Por que quase ninguém lê os partícipes, em uma Antologia?
*Mhario Lincoln
Tenho pensado muito sobre essa questão das Antologias, muitas vezes de uma página só, para cada participante, como apresentada. E isso é um paradoxo intrigante. A beleza de uma Antologia reside na diversidade de vozes e perspectivas que ela reúne. No entanto, uma pesquisa da “Winstownd” revela uma realidade preocupante: a maioria dos poetas lê apenas suas próprias contribuições. Isso sugere uma desconexão entre a intenção dos organizadores de Antologias e a maneira como elas são realmente consumidas.
A Antologia, em sua essência, é um esforço de união e troca de ideias. Como o pensador Carlos Ruiz Zafón disse: “Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram, viveram e sonharam com ele”. No entanto, se os poetas se limitam a ler apenas suas próprias palavras, essa troca de ideias é interrompida. A Antologia se torna uma série de monólogos isolados, em vez de um diálogo coletivo.
Isso porque, quando as Antologias são discutidas coletivamente, elas se tornam verdadeiramente coletivas. A discussão e o debate sobre as ideias apresentadas em uma Antologia podem enriquecer a experiência de todos os envolvidos. No entanto, se 99% dos participantes entendem uma antologia como um livro individual de uma ou duas páginas, essa rica troca de ideias é perdida, repito!
Contudo, ainda acredito em mudança de mentalidade, a fim de levar a uma conscientização sobre a importância da leitura e do engajamento - sem a velha mania de olhar para seu umbigo. Afinal, como disse Sócrates, que trago para a mesa de discussões, neste instante, ensinou, “(...) a única verdadeira sabedoria está em saber que você não sabe nada”.
Destarte, ao ler e refletir sobre a produção intelectual do outro, poderemos aprender, crescer e, finalmente, nos tornar melhores escritores e leitores. Porque eu também cometi vários erros nesse sentido. Mas a partir da "Parnaso", coordenada por Silvana Cordeiro (1o. lugar do Concurso de Poesias da APB) e Osmarosman Aedo, premiado no mesmo concurso, ratificando esse pensamento logo em seguida, através da grandiosa Antologia da Academia Poética Brasileira, passando também pela "Celebrando a Natureza", as duas últimas coordenadas pela confreira Nauza Luiza Martins, notei como era importante " o ser coletivo". A última que li, foi da AMCLAM. Muita maturidade e talento. Aprendi bastante.
A partir daí, tenho vibrado com poesias novas, tão expressivas, exultantes, intensas, mas, que dantes, passaram sem a devida atenção, haja vista minha velha mania de ver, apenas o meu umbigo. Bom, vou aproveitar a carona para publicar um soneto (quase clássico), dos poucos que faço, e que Nauza Luza - a quem agradeço de público - usou para integrar-me à Antologia "Celebrando a Natureza".
Luar nosso do Sertão
Mhario Lincoln
No sertão a lua dança, brilhante e bela,
Com o céu por pano e estrelas aplaudem.
Ao meu lado, tu, a mais encantada donzela.
E na dança de amor, nossos corpos despem.
Cercados pela flora, com cheiro de Patchouli
Os pássaros entoam hinos de paixão.
A natureza inteira parece nos ver sorrir
Sob o apaixonante luar do nosso sertão.
E o rio límpido, fluindo sem cessar,
Espelha a lua de prata, em nosso refúgio divino,
Neste palco do sertão, nosso eterno aconchego.
Borboletas azuis, no céu da noite a flutuar,
Somos nós, amantes, sob o fugaz destino,
Que sempre nos fez ter esperança e sossego.
*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.
Mín. 17° Máx. 24°