Domingo, 08 de Setembro de 2024 02:39
editor-sênior, jornalista Mhario Lincoln
Cultura Educação/Literatura

O que estaria embutido em obras de reminiscências de infância de grandes autores brasileiros?

Esses autores não apenas documentam as realidades de suas épocas, como também incentivam a reflexão e o debate sobre como melhorar essas instituições para as futuras gerações.

24/08/2024 19h03 Atualizada há 2 semanas
Por: Mhario Lincoln Fonte: Redação do Facetubes
Arte: MHLAI
Arte: MHLAI

A TRISTE REALIDADE EDUCACIONAL DE “O ATHENEU”, “CAZUZA” E “POLICARPO QUARESMA”.

Redação do Facetubes*

 

O escritor e poeta Raimundo Fontenele sugeriu que o Facetubes escrevesse algo sobre o livro "O Atheneu", de Raul Pompéia, logo após ter lido sobre "Cazuza", também publicado neste (www.facetubes.com.br)

Nossa equipe caiu em campo e fez esse resumo interessante sobre essa obra, onde cada personagem representa diferentes facetas da vida escolar e, por extensão, da sociedade. Por exemplo, Sérgio, o narrador, é um observador sensível e crítico de seu entorno. Aristarco, o diretor, é a personificação do autoritarismo e do pedantismo, simbolizando o poder e a hipocrisia das instituições. Dona Ema, sua esposa, participa do sistema dominante do colégio, enquanto alunos como Rebelo, Sanches, Franco e Barreto representam, respectivamente, o aluno modelo, o amigo, o rebelde e o devoto religioso. Esses personagens são utilizados por Pompeia para explorar temas como a falsidade, a manipulação e a perda da inocência.

Outro aspecto notável da obra é a sua rica linguagem descritiva e o uso intensivo de ironia, que permite a Pompeia criticar as convenções sociais e educacionais de seu tempo de maneira sutil, mas profundamente eficaz. Segundo o crítico literário Alfredo Bosi, "a ironia do narrador serve como uma ferramenta para desmascarar as pretensões e as hipocrisias da elite dirigente" (Bosi, 1992).

Na verdade, "O Ateneu" de Raul Pompeia não é apenas um relato da vida escolar; é uma obra que desafia o leitor a refletir sobre a natureza da educação, da sociedade e do próprio ser humano. Aliás, em quase todos os trabalhos de autores brasileiros que remetem à vida escolar, tem pormenores embutidos que o leitor deveria prestar um pouco mais de atenção e se libertar somente da ideia ficcional e ler como um crítico em educação brasileira. Se não, vejamos:

A análise das obras literárias brasileiras do início do século XX revela uma crítica recorrente ao sistema educacional da época, que é articulada por meio das experiências pessoais dos autores em instituições escolares. Este fenômeno pode ser observado em obras como o próprio "O Atheneu", acima resumido, de Raul Pompeia, "Cazuza" de Viriato Corrêa, e "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto.

Esses autores usam suas narrativas para refletir críticas sociais profundas, particularmente em relação à rigidez, ao autoritarismo e às deficiências do sistema educacional brasileiro.

Raul Pompeia, em "O Ateneu", especialmente, como visto, apresenta um retrato crítico e detalhado de um internato onde a corrupção e a hipocrisia são prevalentes, refletindo as falhas do sistema educacional como um microcosmo da sociedade brasileira mais ampla​.

Lima Barreto, por sua vez, através de "Triste Fim de Policarpo Quaresma", critica a nacionalidade excessivamente idealizada e a burocracia ineficaz, manifestando-se também contra as instituições educacionais que promovem tais ideologias.

Essas críticas literárias são ancoradas em um contexto histórico em que o Brasil passava por intensas transformações sociais e políticas. O movimento modernista, que começou nos anos 1920, por exemplo, questionava ainda mais profundamente as normas culturais e educacionais estabelecidas, promovendo uma ruptura com os arcaísmos do passado e adotando uma linguagem literária livre de restrições anteriores​.

Mas como está hoje a educação brasileira, em pleno século XXI, com toda a modernidade virtual? Será que esses romances ainda estariam em alta? será que pelo menos 90% da população discente das escolas de educação básica conhece os autores citados?

Bom, em rápida pesquisa chega-se à seguinte conclusão: a comparação entre a educação básica no Brasil dos séculos XX e XXI revela mudanças significativas em termos de políticas, métodos e desafios enfrentados. No século XX, especialmente nas primeiras décadas, a educação era vista como um privilégio restrito aos grupos sociais mais abastados. "Com a criação do Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública em 1930 e o movimento dos Pioneiros da Educação Nova em 1932, houve uma mudança qualitativa na percepção do estado e da sociedade sobre a educação como um bem público e um direito social​". (Redalyc.org)​.

No século XXI, a culpa pela baixa excessiva, com perdas educacionais de grande significação, recaiu na pandemia de COVID-19, fato, inclusive que levou "o Banco Mundial a apoiar uma estratégia de recuperação da educação no Brasil. Esse plano, teve como foca a redução da evasão escolar e melhoria da qualidade do ensino​" (World Bank)​.

Porém, as políticas públicas, tanto em Brasília, quanto nos estados e municípios, não acompanharam essa tentativa de melhoria no ensino, a começar pelos baixos salários de professores e pouco interesse e quase nenhum incentivo aos cursos de Pedagogia. "Uma pena porque é a educação - com livros - que salva", disse Ziraldo em um programa "Roda Viva".

Portanto, continuam protestos (ainda surdos) nessa tão importante área brasileira, apesar de avanços em acessibilidade e políticas inclusivas. Há pesadas críticas à qualidade da educação e à competência administrativa das escolas públicas, onde a maioria dos seus gestores é escolhida, apenas, por simples indicação política.

Então, até quando a educação brasileira vai passar efetivamente por um momento de "discussões efetivas sobre a relevância e adaptação dos currículos para refletir as necessidades sociais, históricas e linguísticas do Brasil, fatores são essenciais para que a educação possa realmente servir como um instrumento de transformação e desenvolvimento social?​” (SearchWorks)​.

Desta forma, essas observações críticas sobre a educação que estão impressas nessas obras "O Ateneu", de Raul Pompeia, "Cazuza" de Viriato Corrêa, e "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto são muito mais que simples histórias de "experiências de garotinhos na escola".

Na realidade, são reflexos do papel da literatura como um espelho social (visível), onde esses escritores usam suas experiências pessoais e observações para comentar e criticar as falhas percebidas nas instituições de seu tempo. Ao fazer isso, eles não apenas documentam as realidades de suas épocas, mas também incentivam a reflexão e o debate sobre como melhorar essas instituições para as futuras gerações.

Mudou alguma coisa?

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Equipe de Pesquisa do Departamento de Biblioteconomia do Facetubes.

5 comentários
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Raimundo FonteneleHá 2 semanas Barra do Corda Maranhão Mudou a casca, a superfície. O conteúdo é o mesmo, piorado. Afinal pensam que tecnicismo substitui a verdadeira educação, que mais que um simples ensino de matérias e disciplinas, deve ser a formadora do caráter e dos valores humanos mais primevos que não devem mudar jamais. Pois isso é perder a essência do ser.
ANTONIO GUIMARÃES DE OLIVEIRA Há 2 semanas São Luís Leitura e conhecer os escritores e clássicos da literatura nacional, é um dos caminhos.
JaimeHá 5 meses Brasília/DFPublicação magnífica. Aplausos de pé.
Renata da Silva de BarcelllosHá 5 meses Rio de JaneiroComo educadora, da area das literaturas, meus alunos leem Lima Barreto - inclusive discutimos suas obras nesta semana, Tb o Atheneu... Viriato Correa não é conhecido pelo Brasil, infelizmente. Conheci o autor e a obra Cazuza no grupo de estudo Gelma. Também será levado para sala de aula. Cada vez mais, as obras são atuais. A cada ano, a educação está com mais lacunas. A formação dos professores precisa ser reformulada urgente. Estamos em abril Mes dos povos originários Não se há capac
Juvenal LimaHá 5 meses Teresina PIMuito boa explanação e matéria jornalistica.
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