A SAGA DE SAUDADES E RECORDAÇÕES
*Mhario Lincoln
Estava eu superansioso, mas, finalmente, neste final de semana, li com muito encanto o livro "Tempo & Memória", de Zélia Bandeira. Mais que uma obra, é uma jornada pelos recantos mais íntimos da vida e das lembranças da autora, organizada com carinho pela filha Silvânia Tamer.
O livro é um tesouro de recordações e afeto, onde cada poema é uma peça do quebra-cabeça da vida de Zélia. Nele, paisagens ambientais com passagens vibrantes da família, do amor, e das histórias que se entrelaçam incessantemente.
Foram vários momentos no livro que anotei. Um deles: a vida passa como "um carrossel girando". Fez-me voar por paisagens de alegria e dor, juventude e envelhecimento. Porém, com a certeza de que a cada giro, aparecem novas perspectivas e a certeza de que há conexão das experiências compartilhadas.
Também, destaco aqui um dos poemas que me chamou bastante atenção: "Saudade". Fala com carinho sobre a infância da autora, lembrando a casa onde cresceu, os campos onde brincava e os momentos preciosos com a família e uma pessoa especial, a irmã Maria, carinhosamente chamada de Marica. Essas memórias trazem felicidade e tristeza, pois são tempos que não voltam mais, mas permanecem vivos nos sonhos.
Já a vida bucólica é descrita como dura, mas gratificante, marcada pelo trabalho árduo durante o dia e pela comunhão à noite. As rodadas noturnas são momentos para compartilhar sentimentos, lembrar canções e dançar ao som da "lambada", ritmo original de algumas regiões do Norte do Brasil.
A música é um conforto, celebrando a vida simples e natural, onde cada elemento contribui para a beleza da narrativa, como se fosse um poeta pintando um quadro com suas palavras. A história de Zélia Bandeira é poderosa, evocando memórias dos pais com ternura, entrelaçando passado e presente e mantendo viva a chama do amor e da saudade.
Vale destacar ainda o livro como um álbum de família com fotos maravilhosas, mostrando a exemplar convivência com os filhos, descrita com uma doçura que transborda das páginas.
Isso ratifica o amor de Zélia pelo marido, um dos pilares da obra, revelado nos gestos diários e na cumplicidade silenciosa de anos vividos juntos. A autora acredita que seus filhos compreendem o valor do amor verdadeiro, que sustenta, cura e transforma. É uma afirmação sincera que ecoa em cada verso, uma prece para que as futuras gerações mantenham viva a chama do afeto e do respeito mútuo.
Posso afirmar que "Tempo & Memória" é um livro de amor pela família, amigos, e pela vida. É uma celebração das amizades, tensões e das recordações que nunca se apagam. A carta não enviada, descrita no poema "A Carta que Ficou", captura a essência da inocência e da saudade e, ainda, simboliza as muitas coisas que ficam por dizer. A simplicidade das narrativas, com toques pessoais e familiares, transforma os poemas em algo universal, permitindo ao leitor vivenciar os lugares descritos e sentir as emoções de cada palavra ou de cada "causo", contados nas páginas iniciais.
Enfim, o livro é mais do que um conjunto de poemas; é uma viagem romântica pelos tempos memoráveis da vida da autora, desde sua cidade natal, Imperatriz (Maranhão), até os anos felizes em Miracema (Tocantins) e Altamira (Pará). Ficou, assim, para mim, claro e evidente, a influência da doutrina espírita conferindo uma dimensão mística à narrativa, como se cada poema fosse uma psicografia das experiências vívidas. Zélia Bandeira nos deixa com a promessa de um segundo volume, onde novas histórias e memórias aguardam para serem compartilhadas.
*Mhario Lincoln, presidente da Academia Poética Brasileira.
A Poesia sentimental e verdadeira
(Zélia com Ribeiro, o marido)
Amor correspondido
ZÉLIA BANDEIRA
Ohl grande astral, silencio e meditação
E uma paz muito grande invade o coração
Os meus olhos te seguem pelo espaço infinito
Ficando comigo o eco do teu último grito
Essas folhas secas caídas no chão
São versos que escrevo a você meu maridão
Quando tudo é tristeza treva e escuridão
Só você meu amor é um verdadeiro clarão
O amor correspondido é de beleza sem igual
Pois nunca envelhece, é sempre jovial
Eu quero sol, água e vento
Também quero você no meu pensamento
Eu quero correr, cantar, saltar,
E depois de tudo nos teus braços me jogar
Eu quero, eu quero, eu quero e não sei como dizer,
Eu quero, eu quero, eu quero teu narizinho morder
Ribeiro meu amor, minha vida, minha paixão
Adoro você de todo meu coração
Gosto muito de você, a sua ausência é um tormento
De dia e de noite não sais do meu pensamento
Quero viver para te amar,
Morrendo te perdoar
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