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Como estão as culturas brasileiras?

Renata Barcellos é convidada da Academia Poética Brasileira.

16/01/2024 10h30 Atualizada há 8 meses
Por: Mhario Lincoln Fonte: RENATA BARCELLOS
Foto do evento.
Foto do evento.

Renata Barcellos.

Inicialmente, vale ressaltar o entendimento sobre o termo cultura. Por sinal, deveras complexo. Ao longo da história, houve vários definições. Edward Tylor foi o primeiro a formular este conceito. Ele a definiu como sendo todo o comportamento aprendido, independe de uma transmissão genética. Entre outras, há a de Claude Lévi-Strauss: “em toda parte onde se manifesta uma regra podemos ter certeza de estar numa etapa de cultura” (1982, p. 47). Ou seja, um   conjunto   de   sistemas simbólicos (as linguagens, regras acadêmicas, relações econômicas, arte, ciência, religião...) que tentam exprimir certos aspectos da realidade física e social. 

Foto 02

Nestas férias de janeiro, no dia 6 de janeiro, fui empossada como membro efetivo-fundadora da Academia Olindense de Letras (AOL – “Casa de Cristino Campos”, cujo presidente é Raimundo Nonato Serra Campos Filho, meu esposo). Depois da posse em Olinda Nova do Maranhão, fomos conhecendo o interior do Brasil. E Fomos comprovando cada vez mais o quanto somos BRASIS, dada à diversidade de comportamentos, saberes ... hábitos de cada região. Exemplo, alimentação: comer bode ao leite de coco babaçu e arroz de cuxá, no Maranhão; tomar suco de bacuri, no Nordeste; os dialetos como o uso do termo “juçara” para designar o açaí e “caquiar” cujo significado é espreitar... Assim, passando por diversos minicípios e povoados do interior, fui “caquiando” os aspectos culturais de cada lugar. Constatando que, raramente, há um trabalho efetivo em prol da cultura (manutenção das tradições locais como Seresta em Conservatória, no Rio de Janeiro e em Caxias, no Maranhão; o Baile de São Gonçalo, no interior do Maranhão...; o Boi de Nina Rodrigues, do município de Nina Rodrigues). No Estado do Maranhão, foi criado o projeto Farol do Saber. Trata-se de bibliotecas públicas abertas à comunidade.  Estive no município de Anajatuba e tive a oportunidade de conhecer o de lá (ver foto) sob os cuidados de Suelem Moreno Mendes (bibliotecária) que, gentilmente, nos atendeu. E aproveitamos para um breve bate-papo:
- Qual a importância do Farol da Educação na atualidade? Suelem Moreno Mendes: Na atualidade, mesmo com o advento da tecnologia, da era digital,onde muitos deixam os livros impressos para pesquisar nas bibliotecas virtuais, o Farol do Saber não deixa de ter sua importância, já que há muitas fontes de pesquisa na internet. Porém, nem todas podem ser confiáveis.
- E a contribuição deste projeto para a comunidade anajatubense? Suelem Moreno Mendes: 

Foto 03.

Muitas escolas não possuem bibliotecas dentro delas. O Farol da Educação funciona como fomentador de conhecimento, ponto de apoio de pesquisa e de leitura a alunos das escolas das rede municipal e estadual. Exerce um papel social determinante para a inclusão dos indivíduos na cultura da era da informação, em seu papel fomentadora do conhecimento.
Fora esse projeto, o que “caquiei” pelo interior de trabalho voltado para a cultura? Quando há, nada além de quadra de esporte e brinquedos em praça pública para crianças e equipamentos de atividade física para a terceira idade. A maioria também não tem escola e/ou posto de saúde. Tudo é muito longe. Como ficam os idosos? As crianças e os jovens estão matriculados em uma escola? Frequentam-na? Praticam algum esporte? Há incentivo à leitura dos diversos gêneros textuais (do HQ ao Slam)?  Para os estudantes desses locais, é realizado um trabalho diferenciado? A escola oferece aulas e espaço para o desenvolvimento das diversas habilidades artísticas,? Oferecer atividades extracurriculares no contraturno como curso de idiomas, palestras, oficinais... sobretudo voltadas para o mercado de trabalho, no caso do Ensino Médio, para aprenderem um ofício. Não só o governo como também os profissionais da educação, do esporte e da saúde precisam assistir a este Brasil esquecido, realizar um trabalho efetivo, como: bibliotecas, centros culturais (oficinas e exposições de artes plásticas, música, esporte, culinária, literatura, torneios de Slam, concursos literários...). Se cada um contribuir com um trabalho social dentro da sua área de atuação, conhecimento... estará melhorando o seu entorno com perspectiva de vida para os jovens do local. Um exemplo é Beto Diniz: artista plástico e psicopedagogo, membro fundador da Academia Itapecurense de Ciência, Letras e Artes (AICLA). Em uma breve conversa, perguntei a ele: - Você é autodidata? E as aulas de Artes plásticas na escola foram determinantes para escolha da sua profissão? Beto Diniz: Sim, me considero autodidata, pois os meus conhecimentos sobre arte vieram de minhas vivências, curiosidade e contato com outros artistas maranhenses, principalmente Edymar Santos, ao qual o considero como meu mestre. No meu tempo de colégio as aulas de artes não eram muito motivadoras, pois não se tinha na época professores especializados na área, era sempre improviso. O que me motivou de verdade foi a minha aptidão e minha curiosidade. Fiz vários cursos livres, inclusive no Parque Lage, no Rio de janeiro. Sou Pedagogo e Administrador de formação. Lecionei em escolas particulares principalmente a disciplina de Arte, aumentando bem mais o meu conhecimento. Hoje, por gostar muito de estudar, estou cursando o curso de Artes Visuais na UNIASSELVI. Eu diria que só para me credenciar academicamente.
A partir da declaração do artista plástico Beto Diniz, podemos constatar que a escola NUNCA valorizou o desenvolvimento das diversas habilidades. Ele aprendeu por esforço próprio. Conseguiu se destacar enquanto profissional mesmo no interior e sem recursos.
Outro fator a ser destacado: o quanto o trabalho manual e o braçal são desvalorizados. Não há incentivo para lidar com pecuária, agricultura... quem está no interior vive as agruras para contratar alguém para capinar, tirar leite... Em um futuro próximo, como teremos produtos como verduras, leite, queijo, carne e ovos em geral...? Urge sair da “zona de conforto” e agir. Quem nunca foi ao interior, vá!!! É preciso conhecer a dura realidade de um outro Brasil, desconhecido. Só quem vive na zona rural sabe como tudo é dificílimo mão de obra, transporte, acesso à educação e à saúde... É preciso conscientização e realização de um trabalho efetivo para haverá um país melhor. Onde ficam os direitos humanos das pessoas do interior? 
Um outro fator cultural recorrente (na atualidade) são dados pessoais em minicurrículo acadêmico como: casada, mãe, pai... Em uma publicação acadêmica, cabe constar o estado civil do pesquisador (a), se exerce o papel de mãe e/ou pai? O olhar será diferenciado para essas pessoas? Em uma publicação acadêmica, essas informações são pertinentes? Embora se esteja em 2024, ainda há a cultura de que para se ter mais credibilidade, a mulher precisa ser casada e ter filhos. Como se esses papéis sociais lhe fossem obrigados a serem exercidos. Abaixo os rótulos!!!! Constantemente, AINDA se ouve: ‘FULANA JÁ SE CASOU, TEM FILHOS?”, “QUANDO TERÃO FILHOS?’... 
A vida pessoal não deve se misturar com a acadêmica e/ou profissional, os dados referidos só devem constar quando o contexto exigir, como o estado civil e filhos. Do contrário, não interessa saber sobre a vida particular de ninguém. As pessoas precisam ter sensibilidade de não fazerem perguntas que podem levar ao constrangimento. Não se sabe a história de vida dos outros, das suas feridas. Exemplo, às vezes, as pessoas nomeiam prédios, pousadas... com nome de um familiar em forma de homenagem devido a uma tragédia ocorrida e como consequência o falecimento da esposa (o), filha (o)...  Tenhamos piedade da dor alheia!!!
Não se casar e não ter filhos não desqualifica a capacidade intelectual de ninguém (homem ou mulher). Uma parte das mulheres optam por não exercerem tais papéis. São independentes e livres. Não dividem seu espaço com NINGUÉM. Querem chegar aonde for e sair de lá, sem precisar dar satisfação e a hora que bem entender. Optam por se dedicarem a vida acadêmica e/ou profissional. Querem viajar, estudar, conhecer diferentes culturas... contribuir para um mundo melhor através de sua dedicação acadêmica e/ou profissional. Devemos nos conscientizar de que cada um tem livre arbítrio para fazer suas escolhas. Urge respeitar a de cada um. O mundo evoluiu tecnologicamente; mas, culturalmente, está só retroagindo.                 As pessoas devem evoluir! Haver controle de natalidade... O Ministério da Saúde precisa realizar campanhas sobre a temática, as doenças sexualmente transmitidas... É preciso dar um basta à cultura de que mulher é sinônimo de maternidade. Marido e filhos são opcionais. E para vida acadêmica e/ou profissional deve conter sua trajetória de estudo e/ou profissional apenas. Lutemos pelas culturas brasileiras, defendamos os BRASIS!!! 

23 comentários
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Sidnei Manoel FerreiraHá 7 meses São José - SCParabéns pelo texto, Renata!!!
Professor José de Ribamar MendonçaHá 8 meses JACAREPAGUÁ. RIO DE JANEIROOlha só. Que educação professora. Respondeu às minhas dúvidas. Obrigado. Lembro que quando a senhora for mais específica em seus textos, terá mais admiradores como eu..falar de educação an passand não é suficiente. Tem que adentrar na ferida e tentar curá-la com suas opiniões fortes.
Renata da Silva de BarcelllosHá 8 meses Rio de JaneiroProfessor José de Ribamar, Escrevo sobre assuntos contemporâneos mas sempre articulando com a educação...
escritor João SóHá 8 meses Recife-PernambucoMuito boa matéria. Nos enrique saber que os brasis são vários brasis e que a cultura é na verdade, um fragmento de várias tendências politico-partidárias. Infelizmente. Uma boa aula, professor. A nossa cultura está na UTI.
Lícia MadureiraHá 8 meses Rio de Janeiro RJAnotei, professora. Eu cometia muitos erros assim. (ra ra ra). A vida pessoal não deve se misturar com a acadêmica e/ou profissional, os dados referidos só devem constar quando o contexto exigir, como o estado civil e filhos.
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Sobre Renata Barcellos
Entrevistas, textos acadêmicos e ensaios da profesora carioca Renata Barcellos.
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