A LINGUAGEM DO SILÊNCIO DE ROGÉRIO ROCHA
Joizacawpy Costa
A linguagem do silêncio por si só evoca a filosofia, sim, o ato de ouvir e perceber nuances no silêncio que fala, em nós e em tudo que nos rodeia, o silêncio que revela, coisas, pessoas, almas, ações, aquele que cabe o mundo.
E assim Rogério Rocha percorre o caminho do silêncio em sua obra revelando sons, imagens e projeções.
"O prego que fura a mão/o dente agudo do cão/o estrondo da bomba-relógio/ o talho de um caco de vidro/a carta de um suicida/um amor que lambe feridas/tudo é perda, perdição/É risco de morte, é grosso calibre/ em mãos nervosas".
O poeta nos traz as extremidades sentir o que pode resultar no extremo, no limite do ser humano, envolvendo pensamentos, sentimentos e ações.
Bem mais adiante na sua jornada de escrita, o poeta brinca com as palavras e com as rimas, mas não é uma mera brincadeira apenas para oferecer um métrica pensada perfeita, há sentido nos trocadilhos que se envolvem em contextos cabíveis e palpáveis. "Sinto-me só/no sótão/sinto-me pó/no porão/... falta-me o só do sótão/falta-me a falha só vão/falta-me o cisco do grão/falta-me o pó do chão/sob a sombra de um cão.
O silêncio fala em uma linguagem que necessita ser desvendada, para tanto é preciso ter calma para ouvir o que ruído nenhum pode revelar, nem mesmo o estrondo é tão significante quanto o silêncio que fala.
E numa enxurrada de subjetividade Rogério escancara as suas possibilidades onde sua mente prenhe de ideias vai tecendo versos, alguns desafiadores, de tão profundos e peculiares. "Nem mesmo Quintana/No fundo da sala/ Entende meu verso/Ou o fluxo da fala/do meu universo.
A linguagem do silêncio de Rogério Rocha é um desafio prazeroso para mente de quem se atreve a sair de eixos delimitados, do conhecido, do meramente corriqueiro, mesmo o dia a dia em sua escrita torna-se um braço de filosofia.
Quão significativo e instigante é a composição do autor quando caminha pelas veredas do amor. “Nosso amor não faz concessão/É um amor sem paradigmas”. Corajosamente Rogério revela que seu amor não precisa de modelos preestabelecidos, que tenham receitas e normas ditadas e prontas, e arrisco dizer que seu pensamento externa a sua autenticidade de vida e de saber ser único e como único tem suas peculiaridades e suas próprias escolhas, isso é fantástico.
Em VAGA LEMBRANÇA DA ESTÁTUA ARRUINADA (A Ivan Pessoa) Rogerio diz, “Minha pele está no bronze/sobreposta a um pedestal/no centro da praça central/ onde ao meio-dia e onze/alguns pombos sem noção /recebem pedaços de pão/e como por cima de escombros/defecam sobre meus ombros”. Somente a sensibilidade do poeta consegue captar essas sutilezas a frieza do bronze que retrata o grande nome à mercê dos detritos dos pombos. Esse momento evoco em mim uma lembrança caro poeta, um dia eu estava passando na praça João Lisboa com meu pai, olhei a estátua de Lisboa e falei, pai sou uma escritora, mas um dia eu não vou querer uma estátua na praça, e ele perguntou, por que filha? eu disse “não quero pombos defecando em minha cabeça”, e começamos a sorrir.
A Linguagem da Ausência de Rogerio Rocha é uma verdadeira pérola, mas para ser apreciada exige entrega ao ato de ler, é preciso não só enxergar seus versos, é preciso sentir e degustar de uma poesia única cheia de entrelinhas convidativas a entendimentos profundos.
Joizacawpy Muniz Costa
Membro da Academia Poética Brasileira, Membro da Academia de Letras e Artes Maçônicas do GOB-MA; Secretário de Cultura Adjunto do GOB-MA; professor, escritor, filósofo e servidor do poder judiciário estadual. Pós-graduado em Direito Constitucional pela Anhanguera-Uniderp/LFG e Mestre em Criminologia pela UFP/Porto-Portugal. Foi segundo colocado no Concurso Gonçalves Dias em 2019, na categoria de poesias, e premiado na categoria contos e crônicas em 2020. Possui contos e poemas publicados em coletâneas, jornais e sites; participou da coletânea Poemas da pandemia, promovida e editada pela União brasileira de Escritores seção Goiás ; é autor dos livros "Pedra dos Olhos" e "A linguagem da ausência" [poemas] e participou, com o verbete 'Medo', do Dicionário Crítico-Hermenêutico Zygmunt Bauman, publicado pela Editora da Unijuí/URI, de Frederico Westphalen, RS.
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