A Autora de "Olhos D'água": Conceição Evaristo é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Suas obras, em especial o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, abordam temas como a discriminação racial de gênero e de classe. A obra foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007. A autora do texto: Joizacawpy Costa, Formada em pedagogia, pós-graduada em psicopedagogia, professora atuante na rede municipal de São Luís MA, nasceu em Santa Inês MA, residiu até os 14 anos no município de Monção MA, mudou-se para São luís aos 14 anos, onde encontrou uma afinidade muito forte com esta cidade, autora do livro "ESSÊNCIA DE UMA ALMA", poesias e reflexões..
"OLHOS D’ÁGUA", de CONCEIÇÃO EVARISTO
Reflexões sobre. De Joizacawpy Costa
O livro "Olhos d’agua" de Conceição Evaristo nos impacta logo no primeiro texto, confesso que a leitura me ganhou na referência literária dessa grandiosa escritora e pela mensagem enigmática que ela traz no título.
Ao abrir o livro me deparei com a seguinte frase, “Minha mãe sempre costurou a vida com fios de ferro.” Ao ler essa frase senti na boca o gosto das lutas de muitas mulheres Brasil a fora, e ela traz essa mulher de várias faces com a marca de milhares de brasileiras excluída socialmente.
E Evaristo anuncia a história do conto “Olhos d’água” com um questionamento que estará presente durante toda narrativa, “Entre um fazer e outro me pegava pensando de que cor seria os olhos de minha mãe.”
Sem entregar de início o que está por vir ela acaba direcionando a nós leitores para “os olhos”, e logo de começo preparei-me para embarcar na dureza da história para minha surpresa me vi dentro de uma atmosfera de leveza no trecho que apresenta a mãe numa breve pausa de seu duro laboro para brincar com os filhos de pentear boneca, nessa magia imaginativa, a mãe era a própria boneca para a filha, ali para além do alivio da dureza diária, criava-se laços de afeto, marcas de amor.
E para enganar a fome nos dias de maior escassez ela brincava ainda mais com as filhas e assumia a posição de senhora, de rainha.
De repente Evaristo evoca a natureza e traz a mais perfeita das artes onde a contemplação do horizonte do céu lhes apresentava muitas formas, e esse acaba sendo um toque muito sensível na escrita da autora. A história vai tomando corpo e mostrando as fragilidades daquelas vidas, que buscavam formas de driblar a fome.
A filha segue a saga de lembrar a cor dos olhos da mãe que ficara pra trás, e impulsionada por uma insistente vontade de rever os olhos da mãe e finalmente poder contemplá-los. “A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água em águas de mamãe Oxum!”
Conceição remetendo seu texto para um presente vivo trava um novo desafio, descobrir a cor dos olhos da filha, finalizando com uma pergunta dessa filha, “ - mãe qual é a cor tão úmida de seus olhos?”
Por tanto nessa narrativa notamos a preponderância da cor dos olhos não literalmente como cor, mas a revelação das lágrimas de mulheres marcadas pelas dificuldades da vida numa sociedade tão desigual.
E assim Conceição Evaristo nos presenteia com uma escrita costurada com traços fortes e surpreendentes, usando uma metáfora muito forte e emblemática para trazer à tona, a dor das dificuldades de tantas mulheres de nosso país.
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Joizacawpy Muniz Costa 05/05/2024, especial para a Plataforma do Facetubes (www.facetubes.com.br)