações para todas nós!!!
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