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De Renata Barcellos: "(DES)Alfabetização: um fenômeno brasileiro?"

Renata Barcelos é convidada da Academia Poética Brasileira

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Renata Barcellos
13/06/2024 às 13h50
De Renata Barcellos: "(DES)Alfabetização: um fenômeno brasileiro?"
Renata Barcellos

 

 

                                                                         Renata da Silva de Barcellos (BarcellArtes)

No Brasil, a alfabetização ainda é uma grande entrave para que tenhamos uma educação de qualidade. Os resultados do Censo Demográfico 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica) e do  Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) são alarmantes ainda. No Brasil, cerca da metade dos alunos na faixa dos 7 anos não conseguem ler e escrever de uma forma minimamente adequada. Urgem mudanças na formação do professor!!!

Segundo Maria MORTATTI (poeta, escritora e professora titular na Unesp – Universidade Estadual Paulista. Licenciada em Letras, mestre e doutora em Educação, livre-docente em Alfabetização. Presidente emérita da Associação Brasileira de Alfabetização. Docente no curso de Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação – mestrado e doutorado – em Educação, contribuindo para a formação de milhares de professores e dezenas de pesquisadores. Autora de livros, capítulos e artigos sobre história da educação, alfabetização, ensino de língua e literatura e de livros de poemas e crônicas), de acordo com resultados do Censo Demográfico 2022 do IBGE, a taxa de alfabetização “aferida com base no critério de saber ler e escrever um bilhete simples – foi de 93%, e a de analfabetismo, de 7,9%. Esses resultados indicam avanços importantes: em relação ao Censo de 2010, houve queda de quase dois pontos percentuais no analfabetismo da população com 15 anos ou mais. Mas também evidenciam a persistência de dívidas históricas: são ainda consideráveis as diferenças na distribuição dessas taxas por regiões geográficas, classe social, etnia, raça e gênero. Recordando as palavras de Paulo Freire, alfabetização e analfabetismo não são problemas estritamente linguísticos, pedagógicos e metodológicos, mas envolvem aspectos mais amplos no âmbito político, social e educacional. Apesar das políticas públicas e iniciativas de entidades da sociedade civil, são muitos desafios a enfrentar para garantir o direito de cada cidadão brasileiro à leitura e à escrita –  não apenas de ‘um bilhete simples’ – , visando à construção de um projeto de nação mais justa e igualitária”.

Para que tenhamos um país mais justo e igualitário, urge educação de qualidade, para que a escola forme um cidadão pleno. Para isso, é preciso ser letrado e não apenas alfabetizado. Com o decorrer dos anos, outro termo surgiu: “letramento”. A pedagoga Amélia Hamze de Castro explica que “um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado”. Embora os dois conceitos sejam usados quase como sinônimo no Brasil, Hamze esclarece: “alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é aquele que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita”. O termo “letramento” chegou ao Brasil, através de especialistas das áreas de Educação e das Ciências Linguísticas, no fim da década de 80. Foi necessário distinguir  a condição daquele que sabia ler e escrever e não conseguia interpretar, compreender um texto.

Dessa forma, constatamos que alfabetizar e letrar são processos distintos, mas inseparáveis. As práticas sociais demandam cidadãos que saibam não apenas decodificar as palavras, mas também entender o que leem. Para alcançar esse ideal, o professor alfabetizador precisa reconhecer o significado de alfabetização e de letramento no processo de construção do conhecimento. Estamos diante de outra entrave: a formação deste profissional. Muitas vezes, ele não sabe a distinção desses conceitos e, nem mesmo, como se propõe atividades a fim de desenvolver a habilidade leitora e de escrita.

Conforme Francisca Izabel Pereira Maciel (Professora da Faculdade de Educação/UFMG Pesquisadora e diretora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita Coordenadora da pesquisa Alfabetização no Brasil, o estado do conhecimento), ao ler o Documento “Política Nacional de Alfabetização” (PNA), instituído pelo Decreto nº 9.765, de 11 de abril de 2019, a especialista verifica que: a Equipe de Especialistas Colaboradores foi composta por 21 membros: 13 especialistas cuja formação e atuação principal são na área da Psicologia, 2 na área da Linguística e 5 na Educação. “Aqui já sinto um certo desconforto. Nada contra as contribuições da Psicologia. Historicamente, as pesquisas dos programas de Psicologia foram, durante muito tempo, a principal área produtora de teses e dissertações sobre alfabetização no Brasil e trouxeram e continuam trazendo contribuições ao campo da Educação”. O que ela indaga é: “qual o lugar da educação, do fazer pedagógico, do alfabetizador e do alfabetizando em uma política nacional de alfabetização que traz majoritariamente o viés da psicologia e, dentro dela, a Psicologia ‘especialmente da ciência cognitiva da leitura?”.

Conforme o PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), foram produzidas no período de apenas cinco anos de 2013 a 2019: 363 pesquisas, 33 teses, 242 dissertações e 88 pesquisas em mestrados profissionais, sendo 95% em Programas de pós-graduação em Educação. É preciso que as pesquisas saiam dos muros universitários e sejam de conhecimento da sociedade. Urge capacitar os alfabetizadores. Esclarecer e conscientizar sobre os dados alarmentes. Isso quem tem propriedade é o pesquisador que se debruçou e chegou a um determinado resultado. Enquanto forem elaboradas pesquisas e estas não se tornarem públicas não há funcionalidade efetiva na sua realização. Hoje, temos recursos tecnológicos para eventos online, inclusive para ser assistido no tempo disponível pelo alfabetizador. Sugestão: através de recursos diversos, o pesquisador compartilhar os resultados de seu estudo.

Segundo a Secretária de Educação de Caxias (Maranhão), Professora Mestra Ana Célia P. Damasceno, o processo de alfabetização é “premissa basilar para a educação de todo e qualquer país. É a partir desse processo, que os sujeitos se apropriam do conhecimento e experienciam o desenvolvimento educacional. Em Caxias/MA, adotamos como proposta curricular e metodológica a pedagogia histórico-crítica que tem como princípios fundamentais a psicologia histórico-cultural, o materialismo histórico-dialético e o trabalho como princípio educativo. Com base nesses conceitos, as formações continuadas dos professores do município buscam promover a compreensão do processo de alfabetização e definir as formas de desenvolvimento do ensino e aprendizagens. Para a Secretaria de Educação de Caxias, o processo de alfabetização de crianças, jovens e adultos não é concebido de modo alheio à constituição do sujeito enquanto ser social. A escola é espaço específico e o chão da sala de aula é solo sagrado para socialização de saberes acumulados historicamente. Para que esse processo se realize a contento, são necessários organização, planejamento, atividades com objetivos bem determinados e, especialmente, dedicação por parte de todos que fazem a educação. Nas últimas pesquisas acerca da alfabetização, vimos que as taxas de analfabetismo no Brasil ainda se encontram altas e preocupantes; entretanto, há que se analisar um processo de descontinuidade na Educação, face aos programas e projetos federais que federalizam os municípios e não oportunizam, de fato e de direito, soluções para os problemas educacionais que se arrastam, historicamente, no país.

Enfrentando esses e outros desafios, buscamos construir um processo de alfabetização, observando as especificidades de cada comunidade escolar. Realizamos um trabalho contínuo, fomentado a partir de um currículo que auxilie os professores em suas práticas didáticas, de forma a agregar em seus planejamentos estratégias que oportunizem o ensino e as aprendizagens, buscando evitar as desigualdades e a evasão escolar”.

Concluimos com algumas sugestões de atividades: proponha leitura de gêneros e modos textuais diversos e adequados à  faixa etária e de temáticas diferentes para não só letrar como também levá-los a se conscientizarem sobre   importância e função social da leitura e da escrita no quotidiano. Utilize músicas de ritmos diferentes, pois trazem significado e “entusiasmo!” às palavras. Selecione notícias atuais de assuntos diversos para que os alunos se posicionem a respeito do tema tratado. Estimule-os!! Façamos a diferença!!!

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Milita FrancisHá 11 meses São PauloCorajosa
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